fbpx

O fim da meia-entrada no cinema

Print Friendly, PDF & Email

A meia-entrada no cinema merece análise mais apurada. É possível afirmar que mais de 80% dos ingressos do cinema consumidos no Brasil já sejam de meia-entrada, que pode ser conseguida de várias formas: seja com a carteirinha de estudante, com declaração de emprego como professor, como doador de sangue, em promoções entre parcerias de empresa, programas de pontos ou o mero fato de ter uma conta bancária em um banco específico (a parceria entre Cinemark e Bradesco é um excelente exemplo disso).

Como qualquer pessoa que entenda algo referente a fluxo de caixa empresarial sabe, não existe negócio que se sustente arrecadando menos do que gasta. Se você calcular, com mais de 80% dos ingressos consumidos sendo de meia-entrada, é fácil deduzir que os cinemas brasileiros não têm operado no vermelho, visto que seguem de pé.

Para explicar esta situação, temos dois exemplos que mostram que, sim, o fim da meia-entrada causaria o barateamento do ingresso. A primeira é sobre a microeconomia envolvida no cálculo do ingresso.

Existe discriminação de preços, ou seja, o preço do ingresso aumenta com a lei da meia-entrada, porém é necessária comprovação empírica. Nada tem a ver com almoço grátis e sim extração do excedente do consumidor pelo produtor.

Suponha que a população se divide em dois grupos, A e B. O preço de reserva de A seja $10 e o de B seja $20. Suponha que o custo marginal seja menor que $10. Eu tenho um problema. Se cobro $20, extraio todo o excedente de B, mas não vendo para A. Se cobro $10, eu vendo para A, mas não extraio todo o excedente de B. Se é impossível um mercado paralelo (A comprando e vendendo para B) e sendo possível a discriminação de preços (através de um mecanismo qualquer), eu cobro $10 de A e $20 de B.

É isso que explica estas práticas voluntárias de meia entrada para as parcelas mais pobres da população (estudantes e idosos). Como estamos discutindo uma regra imposta, não dá para falar de discriminação de preços simplesmente, mas ainda é necessário fazer mais trabalho empírico. Assim, temos que ver dois pontos: (1) Proporção da demanda coberta pelo desconto legal, (2) Diferenças da elasticidade-preço da demanda. Quanto maior a primeira, mais o preço muda (suponha, em um exemplo extremo, que todos tivessem direito a meia; os preços simplesmente dobrariam). Quanto maior a segunda, menos os preços mudam. A mudança final dos preços será função desses fatores.

O segundo fator refere-se diretamente a uma grande fonte de renda dos cinemas: a pipoca.

A pipoca é onde está a verdadeira mina de ouro de qualquer cinema global. Com margens de lucro de até 10000% e por vezes custando até 4 vezes o valor de uma meia-entrada de cinema, a pipoca é onde os cinemas lucram em definitivo – e isso é notório quando se percebe que produtos que estão disponíveis na bomboniere de qualquer cinema estão muito acima do valor que se encontra em lojas de varejo regular.

Um pacote de milho para pipocas no varejo comum custa R$ 2,50 por 500 gramas, enquanto um pacote com o mesmo peso em um cinema se encontra pelo mesmo valor de uma meia-entrada, equivalente a 35 reais. Com esses valores, não é de se surpreender que 45% a 50% dos lucros de cinemas venham do alimento.

Sendo assim, é uma grande falácia afirmar que o fim da meia-entrada será o fim do acesso ao cinema por camadas mais pobres. Hoje os pagantes da meia-entrada em geral são membros de classes mais altas (estudantes de universidades públicas em classes altas são mais presentes que de classes baixas). Afinal, as leis de oferta e demanda, embora incompreensíveis para os tipos que afirmam que o ingresso será inacessível, ainda existem, e um cinema inacessível é sinônimo de cinema falido.

A microeconomia, através de uma análise ortodoxa, comprova que os ingressos terão inteiras acessíveis para todos e que, independentemente de o ingresso custar 10, 20 ou 30 reais, o lucro real continua vindo das pipocas estouradas nas bombonieres em cada cinema, onde o custo da pipoca excede o preço geral do ingresso. O fim da meia-entrada será sinônimo de maior acessibilidade no médio prazo.

*Artigo publicado originalmente na página Liberalismo Brazuca no Facebook.

Faça uma doação para o Instituto Liberal. Realize um PIX com o valor que desejar. Você poderá copiar a chave PIX ou escanear o QR Code abaixo:

Copie a chave PIX do IL:

28.014.876/0001-06

Escaneie o QR Code abaixo:

Instituto Liberal

Instituto Liberal

O Instituto Liberal é uma instituição sem fins lucrativos voltada para a pesquisa, produção e divulgação de idéias, teorias e conceitos que revelam as vantagens de uma sociedade organizada com base em uma ordem liberal.

Pular para o conteúdo