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Para entender o ataque ao Charlie Hebdo, leia Michel Houellebecq

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Assim que foi divulgada a notícia do atentado terrorista islâmico ao jornal Charlie Hebdo em Paris, as análises já começavam a declarar: o ataque nada tem a ver com o islamismo – e mais, devemos nos preocupar agora com a “xenofobia”, “islamofobia” e o “fanatismo religioso”… do Ocidente, que seria “intolerante” com os muçulmanos.

Quase nenhuma palavra sobre o islamismo não ser propriamente uma religião, mas também uma espécie de “sistema social”: religiões como budismo, cristianismo e judaísmo possuem princípios e, sobretudo, modelos arquetípicos (mitos) de atuação pública.

O islã é um jin, um modo de vida, todo um construto pessoal, social e cósmico, que não pode ser traduzido apenas como “religião” – por isto é defendido por estudiosos como uma doutrina que deixa menos margem para interpretação do que o cristianismo ou o judaísmo. “Muçulmano” (muslim) é particípio ativo de aslama, significando “aquele que se submete”. A lei islâmica, a shari’ah, é clara em seus aspectos civis – se o judaísmo, tribal e nômade em busca de um reino, passava princípios de conduta, não passava leis escritas civis e uma concepção total de sociedade, como o islamismo faz.

O filósofo Roger Scruton resume o problema que não está sendo discutido pela mídia ocidental: “O conflito fundamental é entre, de um lado, uma religião que deseja ser também um sistema completo de governo fundada em um Direito sagrado e, do outro, sociedades que, enquanto fundadas em uma revelação religiosa, fazem suas Leis e seu governo para si mesmas. O Islã não pode aceitar a jurisdição secular e não pode tolerar formas de governo que marginalizem a obediência religiosa. Por isso não pode, no fim, aceitar o mundo moderno.”

Há então aqueles que possuem visões seculares ou religiosas que permitem uma jurisdição secular, e aqueles que querem impor a shari’ah, tornando-nos a todos “muçulmanos”, ou seja, “submetidos”.

Submissão é o nome do novo livro de Michel Houellebecq, o ultra-polêmico escritor mais lido da França. Houellebecq estava na capa da última edição do Charlie Hebdo antes do atentado terrorista. Estes são os pontos que os jornalistas e palpitaristas não ligaram.

Faltam ainda alguns pontos, na verdade, caso nossa classe falante cheia de opiniões conhecesse seus livros.

Houellebecq escreveu, em Partículas Elementares, de 1998, que o islamismo “é a mais estúpida das religiões”. Foi processado por duas associações islâmicas na França. Ganhou ambos. No livro Plataforma, de 2001, resolveu repetir a mesma frase. Com um spoiler que estraga a surpresa do fim da trama, o livro termina com um atentado terrorista islâmico. Para mostrar que não concordavam com o autor, os seus próprios editores resolveram ir a uma mesquita numa manhã para serem fotografados em paz com os muçulmanos. Na volta, sentiram um clima estranho. Era a manhã do dia 11 de setembro daquele ano.

Alguns nascem para serem mais profetas do que o profeta que atacam. A trama de Plataforma passava por vários países famosos pelo turismo sexual, como Cuba. O atentado do fim do enredo ocorria na Tailândia. Em outubro do ano seguinte, um atentado extremamente similar ao descrito no livro ocorreu de verdade na Indonésia.

Gunmen kill 12 at French magazine Charlie Hebdo

Mais de treze anos depois, sendo capa do Charlie Hebdo e na mesmíssima manhã em que os olhos do mundo se voltaram para o atentado na sede do jornal, a Folha de S. Paulo trazia em seu caderno Ilustrada a chamada: “Novo Houellebecq estimula guerra ideológica na França”. O artigo trata de Submissão, que narra a ascensão de um Partido Islâmico num futuro próximo na França, ganhando apoio por ser contra a Frente Nacional de Marine Le Pen, chamada de “extrema-direita”.

Pouquíssimas horas depois, a sede do jornal sofria com o atentado terrorista que matou 12 pessoas. Logo a seguir, começavam as críticas não contra o extremismo islâmico, mas contra a suposta “extrema-direita” – que passa a considerar “extrema-direita” qualquer um que… rejeite o extremismo islâmico.

A discussão se focava na “provocação” que o jornal rotineiramente fazia contra o islamismo. Todas as religiões eram satiradas pelo jornal, mas apenas os muçulmanos se ofendiam – e já haviam deixado bombas na redação do Charlie Hebdo em 2012.

Tal lugar-comum esconde suas premissas: como destacou o jornal Gazeta do Povo em editorial após o primeiro ataque ao Charlie Hebdo em 2012, “quando o critério é o potencial de perturbação da paz pública, indiretamente se passa a mensagem de que ofensas às religiões cujos seguidores são mais pacíficos seriam mais aceitáveis que ataques a crenças cujos fiéis historicamente reagem com violência.”

Ou seja: o problema está muito menos na ofensa do que nos ofendidos.

Estranhamente, tais críticas, que vêem os muçulmanos como “vítimas” sociais dos europeus, costumam partir de pessoas que nunca se incomodam em satirizar sardonicamente a religião cristã – mesmo os evangélicos, dissidência que costuma crescer nas periferias mais pobres do Brasil. Contra os evangélicos, seu “fanatismo” vira motivo de piada. Contra os muçulmanos, “ofendê-los” vira crime de ódio… porque eles costumam matar quem os ofende.

Se é para coibir “ofensas” a grupos “sensíveis”, precisaremos definir o que é sensível, e para quais grupos. É um principal liberal, de sociedades abertas e livres, de que ninguém tem o direito de não ser ofendido. Nas palavras de John Stossel, “quando se ofender dá poder, as pessoas se ofendem mais facilmente”.

Ser ofendido virou arma de guerra – até assassinar inimigos se torna algo justificável por milhares de pessoas. Uma sociedade aberta não pode ser um jin que use a shari’ah islâmica para lançar uma fatwā (opinião legal) contra alguém, como sofreu Salman Rushdie após o lançamento de Versos Satânicos, livro acusado de apostasia (Rushdie confessa que renegou o islamismo). Rushdie foi condenado à pena de morte em diversos países muçulmanos, e grupos mais literais prometem assassiná-lo em qualquer lugar caso o encontrem.

É o poder de “se ofender” – coisa com a qual a imprensa brasileira mais está preocupada, afirmando que Charlie Hebdo “não deveria” ofender o islamismo (bacon, feminismo, biquíni, Monty Python, eleições livres, Richard Dawkins e pornografia sueca também o ofendem), sem nunca afirmar que “não se deve” ofender outras religiões que não revidem violentamente.

Salman Rushdie, hoje, seria considerado um “ofensor”, um “xenófobo”, um “islamofóbico”. Talvez até alguém de “extrema-direita”.

Se é para proibir o que ofende, devemos começar pelas livrarias. Perguntar não ofende. Michel Houellebecq ofende. Seus livros são ácido puro, e não sobra ser “não ofendível”.

Partículas Elementares, seu livro mais conhecido (talvez antes de Submissão, já famoso antes de ser lido), narra a história de dois irmãos em reencontro, Michel, físico que vive de abstrações científicas, e Bruno, professor de literatura em desespero, que recai numa espiral de orgias para escapar de si próprio.

Os alvos da obra são Deus e o mundo: ofensas ao Deus cristão aparecem desde a primeira página, em que Michel se pergunta se uma moça que demora no carro “se masturba ouvindo Brahms”. Descrições de sexo grupal com desconhecidos em inferninhos, palavrões os mais cabeludos em qualquer discussão, relatos de bebedeiras em velórios, todas as formas de blasfêmia possíveis.

Mesmo Michel, personagem incapaz de sentimentos (que o narrador sutilmente descreve como “seu p… servia apenas para mijar”), é um materialista de vida e visão nada cristã – um diálogo seu com um padre, em que faz um paralelo entre a união eterna de um casamento e os spins invertidos de átomos deixaria qualquer cristão de cabelos em pé. Bruno ultrapassa todas as raias do ofensivo, ironicamente, num acampamento hippie, aquela coisa do “é proibido proibir” e “live and let die” que a esquerda gostava tanto. As ofensas vão a todos, sejam cristãos, rosa-cruzes ou danças africanas, mas com um apreço especial por falar mal do Brasil – o que fez com que Houellebecq fosse muito criticado no Brasil, confundindo realidade e ficção e a voz de um personagem com a opinião do autor. As poesias explícitas que escreve no antro de libertinagem são impublicáveis.

Isto é o que se lê em Houellebecq – e é este autor que está sendo acusado pela esquerda francesa de ter escrito um livro “de presente” para Marine Le Pen (bobagem: a candidata loira não deve gostar muito do que Houellebecq fala sobre seu pai em Plataforma). A esquerda, surgida na França de Marquês de Sade e Robespierre, hoje aceitaria proibir Os 120 dias de Sodoma ou A Filosofia na Alcova para evitar ofender quem quer impor uma tirania muito mais moralista do que qualquer Ancien Régime.

Já no Plataforma de Houellebecq, vemos um funcionário público que de repente fica rico – e torra sua nova fortuna com turismo sexual pelo mundo. Se em Partículas Elementares (e no seu romance de estréia, Extensão do Domínio da Luta) o islamismo só aparece de passagem, pela presença de imigrantes em bairros afastados, aqui vemos o mundo do século XXI em todas as suas cores, com o hedonismo ocidental de um lado sob um fundo de culturas bárbaras mendigando suas moedas – para então criticar sua “exploração” e “imperialismo”.

Como nas obras anteriores, também há o feminismo de ricas sem outras preocupações considerando-se defensoras dos oprimidos por terem discursos moralistas. Há a confusão política, que não se encaixa no binarismo “esquerda e direita” de pensadores críticos que juram que a “transcenderam”, justamente por quererem reviver o idealismo soviético. Estão lá pessoas com formação que tateiam um complexo vocabulário científico sem saber do que falam e intelectuais que só são respeitados por qualquer um que não saiba reconhecer um intelectual, e a posição de escanteio para a qual foi relegada a religião em um mundo fragmentado.

É, em suma, o “nosso” mundo. Ainda que suas tramas dêem muito valor a sexo e situações vexaminosas – de ereções incompletas a posições que não dão certo – Houellebecq é muito mais capaz de contar a cisão entre prazer e dever, poder e liberdade do homem contemporâneo em um mundo amoral, sem objetivo, multicultural e de problemas desconhecidos de poucas décadas atrás.

A literatura brasileira já há muito não reflete o mundo em que vivemos, com raras exceções que vêm saindo do desconhecimento nos últimos anos. Há raríssimos livros sobre os conflitos interiores de quem sofreu o desencanto com o discurso da salvação pelo Estado, dos petistas ricos (a “esquerda caviar” de nosso Rodrigo Constantino), da nossa corrupção, do progressismo, da descrença profana que causa a desconsolação atual. Nossa literatura ainda só fala de ditadura militar.

Houellebecq vai na contramão desta alienação. O terrorismo freqüentou pouco a literatura do século XX (um ápice provável foi O Agente Secreto, de Joseph Conrad) – e as conclusões a que ele nos obriga a chegar não são tão agradáveis para os lugares-comuns de nossas discussões públicas e políticas. Não existe “o bom selvagem”, e nem o “imperialismo” e “colonialismo” são capazes de explicar qualquer conflito real dos homens vivos – e as situações de personagens humanos nem sempre têm o certo e o errado claramente definidos.

Como o próprio autor afirma sobre as conseqüências de Submissão, “uso o recurso de assustar”. Seus livros assustam por mostrar o que será a França sob a shari’ah e como é ver o terrorismo de perto. Já os terroristas assustam por ameaçar nossos pescoços, tornando o islamismo mais obtuso uma proposta que não podemos recusar – a ascensão brutal do islamismo pelo mundo pós-11 de setembro fala por si, sobretudo suas vertentes mais assustadoras de ISIS, H’zbollah, Boko Haram, al-Qaeda, Hamas e afins – que parecem tão palatáveis à esquerda.

Mesmo em obras de ficção científica, como A Possibilidade de uma Ilha (2005), cantada até pela ex-primeira dama Carla Bruni, Houellebecq ainda é profeta (o personagem humorista causa indignação com piadas como “Qual o nome da camada de gordura ao redor da vagina? Resposta: mulher”), e narra um futuro da humanidade para reconhecermos os riscos de sermos humanos como somos.

Houellebecq é ofensivo, por isso está na mira de cabeças desejadas pela al-Qaeda. É assim porque é livre – porque sua arte é ficção e porque a ficção serve também para nos fazer sentir mal com nossa condição e nossas possibilidades. E porque simplesmente tudo pode ofender alguém – experimente dizer a verdade para um corrupto, ler Henry Miller do lado da sua avó ou defender a vida diante de um assassino.

É assim que somos – ofensivos, com orgulho. E a ofensa tem se tornado a arma política mais poderosa do mundo. Cada um que se declare “ofendido” parece ter salvo conduto para tudo contra seus ofensores – e ninguém se lembra de perguntar se um tiro de fuzil ofende mais do que uma piadinha com religião (os judeus são campeões de piadas com judeus; não, não contra os “opressores”, e sim tornando até o Holocausto algo superado em suas memórias). Não há muitos relatos sobre islâmicos que “ofendam” em seu jin – fora os que cortam cabeças, claro.

Além de criar um índice de opiniões, roupas, crenças, livros, filmes, roupas e até ironias permitidas, não parece ser afeito a uma sociedade livre se preocupar em quem vai se ofender com o que dizemos ou vemos.

Ou ultrapassaremos o ponto em que mortes ocorrem e se discute se os assassinos eram “ofensivos”.

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Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern

Analista político, palestrante e tradutor. Escreve para o jornal Gazeta do Povo , além de sites como Implicante e Instituto Millenium. Lançou seu primeiro pela editora Record Por trás da máscara, sobre os protestos de 2013.

8 comentários em “Para entender o ataque ao Charlie Hebdo, leia Michel Houellebecq

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    12/01/2015 em 6:41 pm
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    Devo ressaltar a perfeita percepção de que:

    ““quando se ofender dá poder, as pessoas se ofendem mais facilmente”.”

    Fantástica capacidade de extrair uma ideia e sintetiza-la. A vontade é de aplaudir de pé e enfaticamente com a expressão “BRAVO, BRAVÍSSIMO!!!”

    Isso é uma tática política e a política não é algo local. A iterão política é algo fundamental para que o Poder de grupos para tal organizados, sejam eles fraternidades ou meramente crápulas iniciados em associações, seja perene. Afinal, bastaria um governo em qualquer país ser destituído do Poder absoluto para arbitrar sobre a vida dos pagadores de impostos e logo tal, efetiva, revolução se espalharia com a derrocada do MITO ESTATAL como entidade mística com pleno direito sobre as populações a ela submetida para ser explorada e tiranizada por puro capricho daqueles que são insaciáveis em sua sede de Poder, de domínio sobre seu fisicamente semelhante.

    Basta perceber a história para se concluir que o mito estatal não se sustenta sem um vasto apoio entre todos os Estados.

    Se o Império Romano oferecia ao tal de povo romano a glória e o saque sobre os dominados pelo Estado romano que representava seu povo como coletividade”, o excesso de povos dominados e até representados tornou escassas as “presas”, devendo então o Império dominar o seu próprio “povo representado” para dele extrair o custeio de tal “maquina”. Obviamente as estratégias de guerra passaram a ser elaboradas com enfase no domínio da própria população “representada”, explorada e dominada.

    A idéia de dividir a população em variadas comunidades segundo o destaque de uma característica e antagoniza-las bináriamente (maniqueísmo) é nada mais que a ideia de Sun Tzu de fazer com que o inimigo (ou alvo-presa) lute entre si e se enfraqueça, poupando assim as baixas da própria tropa num confronto franco. Semear a CIZÂNIA na tropa inimiga (alvo-presa) pode somar-se à velha estratégia de INVENTAR INIMIGOS para CONQUISTAR AMIGOS.

    Assim, não é dificil perceber que a ideia de POBRES x RICOS insuflando a ideia de que ricos são malvados, moralmente inferiores, e pobres são os bons, moralmente superiores, ainda difundindo a FOFOCA de que os ricos desprezam, odeiam ou querem o mal dos pobres e até mesmo que apenas os querem explorar, foi uma ótima estratégia utilizada em conjunto com aliaças com os barbaros. …e o resultado foi o FEUDALISMO, onde os “salvadores” então governantes assim escolhiodos por deus tinham o direito de se imporem sobre a população servil, cuja missão divina era submeter-se a seus nobres protetores (guerreiros que também eram aquinhoados com titulos de nobreza e feudos para explorarem, digo “protegerem”.

    Não há muita diferença com a atual simpatia pelos maníacos islâmicos, que são capazes de grande violência. Dado que suas mentes estão completamente deterioradas pela ideologia que lhes promete um “objetivo supremo” e por tal redentor de todas as ações em seu nome realizadas. Afinal, uma ideologioa promete um FIM SUPREMO que a tudo redime pela ideia de conduzir a coletividade a um Paraíso ou Nirvana qualquer. Assim, qualquer um que se oponha ou critique a realidade do objetivo ou os meios para alcança-lo é imediatamente interpretado como um inimigo contrário aos objetivos apregoados. Assim, NADA pode ser QUESTIONADO numa IDEOLOGIA. Questionar a realidade que uma ideoplogia promete ou a realidade dos meios que preconiza para atingir o objetivo, estes sempre desconexos por serem de fundo casuísta e assim incorrendo em contradições e aberrações, ou questionar moralmente ou éticamente os meios ou os fins, torna o crítico um inimigo que almeja negar aos fiéis os Paraísos que desejam alcançar como retribuição a sua fidelidade ideológica sempre adaptada à sua subjetividade. Assim, tanto mais fanático o seguidor será quanto maior for sua necessidade de crer em tal fantasia para consolar-se ou medo de que sua confortavel crença – adaptada a sua subjetividade e interesse – seja esfarelada por críticos e ele perca o APOIO COMUNITÁRIO que o ENOBRECE MORALMENTE fazendo sentir-se como parte de algo maior e glorioso.
    …ENFIM, a VAIDADE é a grande influência para capiturar fiéis para uma ideologia. Afinal, ideologias arbitram como valor moral da comunidade a fidelidade à crença. Desta forma o adepto agrupado pode contar com um “qualidade” moral estabelecida para o integrante da comunidade e assim obter o “reconhecimento comunitário” implicito.
    Ora, quanto mais frustrado em sua miséria e baixa potência presumida, maior a necessidade de irmanar-se num rebanho. Como não poderia deixar de ser, esse rebanho atrai toda sorte de pastores e vaqueiros para dele usufruirem. Afinal o homem com ALMA de ESCRAVO sempre será encontrado pelo homem com ALMA de SENHOR para formarem a parceria perfeita. Com isso poderão atacar os desgarrados que não querem líderes, nem “objetivos supremos” ou FINS REDENTORES para atribuirem-se valor em qualquer comunidade em que possam ser inseridos.

    Muitos conflitos foram produzidos por esta ideia de política como continuação da guerra como forma de dominar ou, como disse Clausewitz sobre a guerra como meio de SUBMETER o outro a sua vontade.
    Logo: pobres x ricos; nacional x estrangeiro;
    negro x branco; consumidor x comerciante;
    mulher x homem; esquerda x direita;
    Estado bom x sociedade má; comunismo/socialismo x capitalismo;
    fiel x infiel; altruísta x egoísta;
    deus x demônio empregado x patrão
    e etc. etc. etc. …o eterno virtude x vicio.

    Os antagonismos são formados ao sabor do momento e da conveniência em inúmeras dicotomias antagônicas onde um lado é o BEM e o outro é o MAL. Claro que é arbitrada uma moral que determina quem é o virtuoso e quem é o adversário nocivo e moralmente inferior. …Isse apelo vai direto à vaidade, bem como pode ser vislumbrado por espertalhões como vantagem mais objetiva que o mero valor moral superior. …o escravo esta em oferta aos senhores. …rsrs

    Assim que pobres x ricos e fiéis x infiéis perdeu prestigio como arma politica de plena eficiência, surgiu com grande sincretismo o proletários x burguesia invocando o maniqueísmo de sempre: proletários virtuosos e burguesia exploradora dos coitadinhos virtuosos então injustiçados.
    Claro que o apelo antes de economico foi um apelo moral em franco sincretismo com a ideologia precursora da guerra entre Estado e sociedade civil. Onde o Estado semeia a cizânia na sociedade e assim passa a corromper a sociedade dividida aliciando suas partes ao mesmo tempo que as faz odiarem-se e combaterem-se. Ficando o Estado como entidade mistica detentora de uma moral superior e voltado para a defesa, dialética, da paz e da “justiSSa Çocial” apresentando como árbitro para os conflitos que a estratégia estatal fomentou. Assim, consegue SuntZutianamente unir T. Hobbes e J.J. Rousseau em sua estratégia de dominação. Afinal o Árbitro preconizado pelo utilitarismo de Hobbes encontra-se com a idéia de Rousseau para que o mais forte faça de sua força um direito e da obediência um dever. De modo que o príncipe não é um indivíduo, MAS a ORGANIZAÇÃO estatal hierarquizada sob uma infraestrutura ideológicadando-lhe suporte moral e utilitário, sempre visando tornar perene as estruturas de Poder para que um grupo e seus agregados explorem e tiranizem as classes produtivas.

    …rsrsrs
    …Assim o socialismo dialético enquanto infraestrutura ideológica do Estado totalitário fica coisificado no cotidiano mundial através da praxis de dominação político-guerreira contextualizada sob uma organização hegemonico dialética cuja a síntese é a própria tese à qual se opõe.
    Eis aí a praxis dialética enquanto metodologia da guerra social-politica descontextualizada sob a estratégia da milenar classe dominante …rsrs …rsrs …rsrs

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      16/01/2015 em 2:25 pm
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      Olá caro amigo Pedro.

      Eu tentei, por vezes, responder ao útimo tópico no qual travamos uma discussão, mas não consegui. Desconheço o motivo.

      Por não conseguir responder por lá, senti-me na obrigação de comunicar por aqui. Algo pessoal mesmo. Enfim eu reconheço que estava errado e consequentemente mudei de idédia. Sou madura e reconheço.
      Apesar do meu tempo corrido, li alguns artigos (incluindo esse – a propósito, muito bom – e seu comentário) e me convenci de que estava caindo nas armadilhas da tirania sem que me desse conta.

      Enfim, obrigado.
      O Instituto Liberal (e demais páginas do gênero que acompanho) tem me rendido minutos agregadores na Internet.
      Abraços!

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    12/01/2015 em 4:05 pm
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    Sou fã de carteirinha dos escritos do Sr. Morgenstern. Aliás, excelente texto! No aguardo do lançamento do seu livro pela Ed. Record.

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    12/01/2015 em 1:00 pm
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    Sensacional, de novo. Esse texto, em especial, ficou fora de série. Parabéns!

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    12/01/2015 em 12:39 pm
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    Se tem uma coisa que odeio é uma pessoa que se acha direita defender esquerda, e para quê? Para santificar judeus, me polpe, quer dizer que judeus são tolerantes, que eles esqueceram o holocausto e até fazem piada? Então por que ainda se proíbe livros como Mein Kampf, O Judeu internacional, Protocolos dos Sábios de Sião, e se proibi os estudos revisionistas em vários países? Por que a ADL está de é, sem arredar pé de suas ações nos EUA. Me polpe, jura que é direita e engana o s besta.

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    11/01/2015 em 6:45 pm
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    Excelente texto Flávio! Muito bom também a entrevista com o Scruton. Ele é demais.

    Ainda no tema, segue meu próprio comentário sobre o assunto
    http://bluestormrising.com/2015/01/10/3/

    “Uma religião que cria tantos extremistas não é congruente com os valores ocidentais. Judeus desconsideram varias leis que existem no Torá, como a lei que condena adultério com morte. Por que? Assim como os católicos, eles acreditam que seu livro sagrado foi escrito por homens embora que esses, naturalmente, tenham feito isso inspirados por Deus. Isso dá abertura para a interpretação das palavras sagradas conforme a época em que vivemos, conforme a moralidade humana progride. Os muçulmanos não tem tal recurso. Eles acreditam que o Qur’an é a palavra direta de Deus, então nada pode ser mudado. É um fardo que suprime a religião e garante que, geração após geração, ela produza individuais com uma mentalidade da Idade do Ferro que irão pegar uma faca e cortar a cabeça de um homem por ele ter a fé “errada” ou darão boas vindas à morte mártir como uma forma de acesso aos céus.”

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      11/01/2015 em 9:07 pm
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      Incrivel que dois ou três resolvam reagir de forma horrível e inconcebivél a ataques morais contra sua forma de ser e pensar. Se ao invés do HEDBO ficar fazendo humor (deboche) em cima do Islã, fizesse em cima dos Gays… O que aconteceria ?,, nada porque os Gays são a favor da liberdade? E tudo uma hipocrisia… Quando e ao diferente vale a premissa da liberdade, quando é com meus valores ai é ofensa e ataque… Se eu sair por ai criticando, fazendo humor dos Gays sofreria ataques piores. O VERDADEIRO HUMOR É QUANDO A IRONIA É FEITA SOBRE SÍ MESMO E O TRAGICÔMICO DO COTIDIANO… MAS IRONIZAR O OUTRO POR SEUS VALORES OU CRENÇAS E MODOS É OFENSA!!!

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        12/01/2015 em 9:34 pm
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        Bom, é possível falar mal de gays, embora isso faça tanto sentido quanto falar mal de pessoas negras (ou brancas, orientais, etc) ou de pessoas cujo nome da mãe é Maria… Você parece achar que algumas *ideias* devem ter um privilégio (e religiões são ideias)… Como assim? Quer dizer então que se alguem lhe dizer que o problema do mundo é que as pessoas como você não acreditam em duendes verdes você tem que ficar quieto a respeito? E qual o limite disso? Ah, OK, duendes verdes, não me parece uma ideia tão ruim. Mas e papai noel? E coelhinho da páscoa? E o comunismo e nazismo?

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