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“We’re all keynesians now”: por que Friedman disse isso?

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De vez em quando me perguntam se de fato o Professor Milton Friedman – sem dúvida, um economista liberal e que sempre foi contra o intervencionismo do governo – disse ou escreveu essa frase que se tornou famosa. Não seria ela irônica? Se não foi ironia, por que então ele a teria dito ou escrito?

Por curiosidade, tentei pesquisar esse “enigma transcendental” (modo irônico) e verifiquei que a primeira vez que apareceu essa declaração a ele atribuída foi na revista Time Magazine, em um artigo de 1965, no seguinte parágrafo:

“As Keynes might have put it: Keynesianism + the theory of growth = The New Economics. Says Gardner Ackley, chairman of the Council of Economic Advisers: “The new economics is based on Keynes. The fiscal revolution stems from him.” Adds the University of Chicago’s Milton Friedman, the nation’s leading conservative economist, who was Presidential Candidate Barry Goldwater’s adviser on economics: “We are all Keynesians now.”  “. [Time Magazine, sexta-feira, 31 de dezembro de 1965]

Teria o jornalista escrito essa observação fora de contexto? A verdade é que não dá para afirmar sim ou não, mas que tal especularmos um pouco?

Em 1963, Friedman já havia publicado A História Monetária dos Estados Unidos (com sua aluna Anna Schwartz) e outras obras críticas, que apontavam erros no lado da demanda, no da oferta e no monetário do modelo keynesiano. Sabemos, então, que Friedman, em 1965, já era bastante conhecido como defensor radical do liberalismo econômico.

Portanto, é bem possível que tenha feito essa observação ao repórter em tom de ironia, em resposta a Gardner Ackley, um conhecido economista keynesiano, autor de um manual de Macroeconomia então bastante utilizado, que era assessor do presidente Lyndon Johnson, do Partido Democrata.

Mas o “estado das artes” naquela época era tal que, embora bastante crítico a Keynes e seus sucessores, Friedman, em suas críticas ao keynesianismo, valia-se do arcabouço teórico do próprio modelo keynesiano, que, aliás, na década de 1960 já estava debaixo de fogo cerrado ( e em meados da década de 1970 atingiu o estágio de quase total descrédito.

É possível, então, conjecturar que Friedman estava se referindo ao fato de que, em um período em que o modelo keynesiano, bastante popular desde os anos 40, já estava sendo posto em cheque pela academia, seus oponentes (como ele próprio) ainda precisavam, se quisessem ser entendidos, apresentar suas objeções em linguagem keynesiana. Ou seja, a ironia consistia em afirmar que mesmo os adversários de Keynes tinham que se tornar “keynesianos” para expressar suas objeções de forma convincente.

Isso, infelizmente, prevalece até hoje, seis décadas depois da frase, pois as aulas de economia e a estrutura da macroeconomia nas faculdades ainda são frequentemente apresentadas pelos professores por meio do modelo keynesiano, que, embora precário e equivocado, é de apresentação gráfica e jornalística simples. Por incrível que possa parecer, não apenas jornalistas, mas também economistas, quando falam entre si, não raramente ainda recorrem ao vocabulário e às hipóteses simplistas do modelo keynesiano.

Com os economistas austríacos não é diferente: para que sejam entendidos, é frequente precisarem recorrer à “linguagem” da mainstream.

A frase de Friedman era usada também pelos keynesianos como um argumento, sugerindo que seu método era universalmente endossado pelo mundo acadêmico e creio que não estavam errados.

Por fim, é preciso reconhecer que Friedman também apresentou alguma ambivalência na forma de manifestar o seu pensamento ao longo do tempo, particularmente depois que seu ceticismo em relação à teoria monetária de Keynes o fez introduzir as expectativas adaptativas no modelo keynesiano, assumindo postura ainda mais crítica ao mesmo.

Na verdade, não se sabe nem quem primeiro disse a frase, se Friedman, ou se ele estava se referindo a algo já de uso acadêmico comum.

Ubiratan Jorge Iorio é economista, professor e escritor.

 

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