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A mão que desequilibra

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Mão do governo

Qualquer pessoa com um mínimo de instrução entende que até pequenas interferências num ecossistema gera desequilíbrios. Por isso, devemos proteger baleias e borboletas, ursos e beija-flores, tartarugas e besouros. Cada animalzinho, cada plantinha, é essencial para o equilíbrio da natureza; e a melhor maneira de proteger animais, praias, rios, lagos, florestas, manguezais e recifes é simplesmente deixando-os quietos.

Documentaristas da vida selvagem, devido aos longos períodos que passam nas florestas e savanas, aproximam-se tanto do cotidiano dos animais que chegam a criar vínculos afetivos com alguns indivíduos, no entanto, mesmo diante das situações mais dramáticas, nunca interferem. Sofrem, mas não intervém ao ver a fêmea de guepardo perdendo seus filhotes para leões e hienas, nem ao ver um elefantinho perdido de sua mãe.

Vemos também os esforços de ambientalistas para proteger predadores que nos provocam arrepios, como tubarões, tigres e crocodilos. Fazem isso porque sabem que eles são essenciais para o equilíbrio de complexas cadeias alimentares. Esforçam-se ao máximo para lhes oferecer a liberdade necessária para viverem como manda suas respectivas naturezas. Tubarões devem ter liberdade para devorar focas. Tigres devem ter liberdade para abater cervos. Crocodilos devem ter liberdade para despedaçar gnus. A harmonia da natureza é extremamente dramática.

Há também o consenso de que não devemos alimentar os animais. Qualquer alimentação artificial e seletiva privilegia determinada espécie que acaba tendo uma vantagem sobre outra, gerando um desequilíbrio nas relações.

“Talvez os seres humanos não possam aprender o que é ser humano simplesmente observando a vida humana”, diz Hortence, personagem de Jane Jacobs em A Natureza das Economias. A incerteza dela é a mais concreta verdade. Sim! Enquanto o homem não olhar a economia com os mesmos olhos com que olha a natureza, ele continuará crendo que intervenções no mercado corrigirão as “desigualdades” sem quaisquer efeitos colaterais.

“A natureza é pródiga com detalhes, mas parcimoniosa com princípios”, diz Hiram, outro personagem de Jacobs – e o Estado vem, há cinco mil anos, lutando incansavelmente para subverter essa ordem.

Chegamos a 2015 diante da estagnação econômica. Não há dinheiro. Não há infraestrutura. Até água e energia estão acabando. Tudo isso porque o Estado lançou sua mão recheada de arrogância sobre a economia. Interveio um pouco aqui, mais um tiquim ali e foi indo… até o país se dar conta que o ecossistema da economia nacional está totalmente desequilibrado, prestes a desabar. Subsídios, incentivos fiscais e empréstimos irresponsáveis têm o mesmo efeito que teria se um documentarista ou ambientalista agisse para impedir alguma interação natural entre animais. Socorrendo uns, condena-se todo o ecossistema ao colapso. Os programas assistenciais interferem na economia assim como interferiríamos se, por simpatia a algum bicho, resolvêssemos alimentá-lo artificialmente.

Lembro-me de meus anos na faculdade, quando uma aluna resolveu manifestar seu amor pelos gatos alimentando-os no campus. Resultado: à medida que se multiplicavam, exterminavam a população de pássaros que mantinha equilibrada a população de insetos – logo o local se transformou no principal foco de mosquitos transmissores da dengue. Tudo isso, por causa de uma simples intervenção – “Os gatos são tão lindos! Precisamos cuidar deles!”.

A natureza, entre árvores ou entre edifícios, não aceita intervenções.

Aos que possam dizer que algumas intervenções são necessárias para consertar os males provocados por intervenções anteriores, a natureza reafirma que a melhor medida é deixar as relações se reconstituírem por si mesmas – das cinzas dos piores incêndios, sempre brotam novas árvores. As exceções são as medidas de proteção de animais que, por causa da ação humana, quase foram extintos. Pandas, por exemplo. No entanto, devemos ter cuidado ao transferir o conceito dessas exceções para a economia. Enquanto algumas empresas são ameaçadas de desaparecer por causa de intervenções do governo, outras são ameaçadas de desaparecer por causa de suas próprias ingerências e incapacidades de adaptação às mudanças de mercado. Estas empresas devem quebrar, até porque, sabemos que no instante seguinte seu nicho será ocupado por outra que provavelmente oferecerá produtos melhores. Por outro lado, as empresas vítimas da “arrogância fatal” dos governos devem ser ressarcidas dos prejuízos que sofreram; e mesmo essa justiça tem grandes chances de alimentar novos desajustes no ecossistema econômico. Tal complexidade é o que desqualifica a pretensão de qualquer governo de arbitrar uma fórmula de intervenção isenta de efeitos colaterais.

Ludwig von Mises, na terceira de suas Seis Lições, apresenta os males do intervencionismo ao enumerar a sucessão de desajustes que uma simples canetada do governo provoca. Simulando apenas uma intervenção sobre o preço do leite, Mises demonstra passo a passo o desmoronamento de toda a economia, com maiores danos aos mais pobres, exatamente aqueles que o governo pretendia favorecer.

O governo brasileiro também quis favorecer a população ao represar o preço dos combustíveis, ao reduzir as tarifas de energia e, desde o começo, em torrar bilhões e bilhões em empréstimos a determinados setores ineficientes da economia. Resultado: Inflação, explosão da dívida pública e elevação do índice de ineficiência e estagnação econômica. Com os programas assistenciais, o governo quis acabar com a pobreza. Resultado: Uma massa de pessoas optou por não estudar nem trabalhar para ter direito aos favores do governo − os pobres continuam pobres, porém, pagando mais impostos.

Mesmo que o PT não tivesse roubado nenhum centavo nestes últimos 12 anos, a Petrobrás e o Brasil estariam enfrentando a mesma situação que enfrentam hoje. A corrupção foi apenas o “requinte de crueldade” da incompetência administrativa do PT.

A solução é simples: O Estado dar duzentos passos para trás, permitindo, assim, que o mercado se reconstrua segundo suas próprias leis.

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João Cesar de Melo

João Cesar de Melo

É militante liberal/conservador com consciência libertária.

3 comentários em “A mão que desequilibra

  • Avatar
    11/03/2015 em 7:50 am
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    ideias, teorias, fatos, todos muito bons, temos que pensar é como conseguir ganhar eleições com eles, um marketing mais agressivo talvez? e formas de financiar essa empreitada? temos partido? precisamos de partido? precisamos sair urgentemente da academia e criar programas sociais liberais, de cunho mais pratico que fique claro para as pessoas menos informadas, aquelas que os coronéis adoram fazer de curral eleitoral, o quão aquilo que parece bom no primeiro momento o condena a miséria eterna.

  • Avatar
    10/03/2015 em 11:19 pm
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    Muito bom.

  • Avatar
    10/03/2015 em 8:13 pm
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    Texto sensacional. Difícil adicionar algo a mais.

Fechado para comentários.

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