Posso desagradar a muitos com o que direi, mas, a meu ver, toda critica deve ser devidamente dosada, responsabilizando efetivamente a quem de direito na exata medida em que merece.

Podemos responsabilizar o próprio Lula por só se interessar por exibicionismos e demonstrar profunda insensibilidade ao comentar sobre futebol em sua chegada ao Rio Grande do Sul.

Podemos responsabilizar as Forças Armadas quando propagandeiam ações no show de Madonna enquanto prestam ajuda limitada aos gaúchos.

Podemos responsabilizar Eduardo Paes e Cláudio Castro por destinarem recursos estatais, do orçamento da cidade e do estado do Rio de Janeiro, em um total de 20 milhões de reais, para compor os gastos do show de Madonna aberto ao público no Rio em ano eleitoral (embora a maior parte do patrocínio tenha sido privada; o show custou 60 milhões, sendo 17 deles o cachê da cantora), pelo fato de estarem direcionando parte dos impostos do cidadão fluminense e carioca para algo em que a população não terá interesse ou apreço como um todo em vez de diretamente para as vulnerabilidades da região.

Podemos responsabilizar a própria Madonna e sua equipe por fazerem um show vulgar e afrontoso a uma parcela de nossa sociedade (forçada a bancá-lo), repleto de
“lacrações” e exaltações a comunistas como Che Guevara e Paulo Freire. Podemos e devemos – todas essas críticas são válidas.

Não podemos, porém, por mais graves que sejam os fatos e por mais que eu compreenda o impacto da infelicidade de as duas coisas se darem ao mesmo tempo, atribuir qualquer responsabilidade à cantora Madonna ou ao seu show pelos desastres no Rio Grande do Sul, nem mesmo ao mau uso do orçamento fluminense. São décadas de falta de planejamento, ausência de planos contra calamidades, são bilhões distribuídos no orçamento da União a juízes e alto funcionalismo público ou fundão eleitoral que teriam melhor uso agora.

A cantora – que, diga-se de passagem, não acompanho e, se me pedirem para cantar uma música dela, não saberei – é uma profissional em turnê por seus 40 anos de carreira, num show que não foi planejado no dia em que aconteceu, obviamente. Foi paga pelo seu trabalho, fez esse trabalho e foi embora. Um colunista divulgou que ela fez uma doação de 10 milhões para as vítimas; não se sabe se é verdade. De todo modo, o que ela faz com o dinheiro que ganha não é de nossa conta. Não somos socialistas. Por isso, não posso deixar de pensar que essas montagens de Madonna dançando sobre um lamacento Rio Guaíba, como se ela tivesse alguma culpa pelo que está havendo lá, são, com todo o respeito, demagógicas.