fbpx

Como o Logrolling explica a política

Print Friendly, PDF & Email

Na vasta arena política, há interesses conflitantes e ideologias divergentes que colidem, ocasionando o fenômeno do “logrolling”, que emerge como uma estratégia intrincada de negociação e compromisso entre os parlamentares. Esse termo técnico da Ciência Política é conhecido no Brasil como “toma lá, dá cá”, expressão coloquial que ilustra vividamente a troca de apoio e favores entre políticos em busca de interesses convergentes.

Se por um lado essa prática pode ser vista como um meio eficaz de construção de coalizões políticas, em que diferentes grupos cedem em algumas questões para alcançar um objetivo maior, por outro lado, levanta questões sobre a transparência e a integridade do processo legislativo. No âmbito positivo, a formação de coalizões pode resultar em políticas públicas mais abrangentes e representativas, abarcando uma variedade de interesses. Isso ressoa com a visão de James Madison, um dos Pais Fundadores dos Estados Unidos, que argumentou em “Federalist No. 10” que a competição de interesses poderia limitar o poder de qualquer grupo dominante e, assim, promover um sistema político mais equilibrado.

Porém, em meio aos acordos de “toma lá, dá cá”, surge a preocupação com a possibilidade de corrupção e comprometimento dos interesses públicos. A prática do “logrolling” pode obscurecer as linhas entre o serviço público e os interesses pessoais dos legisladores. O cientista político Richard Fenno, ao analisar o Congresso dos Estados Unidos, observou como os legisladores podem ser incentivados a ceder em questões importantes para garantir o apoio de grupos específicos em suas campanhas de reeleição. Nesse sentido, o público muitas vezes testemunha cenas de trocas de favores e acordos políticos que podem minar a confiança no sistema e perpetuar a ideia de que a política é um jogo de interesses escusos.

Negociações existem porque é altamente improvável que todos os atores políticos estejam interessados por todos os projetos de lei da mesma forma. Um deputado professor, por exemplo, terá maior interesse em questões referentes ao ensino, enquanto um parlamentar ambientalista tende a dar maior prioridade a pautas de preservação do meio ambiente. Nesse sentido, o “logrolling” assume uma forma de troca de favores, e entre suas utilizações pode estar a troca de apoios a projetos diferentes: o deputado professor negocia votos para apoiar projetos do deputado ambientalista, em troca deste votar favoravelmente a projetos do deputado professor. Assim, ambos maximizam suas chances de terem aprovados seus respectivos projetos e terem, em última análise, maior êxito em seus mandatos.

A influência da teoria da escolha racional, como defendida por Anthony Downs, também encontra eco no “toma lá, dá cá”. Políticos, conscientes de seus eleitores e das recompensas que a reeleição traz, podem ser tentados a participar em “logrolling” para atender às demandas de seus eleitores e, ao mesmo tempo, garantir um apoio político mais sólido e estável. Essa estratégia, em sua essência, representa a busca por uma solução intermediária e mutuamente benéfica, que, vale ressaltar, também pode ser vista como uma característica saudável da política democrática — desde que esses acordos não violem a ética e os princípios que sustentam uma democracia robusta.

A prática do “logrolling” na política brasileira leva a questionar se ela é um sintoma de uma democracia em evolução ou um sinal de suas imperfeições persistentes. O professor de Ciência Política de Yale, David Mayhew, examinou a reeleição como um fator determinante no comportamento político, sugerindo que o desejo de permanecer no poder motiva ações que podem incluir o “toma lá, dá cá”.

Nesse sentido, os eleitores possuem responsabilidade também nesse processo, segundo Mayhew. À medida que a população se torna mais informada e exige maior responsabilidade dos seus representantes, a prática do “logrolling” pode ser melhor regulamentada e mitigada. De forma inversa, quando a atuação da imprensa e da sociedade civil em um país é mais fragilizada, a tendência é haver menos mecanismos para conter as trocas de favores na política.

Faça uma doação para o Instituto Liberal. Realize um PIX com o valor que desejar. Você poderá copiar a chave PIX ou escanear o QR Code abaixo:

Copie a chave PIX do IL:

28.014.876/0001-06

Escaneie o QR Code abaixo:

Luan Sperandio

Luan Sperandio

Analista político, colunista de Folha Business. Foi eleito Top Global Leader do Students for Liberty em 2017 e é associado do Instituto Líderes do Amanhã. É ainda Diretor de Operações da Rede Liberdade, Conselheiro da Ranking dos Políticos e Conselheiro Consultivo do Instituto Liberal.

Pular para o conteúdo