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Por que grande parte dos refugiados ucranianos escolheu a Polônia?

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A agressão russa à Ucrânia vem causando a maior crise de refugiados da história da Europa. De acordo com a BBC, 3.6 milhões de pessoas já deixaram o país, sendo a Polônia o principal destino das inúmeras mulheres e crianças que fogem do terror russo: cerca de 2,3 milhões escolheram o país vizinho. Além da proximidade, há outros motivos, como o acolhimento que eles têm recebido dos poloneses – o que é talvez um pouco inesperado, haja vista o histórico entre ambos.

Ao contrário da Polônia, os ucranianos não conseguiram uma independência estável no período entre guerras. Embora tenham conseguido criar dois estados independentes de fato, logo após a Primeira Guerra Mundial, eles não duraram muito. A República Popular da Ucrânia (1918-1920) foi derrotada pelos bolcheviques, a República Popular da Ucrânia Ocidental (1918-1919) pelos poloneses. Como resultado, quatro a cinco milhões de ucranianos acabaram submetidos ao controle polonês, que não tratou a oposição ucraniana ao seu comando com gentileza e sim com prisões e torturas.

Tal situação durou até o início da Segunda Guerra Mundial. Em 1943, quando o povo polonês e o povo ucraniano estavam sob a ocupação da Alemanha, combatentes nacionalistas do Exército Insurgente Ucraniano (UPA) assassinaram brutalmente até 100.000 poloneses nas regiões de Volhynia e Galiza. Em resposta, dois anos depois de estabelecer o estado comunista da Polônia (1947), os poloneses executaram a “Operação Vístula” – exilando à força mais de 140.000 ucranianos étnicos das partes do sudeste do país. As autoridades justificaram isso como um ato de vingança pelas atrocidades ucranianas nos anos anteriores.

Difícil imaginar que esses dois povos estariam cooperando. Seria por causa de uma situação de guerra, talvez? Não, porque tal cooperação não surgiu de agora.

A Polônia sempre foi um destino bastante popular entre os expatriados ucranianos, sendo o país da UE mais próximo e mais facilmente acessível para eles. Depois que a Rússia invadiu a Crimeia em 2014, os níveis de migração ucraniana para a Polônia dispararam. De acordo com os dados do Serviço de Pessoal citados em um artigo polonês, existiam antes da guerra cerca de 900.000 ucranianos legalmente empregados na Polônia e, acreditava o autor, tal número poderia chegar a 3 milhões. Com a invasão de Moscou, a previsão se mostrou acertada.

Mas por que os ucranianos escolheriam justamente a Polônia? O país é conhecido por baixos salários, desemprego e um alto nível de burocracia, que fizeram com que vários milhões de poloneses emigrassem, principalmente para o Reino Unido e a Alemanha. O motivo óbvio são os salários: até antes dessa guerra, a média salarial na Ucrânia era de 262 dólares mensais, contra 934 na Polônia (2018). Tal imigração é um excelente negócio também para os poloneses.

“Sem os ucranianos, haveria uma catástrofe absoluta”, disse Cezary Kaźmierczak, chefe da União Polonesa de Empresários e Empregadores. O mercado de trabalho polonês é fortemente dependente de trabalhadores da Ucrânia, que representam cerca de 5 a 6 por cento de todos os funcionários do país (antes da guerra). Além disso, foi-se o tempo em que os ucranianos ocupavam apenas os empregos mais difíceis e com pior remuneração. De acordo com Paweł Piwowar, por serem considerados funcionários dedicados e qualificados, o mercado abriu mais oportunidades e com melhores remunerações para eles.

E o que a Polônia (e também outras partes da Europa) poderiam fazer para alocar os milhões de refugiados? Gostaria de apresentar para vocês o conceito de “Cidades de Refugiados”.

O formato funciona mais ou menos assim: primeiro, a Polônia (ou a UE) criaria uma Zona Econômica Especial (ZEE) perto de um campo de refugiados. A ZEE terá incentivos para facilitar os negócios – como incentivos fiscais, leis trabalhistas menos restritivas, isenções de controles de moeda e outros. O objetivo seria incentivar as empresas a contratar refugiados e gerar crescimento econômico, aumentando as liberdades econômicas.

O governo da Jordânia já criou uma ZEE para criar empregos para refugiados sírios. O programa recebeu apoio significativo da comunidade internacional, com instituições financeiras de desenvolvimento contribuindo com mais de US$ 1,7 bilhão. A monarquia do Oriente Médio anunciou em 2016 que esperava que suas ZEEs criassem 200.000 empregos para refugiados até 2021; no entanto, em 2022, apenas 80.000 empregos se materializaram. Motivo do sucesso incompleto? De acordo com os críticos: (1) a infraestrutura nas zonas de refugiados é geralmente de baixa qualidade, (2) os incentivos não são suficientes e que, (3) sem programas adequados de treinamento profissional, as zonas só podem funcionar como campos de trabalho de baixos salários.

Conforme escrevi nos parágrafos anteriores, o problema 3 não chega a ser um problema. A questão 2 dá para contornar, pois há dinheiro para refugiados, como, por exemplo, a iniciativa “Cidade Solidária” – um programa da UE que, de uma maneira bem resumida, financia as cidades que os recebem. Além disso, o Banco Mundial iniciou um fundo de US $2 bilhões para apoiar os países hospedeiros de refugiados. O ponto 1 também não me parece grave, haja vista que a Polônia e a UE têm uma excelente infraestrutura – pelo menos bem melhor que o Oriente Médio.

No mais, recomendo que soldados russos que se rendam sejam agraciados por esse programa para refugiados. É preciso dar incentivos para que os russos se rendam para que, assim, a guerra acabe mais rápido.

*Artigo publicado originalmente por Conrado Abreu na página Liberalismo Brazuca no Facebook.

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