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As 3 fases da polarização no Brasil

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Polarização não é um termo novo na política brasileira. Porém, ela não é algo homogêneo desde a redemocratização, sendo marcada por fases distintas que, ao longo do tempo, moldaram a sociedade e influenciaram os rumos do país.

Polarização partidária

As eleições entre 1994 e 2002 foram marcadas pela polarização política e partidária. Foram evidenciadas as divergências entre os dois principais partidos, PT e PSDB. Havia distinções entre os projetos partidários, mas não havia uma polarização na sociedade. Nesse período, os candidatos vitoriosos, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e depois Lula (PT), conseguiram angariar apoio em quase todos os estados, consolidando uma tendência que persistiu por três eleições consecutivas.

Polarização social

Contudo, a partir de 2006, houve o início de uma segunda fase: a polarização social. As diferenças políticas começaram a permear a sociedade, criando divisões entre regiões, classes sociais e grupos demográficos. O Nordeste e o Sul passaram a adotar posições políticas majoritariamente distintas, enquanto uma clivagem entre ricos e pobres se tornava evidente nas escolhas eleitorais. A política deixou de ser apenas uma questão partidária e passou a moldar a identidade social e econômica também.

Polarização afetiva

A terceira e mais recente fase, inaugurada em 2018, é a polarização afetiva. Neste estágio, grupos políticos não se veem mais como adversários, mas como inimigos. A probabilidade de vitória de um é percebida como uma ameaça existencial pelo outro. O voto deixa de ser baseado em propostas políticas e passa a ser condicionado por fatores como renda, região de residência, faixa etária, gênero, orientação sexual, raça e religião. A escolha eleitoral de muitos brasileiros torna-se quase uma extensão de sua identidade, refletindo um cenário binário de bem contra mal, vida contra morte.

Neste contexto, as eleições adquirem uma dimensão dramática, em que desrespeitar regras não escritas ou mesmo a legislação torna-se aceitável, pois os fins passam a justificar os meios. A polarização afetiva também encontra eco na literatura científica, que aponta um aumento na tolerância à violência política e no surgimento de atitudes autoritárias. Afinal, o que está em jogo transcende as questões políticas, pois o medo de determinado grupo no poder ou a continuidade de outro se tornam os fatores determinantes.

Esse processo foi endossado nas eleições de 2022. Nesse sentido, a escolha do eleitor deixa de ser um apoio a um projeto político específico, como a preferência por Lula no Brasil, Alberto Fernándes na Argentina ou Gabriel Boric no Chile, e passa a ser, muitas vezes, um voto contra alguém, o denominado partidarismo negativo. No caso, o voto contra Jair Bolsonaro, o voto contra Maurício Macri ou o voto contra Sebastián Piñera.

O medo e a aversão dominam o cenário político, moldando as intenções de voto de maneira mais duradoura do que as flutuações temporárias. O eleitor age e reage movido por sentimentos intensos, tornando as eleições uma batalha de emoções em que o antagonismo polarizado se torna a norma.

Considerações finais

Assim, as três fases da polarização no Brasil não são apenas eventos políticos isolados, mas uma jornada que transformou as eleições em arenas de conflito, em que a luta pelo poder transcende as diferenças ideológicas para se tornar uma batalha emocional pela alma do país. Essa cruzada provoca uma espécie de calcificação nos grupos sociais, em que, independentemente dos fatos, dados, evidências e contextos, a opinião tende a não ser alterada, porque neste estágio as pessoas não estão mais dispostas a ouvir opiniões contrárias aos seus próprios vieses.

*Artigo publicado originalmente no site do autor. 

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Luan Sperandio

Luan Sperandio

Analista político, colunista de Folha Business. Foi eleito Top Global Leader do Students for Liberty em 2017 e é associado do Instituto Líderes do Amanhã. É ainda Diretor de Operações da Rede Liberdade, Conselheiro da Ranking dos Políticos e Conselheiro Consultivo do Instituto Liberal.

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