Sobre o “Homem Cordial” de Sérgio Buarque de Holanda
Sérgio Buarque de Holanda foi um pioneiro do estudo sociológico no Brasil ao trazer a análise sociológica weberiana e publicar seu magnum opus, Raízes do Brasil.
Neste livro, Sérgio criaria a expressão que ficaria eternizado na história brasileira, o “Homem Cordial”.
Até hoje a expressão é deturpada por doses de otimismo de brasileiros que tendem a ver positividade em tudo, associando a tal “cordialidade” a uma propensão à harmonia de diferenças e à não-violência, noções que facilmente se derrubam por apenas observar o ambiente brasileiro ao nosso redor.
O Homem Cordial de Sérgio Buarque era uma crítica melancólica à característica do indivíduo que se refletia na sociedade e que se explicava pela própria etimologia da palavra.
Cordial vem do latim, da mesma raiz que deriva a palavra coração, e é uma característica geralmente atrelada ao sentimentalismo, que povoa o brasileiro na hora de tomar decisões, tratando de negócios públicos com o coração, como se fossem um problema pessoal, e tentando evitar a todo momento o envolvimento público de uma solução social.
Tal sentimentalismo seria o cerne do patrimonialismo, clientelismo e do “familismo”, que segundo ele, seria o que motivaria a existência de uma pedra no caminho de uma sociedade democrática, pois vivíamos sobre a influência de uma elite despótica e autoritária de mentalidade colonial que emperrava os avanços da vida pública.
O livro não se trata de nenhuma grande obra atual, foi publicado originalmente em 1936; mas a precisão e detalhamento de características pertinentes que até hoje se refletem na sociedade brasileira o tornam uma obra de consulta fundamental para compreender o Brasil.
Ainda hoje somos aferidos por defesas de práticas despóticas que bem lembram o período conhecido como “Despotismo Esclarecido” por parte relevante da sociedade, que sempre coloca em xeque a posição da democracia no cenário institucional e fomenta dúvidas sobre a mesma, preferindo a tutela da sociedade por parte de uma pessoa ou grupos de pessoas de um determinado segmento.
O Homem Cordial brasileiro é aquele que consegue desprezar noções iluministas de justiça por fazer avaliações partindo de pressupostos pessoais, acreditando que punições absolutistas diversas sejam a “verdadeira justiça”.
*Artigo publicado originalmente na página Liberalismo Brazuca no Facebook.