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O desconhecido mais influente do mundo

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ALEXANDRE BORGES *

Imagine uma única pessoa influenciar uma geração inteira de intelectuais e políticos americanos, liderar o principal grupo terrorista da história do país na juventude e lançar a carreira do atual presidente da sua sala de estar. Como se não bastasse, adicione ao currículo ajudar a articular os movimentos “Occupy” e hoje ser a principal mente por trás da restruturação dos currículos escolares da nação mais poderosa do planeta. E fazer tudo isso quase sempre longe do radar da imprensa e da opinião pública.

Caminhando pelas ruas de Chicago, esse senhor de brincos, óculos e roupas desgrenhadas, beirando os setenta anos, não chama atenção, mas poucos moldaram tanto o mundo ocidental nas últimas décadas quanto William “Bill” Ayers, que aposentou as bombas e agora quer “mudar os EUA a partir das salas de aula” e fazer do professor “uma influência maior que os pais” na cabeça das crianças.

Criado num lar de alta renda, até os 21 anos Bill era um universitário normal com corte de cabelo, óculos e roupas imitando Bob Dylan. Seu pai, Tom Ayers, chegou à presidência da ComEd, a poderosa concessionária de energia de Chicago, mas mesmo com uma sólida carreira como executivo sempre se identificou como um homem de esquerda e apoiador de tudo que o filho viria a fazer na política.

Bill Ayers começou a se envolver com o movimento estudantil em 1965, por conta dos protestos contra a Guerra do Vietnã e doutrinado pelos professores da faculdade, a tropa de choque ideológica de Althusser, Bourdieu e os filósofos franceses do pós-Guerra, marxistas e radicalmente antiamericanos, alguns deprimidos pela derrota do nazismo e outros ainda digerindo as revelações dos crimes de Stálin por Nikita Khrushchov em 1956.

Já transformado em militante, participou de piquetes, quebra-quebras e enfrentamentos com a polícia enquanto mergulhava de cabeça no SDS (“Students for a Democratic Society”), o principal movimento estudantil do país com mais de 100 mil filiados. Carismático e articulado, sua liderança na organização cresceu de forma meteórica ao lado de Bernardine Dohrn, jovem e bela advogada, ex-cheerleader no colégio, também uma comunista tão radical e comprometida com a causa quanto possível.

Juntos promoveram um racha no SDS, criando o “The Weather Underground” em 1969. A facção de Ayers e Dohrn rompeu com a SDS porque não aceitava seus métodos pacíficos de ação e queria partir para a luta armada imediatamente, com objetivo declarado de derrubar o governo americano e anexar o país ao comunismo internacional. Em 31 de julho de 1970, Bernardine Dohrn faz o famoso discurso público em que seu grupo declara guerra aos EUA.

O “The Weather Underground” justificava o terrorismo por conta da Guerra do Vietnã, dizendo que apenas reagia à violência “muito maior” patrocinada pelo governo, numa espécie de prévia do proselitismo da Al Qaeda. Eram jovens que conspiravam abertamente contra o país, inclusive passando informações a inimigos e dando treinamento revolucionário para grupos vietcongues. Mesmo quarenta anos depois da criação do “The Weather Underground”, nenhum dos seus membros mostra qualquer remorso. Numa entrevista em 2008, Ayers declarou: “me recuso a chamar os movimentos que participei de violentos, quem faz a violência é o governo mais poderoso e militarizado do mundo.”

Um dos lemas mais conhecidos dos jovens da época era “Tragam a Guerra para Casa”, que resumia a idéia principal de fazer a Guerra do Vietnã visível para a opinião pública. Na lógica pervertida desses revolucionários, o conflito era muito distante e só criando o caos no próprio país o povo poderia entender o que estava acontecendo no outro lado do mundo, uma idéia que muitos carregam até hoje. Em 2011, ao ser perguntado por um jovem manifestante se o Occupy Wall Street deveria ser pacífico e respeitar as leis, Bill Ayers gargalhou: “revoluções não respeitam leis, sua pergunta é hilária.”

De 1970 a 1975, o “The Weather Underground” partiu para a realização de atentados terroristas com a explosão de bombas no Pentágono, no Capitólio (sede do poder legislativo do país) e no prédio central da polícia de NY e numa delegacia de São Francisco. Quando uma bomba explodiu acidentalmente na sede do grupo, matando três de seus membros, incluindo a namorada de Ayers, os remanescentes vão para a clandestinidade e somem até 1980. Há rumores de que Ayers deixou a namorada ainda viva no local e não prestou socorro para não comprometer a fuga. Com a morte da namorada, começa a relação de Ayers com Dohrn, que tiveram dois filhos e estão casados até hoje.

Ayers,  Dohrn e seus “camaradas” eram jovens de classe média alta, mimados e criados na abundância conquistada por seus pais nas décadas após a vitória na Segunda Guerra. Hipnotizados pelas revoluções comunistas que aconteciam em várias partes do mundo (Maio de 68, Primavera de Praga e afins), abraçaram sem limites as drogas pesadas, a vida em “comunidades coletivistas” e o sexo grupal, um “ato revolucionário contra a opressão da monogamia burguesa”, entre outras racionalizações para viagens lisérgicas e orgias sem fim.

As bandeiras do “The Weather Underground” eram consistentes com o que defendia a “New Left”, a nova esquerda americana que seguia os passos da “Nouvelle Gauche” francesa de revisionismo marxista. O novo marxismo dos anos 60/70 defendia que não fazia mais sentido focar apenas na luta de classes, para eles uma batalha do século XIX. Para intelectuais como Hebert Marcuse ou ativistas como Saul Alinsky, o próximo passo para avançar a agenda comunista era se apropriar das causas da chamada contracultura (descriminalização das drogas e do aborto, ativismo gay, desmilitarização do ocidente, superação da religião cristã, ambientalismo radical, entre outros), ou seja, a face da esquerda ocidental de hoje e até de alguns inocentes úteis da direita.

Alguns membros do “The Weather Underground” chegaram a ser condenados e presos, mas a maioria deles, incluindo Ayers, conseguiu escapar da prisão com chicanas jurídicas, aproveitando falhas nas investigações. Bernardine Dohrn cumpriu pena de três anos.

Nasce o professor e acadêmico Bill Ayers

Com a exuberância econômica promovida por governos conservadores nos anos 80 e a derrocada da URSS, revolucionários já quarentões como Bill Ayers perceberam que a luta da esquerda não seria mais pelas armas mas “por dentro do sistema”, com os instrumentos políticos da própria democracia.

Nos anos 80, Ayers trocou as bombas pelas salas de aulas. Completou o doutorado em pedagogia para crianças em idade até cinco anos e começou a carreia como professor na mítica escola Summerhill, famosa pelos métodos não convencionais de aprendizado. Começou também a escrever livros sobre educação que estão entre os mais influentes do país. Poucos atalhos para o sucesso acadêmico são tão eficientes como ser um ídolo da panelinha de esquerda.

Na década seguinte, se envolve novamente com política. Começa a trabalhar em 1995 com o prefeito de Chicago para a elaboração da política educacional local e seu projeto de reforma da educação pública da cidade recebe US$ 50 milhões da Annenberg Foundation. Ele vira um herói da educação pública de Chicago, chegando a receber o título de cidadão do ano pouco depois.

Neste mesmo ano conhece o “jovem ambicioso” candidato ao senado estadual Barack Hussein Obama, na época com 34 anos. Ele vê o potencial do rapaz e resolve apostar suas fichas nele. Faz um evento na sua casa para lançar sua carreira política para os formadores de opinião de Chicago e levantar fundos para a campanha. Com o apoio, Obama atropela seus adversários internos no Partido Democrata e conquista a vaga nas primárias, sendo eleito em 1996 como senador estadual de Illinois.

Barack Obama vira, segundo a autobiografia de Ayers, um “amigo íntimo da família” e passa a frequentar sua casa. De 1995 a 2001, os dois trabalharam juntos regularmente nos projetos educacionais da prefeitura de Chicago. Em 1999, Ayers é empossado membro do board da organização filantrópica de esquerda Woods Fund, que tem Obama como um dos diretores, e os dois passam também a escolher em conjunto os movimentos sociais para financiar, dar treinamento e apoiar com o dinheiro da fundação até 2002.

Nessa época, Ayers esteve envolvido em outra polêmica: em 2001, lançou seu livro autobiográfico e deu diversas entrevistas dizendo que não estava arrependido de nada, pelo contrário, que sentia que não tinha feito o suficiente como ativista. Mesmo sendo apenas uma infeliz coincidência, quase satânica, ele estava em todos os principais jornais americanos exatamente no dia 11 de setembro de 2001 falando de seu livro e justificando o terrorismo. A repercussão foi a pior possível para um terrorista aposentado que tentava relativizar moralmente seus atentados exatamente naquele dia.

Suas idéias sobre a política externa americana, na prática, não mudaram desde a juventude. Numa palestra em 2012, Ayers fez a seguinte análise da situação do país: “Não há qualquer dúvida de que o império americano está em declínio e esse processo acontece felizmente sem o preço pago por outras nações imperialistas em milhões de vidas, como aconteceu com a Inglaterra, a França e a Alemanha. Somos apenas 4% da população mundial, consumimos os recursos desse planeta de uma maneira desproporcional e isso tem que acabar. Precisamos colocar um fim na mentalidade militarista e abraçar o processo do fim do império americano como uma coisa boa.”

Occupy Chicago e Occupy as salas de aula.

Barack Obama seguiu seu caminho com sucessivas vitórias eleitorais até as primárias do Partido Democrata para presidente em 2007, quando Hillary Clinton denunciou suas conexões com Bill Ayers e, percebendo o potencial tóxico da relação, o candidato passou a evitar contato público com o antigo apoiador, dizendo inclusive que mal conhecia e que era apenas “alguém que morava na vizinhança”. Ayers também disse em 2008 que foi mal interpretado ao escrever em seu livro que Obama era um amigo da família, que não era bem isso que queria dizer. Então tá.

Em 2008, Bill Ayers participa diretamente de uma nova revolução: a criação de um currículo nacional para todas as escolas do país, o “Common Core State Standards Initiative”, que começou a ser implementado em 2009. O programa tem a singela intenção de “transformar completamente a educação de cada criança americana” e, na prática, federaliza as diretrizes da educação tirando o poder dos estados sobre os currículos, algo que dá certo há 200 anos no país.

O governo Obama diz que o programa federal é “voluntário”, mas parte importante das verbas federais de educação para os estados está atrelada à aceitação do programa, criando um constrangimento quase irresistível na prática. Todo o poder politico do governo federal está sendo usado para enfiar o “Common Core” goela baixo dos estados e 46 deles já aderiram, com honrosas exceções como o Texas.

Há a impressão digital de Ayers do começo ao fim do “Common Core”, que foi estruturado pela “Achieve”, uma associação sustentada pela fundação de Bill Gates, o bilionário esquerdista da Microsoft que recentemente disse lamentar que nos EUA haja tantos limites constitucionais aos poderes de Obama, já que em outros países o presidente tem mais liberdade para implementar sua agenda sem tantas amarras. Kim Jong-un não diria melhor.

O pacotão do “Common Core” é ainda mais assustador quando se considera o enorme banco de dados que será montado para monitorar cada criança do país. Todas as leis que protegem a privacidade das crianças estão sendo revistas para permitir o acesso direto do governo federal às informações escolares de cada estudante. Alguns dos pontos a serem avaliados pelo programa em discussão são puramente políticos: a capacidade do aluno de identificar o “viés ideológico” das informações que recebem, sua “aceitação da diversidade” e disponibilidade de submissão à autoridade superior, como denunciado por vários professores horrorizados com algumas dessas propostas.

Além da Microsoft, o Google também está de corpo e alma no projeto, dando um grande foco à aceitação do seu pacote de aplicativos pelas escolas participantes, que integradas ao database da empresa darão ao governo a capacidade de monitorar tudo que o estudante busca, envia, recebe e lê, um pesadelo orwelliano que é o sonho de qualquer autoritário. O próprio Ayers já disse: “a grande arma da esquerda hoje é a sua presença em todas as salas de aula”.

O principal grupo de trabalho que elaborou o “Common Core”, como denunciado por alguns veículos independentes, não tinha nenhum professor com experiência suficiente em sala de aula, só “intelectuais renomados” como Ayers, movimentos sociais e sindicalistas. Professores fora do aparato partidário e sindical eram apenas convidados a enviar “sugestões”, mas não se tem notícia de que tenham sido aproveitadas. É como se toda a educação brasileira fosse recriada por Aloízio Mercadante, a CUT, a Apeoesp e “intelectuais renomados” escolhidos por eles.

Na prática, o currículo unificado cria, segundo os opositores, uma redução drástica nos padrões e exigências para os alunos. No ensino de inglês, por exemplo, o “Common Core” promove a diminuição dos estudos dos clássicos da literatura em troca de obras mais populares e técnicas, como preparação para cursos profissionalizantes. Em matemática, o único professor de fora convidado para o ‘comitê de validação’, James Milgram de Stanford, se recusou a assinar o documento final dizendo que o novo currículo atrasaria o ensino para os alunos em pelo menos dois anos, que o que se ensina para alunos da sexta série, por exemplo, passaria a ser ministrado na oitava. Se você quiser conhecer mais sobre o “Common Core” há farto material disponível na internet, mas prepare-se para ter pesadelos do provável futuro da educação americana e do que ela vai apontar como tendência para o mundo.

Ainda hoje, quando citado na imprensa, a influência de Bill Ayres nas políticas educacionais do país é justificada por seu notório saber em educação, suas posições políticas radiciais, seu passado terrorista e seu antiamericanismo são relevados como arroubos juvenis, mesmo que ele nunca tenha dado qualquer sinal de arrependimento ou autocrítica. Como disse o jornalista Timothy Noah, “tratar Ayers apenas como um especialista em reforma educacional é como tratar Stálin como apenas um especialista em reforma agrária.”

Indícios de que ele não mudou não faltam, ele no máximo adaptou e atualizou as táticas revolucionárias. Em 2011, quando começam as manifestações conhecidas como “Occupy Wall Street”, Ayers participou ativamente desde a organização dos protestos, alguns financiados pelas fundações de esquerda apoiadas por ele, até sua presença em reuniões preliminares e nas próprias manifestações. Numa entrevista à Andrew Breitbart, ao ser perguntando se a luta política do “The Weather Underground” tinha acabado junto com o grupo, respondeu: “não acabou, ele está aí, ele é o Occupy Wall Street”. Ele foi também líder dos movimentos na sua cidade, o “Occupy Chicago”.

Em 2012, num discurso para manifestantes do Occupy, o ex-terrorista confessou: “acordo todo dia dizendo para mim mesmo que hoje vou derrubar o capitalismo, é o que me mantem vivo”. Quem vê tudo o que ele já conseguiu e o que ainda pode fazer sabe que não é um sonho impossível.

* DIRETOR DO INSTITUTO LIBERAL

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