Em (lenta) construção
RODRIGO CONSTANTINO *
O julgamento do século. Eis como muitos têm chamado o julgamento do “mensalão” pelo STF. As expectativas dos brasileiros com a Justiça são tão baixas que mesmo um atraso de sete anos para julgar o maior esquema de corrupção de nossa República já é visto como um avanço. E avanço ele é, de fato. Mas que ritmo lento! Nossas instituições republicanas vão sendo moldadas ao passo de um cágado. Ou talvez de uma tartaruga (manca de três patas).
O primeiro dia do julgamento foi marcado pelo papelão de Ricardo Lewandowski (um lingüista me garantiu que seu nome em polonês quer dizer “aquele que defende mensaleiros”; para mim parece nome de agente soviético mesmo). O ministro claramente tentou ganhar tempo com uma questão já resolvida. Joaquim Barbosa o acusou de “deslealdade”, mas dependendo do ponto de vista pode ser o contrário: muita lealdade!
Há vários outros problemas. O ministro Dias Toffoli (parentes italianos me garantem que seu nome significa “aquele que advoga para petistas”) participar do julgamento, por exemplo. Algo como Eurico Miranda apitar uma final entre Vasco e Flamengo. Ou então a ausência do “chefe” dos mensaleiros, algo que o advogado de Roberto Jefferson pretende resolver, claramente em vão.
É duro para as pessoas mais esclarecidas e cansadas de tanta impunidade acompanhar a Sociedade Aberta em formação nesta velocidade tão reduzida, sob forte pressão das forças reacionárias do Antigo Regime. Mas não se constrói uma República da noite para o dia.
Como hoje é sexta, a mensagem deve ser de otimismo: lembremos que a tartaruga venceu a corrida contra a lebre na fábula de Esopo (popularizada por Fontaine). Só há um detalhe: ela era lenta sim, mas consistente na direção certa. Será que podemos esperar isso da nossa tartaruga?
* DIRETOR DO INSTITUTO LIBERAL
N.E.: links incluídos pela editoria
Fonte da imagem: Wikipédia