Estratégia e tática para os médicos brasileiros

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DR. MILTON PIRES *

Disse certa vez Descartes que acreditava que o “bom senso devia ser a coisa mais bem distribuída já feita por Deus, visto que todos pensam que o possuem”. Acreditando que Nosso Senhor não teria porque me privar de uma certa dose dele, inicio estas linhas atendendo ao pedido que me foi feito no sentido de expressar o que penso sobre a necessidade de renúncia do presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM) bem como dos respectivos representantes regionais (CRM’s).

Digo que, uma vez provocada minha manifestação, só poderia me negar a fazê-la por três motivos: não poder expressá-la, não querer expor o que penso, ou não saber como executá-lo.

Na primeira linha suspeitava eu que tinha algum bom senso e dos três motivos que apontei agora para uma eventual omissão, não encontro na minha consciência o menor resquício. Lembro que os mais cautelosos poderiam ainda me aconselhar prudência e pedir para não revelar aos inimigos aquilo que guardo no meu íntimo por uma questão “tática”. Poderia eu amparar-me em Maquiavel quando esse perguntava: “Por que te contarei a verdade, já que seremos inimigos?” Respondo à Maquiavel que não tinha ele noventa e três mil colegas mantidos como tolos e devidamente calados num certo grupo das redes sociais.

Inicio definindo o objetivo, a estratégia e a tática que devem, ou deveriam nesse momento, orientar os médicos brasileiros no enfrentamento com o Governo Federal. Do nosso objetivo, pouco há o que dizer. Resume-se em afirmar que não existe particularidade alguma naquilo que desejam os verdadeiros médicos brasileiros com relação ao que querem todos os cidadãos de bem deste país – o fim da ditadura petista e o seu fracasso nas eleições de 2014. Perda de tempo seria justificar essa minha posição pois sobre isso acredito escrever para dois tipos de leitores – os que não precisam ler essa afirmação (pois já estão convencidos) e os que não querem ter contato com ela (pois já tem firme opinião contrária). Resta, pois, dizer quais as estratégias e táticas para que esse objetivo, uma vez definido, seja alcançado.

“A estratégia sem tática é o caminho mais lento para a vitória; tática sem estratégia é o ruído antes da derrota”. Embora bela, a frase de Sun Tzu não diferencia uma coisa da outra e é bem lembrado afirmar que a estratégia pode ser compreendida como a elaboração de um planejamento. A tática faz parte da implementação da estratégia definida, ou seja, fazer os movimentos corretos para atingir a estratégia escolhida.
Estabelecido o que escrevi acima, afirmo que deve ser o objetivo dos médicos e do povo brasileiro que o governo petista não seja reeleito em 2014, defino como estratégia a ser buscada o fracasso total do Programa Mais Médicos e aplico como tática a não colaboração e a não submissão do CFM à Medida Provisória assinada pela presidente Dilma Roussef.

Mudo agora minha linguagem e me dirijo a vocês em termos militares: nada há de mais nocivo a um exército do que a perda da sua moral. Declaro não existir movimento médico algum no Brasil enquanto não houver enfrentamento total contra o governo e que o caminho para isso deve ser a renúncia do presidente do CFM e de todos os conselheiros regionais. Nada há que ser relativizado nem pesado. Não se enganem aqueles que pensam que tal atitude criaria um vazio, uma espécie de espaço institucional a ser ocupado por militantes petistas dentro dessas autarquias. Esse perigo não existe mais – eles já estão lá! Cabe agora uma atitude honrada que permita mostrar, não só a população como aos próprios médicos que eles – como classe e oficialmente – não vão se submeter à tamanha humilhação. Insisto haver na renúncia um ato de sacrifício e de dignidade médica verdadeira – não essa das redes sociais – que há de marcar duramente o governo, a população e os próprios médicos que hoje tem, dentro da nossa classe, a ralé que trabalha pelo seu fim.

Além da falta de moral lembro também que lutamos contra o PT uma guerra chamada assimétrica, um tipo de enfrentamento que Olavo de Carvalho definiu brilhantemente da seguinte maneira: “guerra assimétrica consiste em dar tacitamente a um dos lados beligerantes o direito absoluto de usar de todos os meios de ação, por mais vis e criminosos, explorando ao mesmo tempo como ardil estratégico os compromissos morais e legais que amarram as mãos do adversário”

Lembrem-se do conceito acima quando lerem nos jornais dominados pela mídia petista àquilo que tem sido dito a respeito do caráter da classe médica brasileira. Tenham isso como exemplo clássico de uma tática infalível no que se refere à estratégia de imobilização moral e a capacidade de defesa das entidades médicas. Tal artimanha só pode ser evitada pela recusa da colaboração, pela ausência num terreno de luta escolhido pelo próprio inimigo e onde os médicos brasileiros hão de ser sempre esmagados perante a opinião pública.

Submetam, senhores conselheiros regionais o seu orgulho como médicos! Pense, senhor presidente do CFM, na história da medicina brasileira e siga o exemplo recente que nos vem de Curitiba. Não tenham com isso a ilusão de covardia nem acreditem que vem pela frente o pior, pois o pior já chegou. Trata-se agora de não justificá-lo …de não legalizá-lo e nem, numa linguagem popular, “dar-lhe o gostinho” de saber que nos venceu pois isso há de ser, na história da nossa profissão, a “pá de cal” a ser lançada por um governo que nos toma por inimigos mortais.

Peço aos senhores que considerem com cuidado o que escrevi. Agoniza a nossa profissão…essa ainda pode ser a sua última esperança – saiam dos Conselhos e entrem para História!

* MÉDICO EM PORTO ALEGRE

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