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A Curva “S” – RODRIGO CONSTANTINO

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Colaboradores

02.02.07 

A Curva “S”

RODRIGO CONSTANTINO*

 “It is because every individual knows so little and, in particular, because we rarely know which of us knows best that we trust the independent and competitive efforts of many to induce the emergence of what we shall want when we see it.” (Hayek)

Uma das coisas mais elementares ensinada nos cursos de administração e marketing é o formato comum da curva de vendas de um produto. Esta curva, em forma de S, diz basicamente que um produto passa por três grandes fases: a inovação, a massificação e a saturação. No primeiro momento, a empresa lança o produto ainda não testado pelo mercado, e as primeiras “cobaias” compram. Em seguida, caso o produto tenha boa aceitação, a empresa intensifica a produção, obtendo importantes ganhos de escala, que permitem uma forte redução nos preços, tornando o produto acessível ao grosso dos consumidores. Por fim, o produto já atingiu uma penetração tão grande que está saturado, dando espaço para substitutos mais modernos.

Não dá nem para listar a quantidade de produtos que experimentou essa trajetória. Basta citar alguns exemplos bastante óbvios, como o automóvel ou o computador. Na época da Ford e seu Modelo T, existiam literalmente centenas de empresas competindo por este novo mercado. Ninguém sabia ainda quais seriam os modelos vencedores. Apenas os mais ricos podiam se dar ao luxo de comprar um carro. Com o passar do tempo, e com os ganhos de escala, os preços foram caindo e as vendas explodindo. O carro era um produto popular então. O mesmo ocorreu com computadores. As antigas máquinas da IBM eram caríssimas, e poucos podiam pagar por ela. Ao decorrer dos anos, com avanços tecnológicos e ganhos de escala, milhões de usuários passaram a usufruir dos benefícios de um computador.

Isso tudo tem uma relevância enorme para o modelo econômico que deve ser adotado em um país. Em primeiro lugar, devemos entender que o processo de tentativa e erro é crucial para o progresso. O conhecimento é disperso, pulverizado na sociedade, limitado, e ninguém tem como saber a priori o que irá funcionar melhor, nem mesmo os desdobramentos das inovações. Os sonhos de voar dos irmãos Wright ou de Santos Dumont levaram ao avião, mas nem eles teriam como imaginar um Boeing 747 ou o novo Airbus gigante. As idéias têm conseqüências que nem seus próprios autores podem imaginar. Logo, o melhor meio de progredir é garantir a liberdade individual e a livre competição, para que o método de tentativa e erro vá filtrando o que funciona melhor, de acordo com as preferências dos próprios consumidores. Isso condena totalmente a alternativa de um planejamento central, feito por algum órgão de supostos “clarividentes”, que determinam o que será mais adequado ao povo.

Em segundo lugar, fica claro que os mais ricos exercem uma utilidade fundamental para os constantes avanços. Eles são as tais cobaias, que irão experimentar as inovações com preços ainda proibitivos, pela falta de escala. São eles que compram aparelhos de celular quando estes custam uma fortuna, e após ficar mais claro qual o produto mais competitivo e demandado, os produtores iniciam uma produção em massa, barateando o produto. Quando os ricos compram uma televisão de LCD, pagando milhares de dólares, estão testando as novas tecnologias disponíveis, fornecendo um importante feedback aos produtores, que passarão depois a produzir em grande escala o produto mais competitivo e demandado, tornando-o acessível ao restante dos consumidores. Logo, fica claro que a desigualdade material não é um problema em si, e que os mais ricos acabam atuando como cobaias das massas. Atualmente, qualquer família de classe média americana desfruta de um carro com segurança e conforto, um refrigerador, um computador, um microondas, enfim, de produtos que antes eram vistos como bens luxuosos para poucos.

Dito isso, fica fácil compreender porque tenho verdadeiros calafrios quando escuto governantes falando em planejamentos rígidos para o crescimento e o progresso, em “inclusão digital” e coisas do tipo. O melhor que o governo pode fazer para termos de fato isso tudo é sair do caminho, garantindo apenas a segurança contratual, a estabilidade das leis, as trocas voluntárias. Através da competição no livre mercado, as empresas, em busca do lucro, irão automaticamente testar sempre novos produtos. Nunca saberemos ex ante quais serão os bem sucedidos. São os próprios consumidores quem decidirão, através da livre escolha. Os mais ricos serão como cobaias, testando aqueles produtos que ainda são caros demais para os demais consumidores. E através da constante tentativa e erro, os melhores produtos serão filtrados, sobreviverão. E o progresso terá continuidade, beneficiando os milhões de consumidores, especialmente as massas, que poderão usufruir de produtos incríveis, que fariam qualquer rei da Idade Média morrer de inveja. Afinal, quantos nobres e senhores feudais tinham à sua disposição um ar condicionado?

* Economista e articulista

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Bernardo Santoro

Bernardo Santoro

Mestre em Teoria e Filosofia do Direito (UERJ), Mestrando em Economia (Universidad Francisco Marroquín) e Pós-Graduado em Economia (UERJ). Professor de Economia Política das Faculdades de Direito da UERJ e da UFRJ. Advogado e Diretor-Executivo do Instituto Liberal.

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