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A Mente Revolucionária (parte VI): influências marxistas sobre Hitler

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O jornalista e historiador alemão, Joachim Fest (1926 – 2006), autor da mais respeitada e consistente biografia de Adolf Hitler (1889 – 1945), destaca um trecho em que o Führer alemão admite sua relação com o marxismo e que comprova que as ideias de Marx serviram-lhe como inspiração, em alguma medida:

“Muito aprendi do marxismo. Confesso-o sem meias palavras. […] seus métodos me instruíram. […] Os novos métodos utilizados no combate político foram inventados, essencialmente, pelos marxistas. Só tive mesmo que tomá-los de empréstimo e burilá-los para dispor de quase tudo o que nos fazia falta.”

É evidente que Adolf Hitler não foi um marxista ortodoxo, seguidor do que entendemos por socialismo científico – e o texto acima deixa isso claro. É inegável, outrossim, que o marxismo influenciou em muito o Führer tanto na construção do nazismo enquanto partido como durante o  exercício do poder, em sua governabilidade. Lenin, precisamos lembrar, também não foi marxista ortodoxo; os mencheviques estavam mais próximos do ideal de Karl Marx.

O fato inegável – e que macula a estrutura da narrativa dos historiadores de esquerda – é que, assim como Lenin, Hitler arquitetou seus projetos revolucionários nos ideais de Marx (e o texto acima escrito por Hitler também deixa isso claro). Os dois revolucionários tiveram suas peculiaridades, é verdade. Aliás, Hitler também leu a obra de Lenin e inspirou-se em muito no bolchevismo.

Hitler usou o marxismo como lhe convinha (o que também consta no trecho acima escrito pelo Führer), assim como Lenin (o russo foi mais próximo no alvo inimigo, que, de acordo com Marx, era a classe burguesa; Hitler viu no judeu seu inimigo). Foi Hitler quem disse que inspirou-se no marxismo; logo, negar que Hitler sofreu influência marxista é bater de frente com o fato histórico, pois 1) Hitler, como lemos no primeiro parágrafo do texto, admite a influência da obra de Marx e, além disso, 2) o conjunto de elementos que caracterizam o partido nazista e suas ações nos remetem ao marxismo. As ideias de Marx, portanto – e pode-se afirmar seguramente -, serviram como uma luva ao plano revolucionário e totalitário de Hitler. O nazismo cheirava a marxismo.

A esquerda, por sua vez, sempre jogou no colo da direita essa bomba que foi o nazismo. E aqui não vou afirmar – como já publiquei em meu livro A Filosofia do Fracasso (2020) – que o nazismo é filho da esquerda, pois hoje creio que há elementos para os dois lados, direita e esquerda (ainda que tendendo mais à esquerda). Assim, pode-se dizer que o nazismo foi um “Frankenstein ideológico”; uma aberração totalitária.

Porém, Hitler bebeu das fontes marxistas. Isso é inegável. Documentos de seu próprio punho atestam, como o texto acima e já citado. Se Hitler foi um nacionalista, e é verdade, também foi um anticapitalista. O Führer era contra o lucro das empresas, que eram controladas pelo estado (o que produzir, em que quantidade e com que preço vender). Hitler também foi contra a liberdade individual e a favor do estado grande, que controlou a economia de cima para baixo e aboliu a propriedade privada (de fato, mesmo que não de jure). Além disso, foi coletivista, desarmamentista e extinguiu a imprensa (o estado se apropriou dos meios de comunicação). Para fechar a cartilha marxista com chave de ouro, Hitler usou o conhecido e prático método nós-contra-eles para fins políticos. Ou seja: todos contra os “inimigos” judeus.

Não é clichê falar sobre totalitarismo. Antes, pelo contrário, precisa-se abordar com mais frequência essa temática tão importante. O mundo está repleto de déspotas que aguardam uma chance de implementar seus projetos totalitários. Winston Churchill (1874 – 1965) chegou a afirmar que, se Hitler tivesse morrido em 1938, ficaria na história como um estadista respeitado na Europa. Suas barbáries vieram à tona bem depois disso. Daí a ideia desta pequena série de textos sobre a mente dos revolucionários.É muito fácil nações caírem na rede de déspotas, que, com seus discursos populistas, seduzem o homem, explorando sua cobiça, assim como fez Mefistófeles na obra Fausto (1808), de Goethe (1749 – 1832). Quando isso ocorre e um país cai de joelhos para um governante revolucionário, as proporções de estrago são imensuráveis – e às vezes irreversíveis. Desconfie sempre!

Neste texto (como na maioria dos que escrevo), de forma alguma busco esgotar o tema. O objetivo é instigar, provocar o leitor a fazer questionamentos sobre o nazismo e sua origem e métodos, bem como sobre a formação das ideias de Hitler.

Não raro, as narrativas predominantes sobre o nazismo contêm distorções de conveniência, o que as coloca sob o guarda-chuva do problema abordado no segundo texto desta série: a licenciosidade dos revolucionários. Tudo passa pela moral. Não é, pois, sem razão que o escritor francês Gustave Flaubert, conhecido sobretudo por sua obra Madame Bovary, escreve o seguinte em uma de suas cartas de correspondência: “Há tantas pessoas cuja alegria é tão imunda e o ideal tão limitado, que devemos bendizer nossa infelicidade, se ela nos faz mais dignos”.

 *Fest, Joachim C. Hitler/Joachim C. Fest; tradução Analúcia Teixeira Ribeiro… [et al.]. – 2.ed. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005 2v.*
 *Flaubert, Gustave, 1821 – 1880. 2 ed. Cartas Exemplares/ Gustave Flaubert; tradução de Carlos Eduardo Lima Machado. – Rio de Janeiro: Imago Ed., 2005.*

*Zimmer, Ianker. A filosofia do fracasso: ensaios antirrevolucionários/Ianker Zimmer. Maringá: Viseu, 2020.

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Ianker Zimmer

Ianker Zimmer

Ianker Zimmer é jornalista formado pela Universidade Feevale (RS) e pós-graduado em Ciências Humanas: Sociologia, História e Filosofia pela PUCRS. É autor de três livros, o último deles "A mente revolucionária: provocações a reacionários e revolucionários" (Almedina, 2023).

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