“Defendeu o patriotismo e declarou por diversas vezes amor ao Brasil, até os últimos instantes, mas era um amante que lutava o tempo todo contra – e, por paradoxal que pareça, ao mesmo tempo com – seu amado.

Enfrentou todas as tendências prevalecentes, as forças mais vigorosas do poder, os regimes e governos vencedores.

Sequer quando venceu conseguiu cessar de estar em guerra. Era um espírito de vicejante e incontida insubmissão, uma fortaleza natural de combate e resistência.

Queria sempre mais, para si e para os outros; não tinha a vocação do conformismo e da aceitação. (…)

O lacerdismo foi uma luta inglória e ansiosa contra o colorido prático e ideológico que deformava as esperanças brasileiras por uma democracia liberal autêntica, ancorada nos valores que poderiam sustentá-la.

Era um protesto contra instituições imaturas e demagogias mal disfarçadas. Nesse sentido, Carlos Lacerda, inegavelmente corajoso – inegavelmente, é claro, para qualquer analista honesto -, disposto a encarar criminosos em uma rebelião prisional, a defender pessoalmente o palácio de seu governo, a desafiar grupos capazes de atentar contra a sua vida e que por mais de uma vez poderiam tê-lo matado, como o icaro que não temia a morte ao devassar as alturas desconhecidas, foi um líder decisivo.” (Trechos do último capítulo de meu livro “Lacerda: A Virtude da Polêmica”, pela LVM Editora, p. 298-299)