Os donos da rua
As manifestações iniciadas em junho do ano passado explicitaram níveis de insatisfação geral nunca antes na história democrática deste país, demonstrados. O povo, até então cordial, saiu às ruas exigindo mudanças diversas. O estopim foi um aumento de vinte centavos na tarifa de ônibus. Na pauta múltipla dos andarilhos indignados predominou o cansaço com a política, também, do rouba, mas promete que faz.
A anomia política foi substituída pela indignação. Teorias múltiplas, acerca das manifestações, foram rapidamente apresentadas. Atônitos, os governantes das mais diversas bandeiras pretenderam dialogar. Com quem? Nós, o povo brasileiro? Como, se sentíamos que nossos eleitos não nos representavam.
Impostos crescentemente escorchantes patrocinavam obras faraônicas, mensalões, vantagens dignas de marajás e precários serviços sociais. Promessas providenciais vazias pretenderam calar a massa que desta vez não era a de manobras. Nada mudou.
Algumas bandeiras consideravam-se porta vozes dos movimentos sociais. Atônitas pretenderam até mesmo falsificar o desejo de constituição de um Brasil, a ser pelos governistas apresentado. Não conseguiram. Tiveram de assistir a sociedade em movimento, patrocinada por sua própria indignação e, portanto, dona de sua própria ideologia, a ocupar até mesmo o Congresso Nacional.
Incontroláveis, as ruas necessitavam ser esvaziadas. Se em um regime democrático, só se pode utilizar o cassetete com moderação, era necessária a adoção de uma velha nova tática para calar a sociedade em desordem. Precisaram incendiar as avenidas por onde antes transitavam ideias, explodindo as vitrines do passeio democrático. A polícia, acuada, mal podia defender-se dos petardos ideológicos. Apanhava. Detida, por barricadas, a liberdade fora convertida em licenciosidade e o povo desertou, pois não se identificava com a turba.
Não bastava mais apenas reescrever a história nacional, desprestigiar as forças policiais e dividir a sociedade em grupos desejosos de serem os agraciados com as benesses estatais. Foram também contratadas negras milícias que, em blocos de incógnitos, espalhavam a baderna, enquanto ansiosamente aguardavam sua primeira baixa, para então bradarem: nós as vítimas.
A morte, já esperada, veio. Atingido, pereceu um trabalhador e, rapidamente, nomearam-se os algozes. Mas ao chamarem à ordem os culpados, a verdade, como que por uma fada revelada, denunciou que o pretendido era a falsificação de um novo brasileiro.
Às ruas! Que voltem a ser ocupadas as nossas ruas, ainda que para o livre trânsito nosso, dos seus legítimos donos, os verdadeiros cidadãos.
Caríssima Patricia,
Prefiro, sinceramente, que as pessoas se manifestem em textos, correspondências e e-mails aos políticos, e, principalmente, pelo voto. Prefiro que os formadores de opinião desçam do pedestal e expliquem as questões de forma simples e direta – aliás, Milton Friedman era um gênio nessa arte. Prefiro, com todo o respeito, que os cidadãos consigam voltar às suas casas para o repouso merecido após um dia de trabalho.
Os pagadores de impostos (detesto a palavra “contribuintes”) não suportam passeatas sucessivas que criam um caos na cidade. Como dizia Roberto Campos, “o respeito ao criador da riqueza é o começo da solução da pobreza”. Vale aqui um esclarecimentos toda a parcela produtiva da população é criadora de riquezas (empresários e empregados).
Reclamar por reclamar, com uma pauta que demanda mais intervenção estatal é o caminho certeiro para o fracasso completo do Brasil. Gostaria de ver o povo defender, como atualmente na Venezuela, menos estado. A famosa frase de Reagan não poderia ser melhor: “o estado não é a solução; o estado é o problema”.
Abraço,
Leonardo Corrêa