Ano de Copa do Mundo, véspera de eleições presidenciais, Lula com grandes perspectivas nas pesquisas de intenção de voto e crises no Brasil e no mundo no passado recente. A breve descrição pode ser facilmente aplicada ao nosso presente, no ano de 2022, porém também se adequa perfeitamente ao ano de 2002, portanto, 20 anos atrás. Duas décadas separam dois momentos distintos da história brasileira cujas similaridades, infelizmente, estão longe de serem apenas coincidências.

Em 2002, o povo brasileiro comemorou, pela quinta vez, um título de sua seleção de futebol no mundial da Fifa. Tal ano também marcou a eleição de LuisInácio “Lula” da Silva para o seu primeiro mandato como presidente da república. Àquela altura, o mundo ainda se recuperava de algumas crises a nível global, como o estouro da bolha da internet, no início dos anos 2000, e os atentados terroristas de 11/09/2001, que marcariam o início de uma nova série de guerras dos EUA no Oriente Médio.Voltando para o contexto brasileiro, o governo de Fernando Henrique Cardoso, anterior de Lula, ficou marcado pela consolidação do Plano Real, estabilização da inflação e privatizações de companhias estatais. Entretanto, um ponto negativo digno de destaque em seu governo foi o fraco crescimento econômico. Ao longo da década de 1990, durante a qual FHC teve a maior parte de seus dois mandatos, o Brasil cresceu, em média, 2,6% ao ano, muito abaixo de décadas anteriores, com médias sempre superiores a 4% ao ano.

Ao voltarmos para 2022, é possível traçar paralelos com o cenário vivido duas décadas atrás. Além de ser um ano com um novo mundial da Fifa no calendário, voltamos a ver o agora ex-presidente Lula retornar à candidatura para o cargo máximo do Poder Executivo. Também vivenciamos um cenário pós-crise econômica, ocasionado pela pandemia da Covid-19, além de termos um novo conflito armado, dessa vez entre Rússia e Ucrânia. Quando analisamos o crescimento da economia brasileira, uma nova similaridade com 2002: a última década apresentou um desempenho pífio, ainda pior do que o ocorrido nos anos 1990. Entre 2011 e 2020, o Brasil apresentou um crescimento médio de apenas 0,3% ao ano. Para que fique bem claro: nossa economia ficou completamente estagnada no período. Ainda que pesem os efeitos da pandemia em 2020, nos anos anteriores, apenas em 2011 o Brasil apresentou crescimento igual ou superior a 4%. Nos demais, todos os avanços registrados foram abaixo dessa marca, passando até mesmo por um período de crescimento negativo entre 2015 e 2016.

Em 120 anos de apuração do PIB brasileiro, a década iniciada em 2011 teve o pior desempenho dentre as demais, estando atrás, inacreditavelmente, até mesmo da década de 1980, marcada pela hiperinflação que quase levou o país ao colapso. Os vinte anos que separam 2002 de 2022 começaram de maneira promissora, com o Brasil sendo apontado como um dos países do futuro – como não esquecer da capa do jornal “The Economist”, que apresentou a estátua do Cristo Redentor pronta para decolar? – porém, tomaram um rumo completamente oposto. Após uma série de medidas fracassadas e sucessivos escândalos de corrupção, ocorridos nos governos Lula e Dilma Rousseff, o Brasil entrou em uma longa estagnação.

Então, não devemos nos enganar: apesar do ar nostálgico de algumas das coincidências entre as duas datas, a história nos mostra que há motivos em demasia para a preocupação. Ainda que o atual governo seja reeleito, o atual cenário de inflação, políticas populistas e baixo crescimento da economia, somado ao histórico recente, demonstramuma nova tendência para mais uma década perdida.

Gabriel Rodrigues Barbosa – Associado I do Instituto Líderes do Amanhã.