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O que acontece se os pais deixarem uma criança ter armas de brinquedo?

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A polêmica do Bolsonaro desta semana é uma foto com uma criança que vestia uma farda de policial e estava com uma arma de brinquedo. A foto ocorreu em sua viagem a Belo Horizonte, onde o presidente liberou recursos para o estado de Minas Gerais expandir o metrô da região metropolitana. “Uma derrota nas urnas não é suficiente. Essas pessoas terão de confrontar a Justiça!”, escreveu Jamil Chade, colunista do UOL, sobre a cena. Um dos seus seguidores foi além e escreveu que os pais do menino deveriam estar presos. O militante petista e jornalista nas horas vagas José Trajano celebrou o ex-governador do Rio de Janeiro Leonel Brizola, quando este colocou fogo em armas de brinquedo após fazer milhares de crianças as trocarem por livros.

Porém, uma pergunta ficou na minha cabeça: qual é o problema de uma criança ter armas de brinquedo?

Este assunto está longe de ser recente. Desde 2001, o Brasil comemora em 15/04 o Dia do Desarmamento Infantil. Não, não estamos nos referindo às crianças do tráfico de drogas em uma favela carioca, mas sim às armas de brinquedo. Além dos objetos, tal dia também visa a combater a utilização de games violentos (Counter Strike, Call of Duty etc) por parte das crianças. Em 2011, o Instituto Sou da Paz fez uma campanha baseada neste dia e conseguiu recolher 6 mil desses artefatos.

Órgãos públicos também entraram de cabeça nesse projeto para “desarmar crianças”. O Distrito Federal criou a campanha “Arma Não é Brinquedo: Dê Livros”. O petista Agnelo Queiroz declarou: “a troca de brinquedos que estimulem a violência por livros é uma medida importante para o desenvolvimento da paz entre as crianças, porque, se começarmos a mudar o pensamento ruim de uma pessoa desde cedo, o resultado será muito bom”. Pergunto-me se Queiroz brincou na infância de corrupção, haja vista os inúmeros casos em que ele se envolveu — o que não vem ao caso agora.

Mas o que a literatura acadêmica diz sobre o assunto? Há uma correlação entre armas de brinquedo e games com a violência?

Primeiro vamos aos vídeo games: a resposta é não. Merece destaque a decisão do juiz da Suprema Corte americana, Antonin Scalia. De maneira resumida, a Califórnia havia banido games considerados violentos e o caso foi parar na Suprema Corte do país. Scalia revisou artigos científicos sobre o assunto e concluiu: “Eles (os estudos) mostram, na melhor das hipóteses, alguma correlação entre a exposição a entretenimento violento e efeitos minúsculos do mundo real, como crianças se sentindo mais agressivas ou fazendo barulho mais alto poucos minutos após jogar um jogo violento do que depois de jogar um jogo não violento”. A Association for Psychological Science concorda, tendo publicado em 2019 um estudo da University of Illinois Urbana-Champaign, em que os investigadores não encontraram evidências de que o nível de dificuldade ou violência altera a propensão de violência nas crianças.

E as armas de brinquedo? Para Michael Thompson, PhD, psicólogo infantil e um dos autores mais vendidos na lista do The New York Times, brincar com armas de brinquedo não torna as crianças mais violentas. O pesquisador acredita que, na mente das crianças, os artefatos não estão necessariamente ligados à violência, mas sim ao heroísmo, sobre ganhar e perder, e quem consegue ser o mocinho no final após derrotar o monstro/vilão. Uma descoberta interessante de Thompson é que quase 80% dos meninos americanos possuem tais brinquedos em casa.

O que é mais interessante nas campanhas de Brizola e Queiroz é que livros podem ser muito violentos. João e Maria assaram sua sequestradora em um forno. No Senhor das Moscas, as crianças mataram o Piggy. Em Peter Pan, o Capitão Gancho teve sua mão devorada por um crocodilo. Na lenda do Negrinho do Pastoreio, o personagem principal é torturado pelo fazendeiro. Isso sem contar os livros de história e mitologia grega.

A violência está por toda parte e querer colocar a culpa dela em armas de brinquedo ou videogames é ignorância pura e simples.

*Artigo publicado originalmente por Conrado Abreu na página Liberalismo Brazuca no Facebook.

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