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Quem são os “Tea-Partiers”?

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 LIGIA FILGUEIRAS* / CATO INSTITUTE 

 

Desde a fase preliminar da campanha política que conduziu Obama à Casa Branca, a corrida presidencial nos EUA tem tido um tom diferente do das eleições anteriores. E não só pelo fato de estar no páreo – agora à reeleição – um candidato negro. Os temas abordados, as discussões em jogo, a própria diversidade de candidatos republicanos a candidato do partido revelam uma divisão mais evidente na sociedade: nem só de conservadores e de liberals [1] compõe-se hoje o eleitorado americano.

Antes mesmo das eleições passadas, o debate público começou a mostrar um universo de descontentes que não se afinavam nem com a direita nem com a esquerda. Muito ao contrário e acima de tudo… eles querem o governo o mais limitado possível em suas ações, nos moldes da Constituição americana. São os Tea-Partiers, fundadores de um movimento que começou com a revolta contra os elevados impostos nos EUA.

Mas quem são eles, afinal? Qual seu perfil? Há boas e más línguas comentando a respeito. Na Wikipédia, em português, a definição para o Tea Party é:

“um movimento social e político populista, conservador, de ultradireita, surgido nos Estados Unidos em 2009 através de uma série de protestos coordenados tanto no nível local como nacional.”

Já a definição em inglês pode ser traduzida assim:

“um movimento político americano que defende a estrita observância da Constituição dos Estados Unidos […], com a redução dos gastos do governo dos EUA e dos impostos e a redução da dívida pública dos EUA e do déficit do orçamento federal. O movimento é considerado, genericamente, como conservador, libertário e populista.”

No artigo “A outra metade do Tea Party”, reproduzido no site do Cato Institute, David Kirby e Emily McClintock Ekins** levantam essa questão: “uns dizem que se trata do renascimento do conservadorismo tradicional. Muitos insistem que é uma armação dos fundadores bilionários como meio para combater as regulações. Outros veem os tea-partiers como republicanos conservadores “arch-social“, motivados por questões polêmicas como aborto, direitos dos homossexuais ou até mesmo angústia racial.”

Segundo os articulistas, muitos ainda se enganam sobre os integrantes do movimento. O próprio presidente Obama e o Partido Democrata podem ter sobrevalorizado a guinada à esquerda do eleitorado, com um programa de governo que ampliou o welfare state. Mas se os estrategistas de campanha de Mitt Romney se empolgaram com os resultados das últimas eleições intercalares para o Congresso, valorizando o conservadorismo social e econômico do eleitorado, o melhor que fazem agora é focarem o lado econômico de suas preferências porque se não vão bater de frente com “a outra metade” do Tea Party.

Baseados em pesquisas realizadas pelo Cato Institute, David Kirby e Emily McClintock Ekins pintam as cores dos Tea-Partiers com os seguintes dados:

  • Pouco menos da metade – ou 48 por cento – dos tea-partiers, na recente Convenção da Virgínia, defenderam pontos de vista que podem ser definidos com mais precisão como sendo de libertários – conservadores do ponto de vista fiscal, com certeza, mas variando de moderados a liberais em questões sociais ou culturais.
  • Muitos desses ativistas, no entanto, não têm familiaridade com a palavra “libertário”. Ao invés disso, 60 por cento dos tea-partiers libertários se identificam como “independentes” ou “outra coisa”, em contraste com os 37 por cento de conservadores do tea party.
  • A outra metade da amostra da pesquisa, cerca de 51 por cento, tinha pontos de vista conservadores tradicionais – concordando com o “quanto menor o governo, melhor”, mas achando também que o governo deve promover os valores tradicionais.

Sendo duas metades – os libertários e os conservadores – com preferências aparentemente tão contraditórias, como os tea-partiers revelam sua preferência esmagadora pelo voto republicano?

  • Os libertários do tea party tendem a ser mais independentes e menos fiéis ao GOP (Grand Old Party, o Partido Republicano) do que os conservadores do tea party.
  • Os conservadores se identificam como sendo 63 por cento republicanos e 30 por cento independentes. Já os libertários se identificam como 39 por cento republicanos e 44 por cento independentes.
  • Quando indagados se é o Partido Republicano ou o Democrata que tem as melhores ideias para corrigir o governo, 80 por cento dos libertários disseram que “nenhum dos dois é confiável”, em contraste com os 64 por cento dos conservadores.

Figuras políticas

  • 92 por cento dos conservadores responderam ter votado no senador John McCain em 2008 e apenas 75 por cento dos libertários o apoiaram, com 16 por cento apoiando outros candidatos.
  • Sobre os políticos que melhor exemplificam o movimento tea party, os libertários dão preferência a Ron Paul. Os conservadores preferem Glenn Beck ou Sarah Palin.

Perfil

  • Os libertários do tea party são um pouco mais jovens, mais escolarizados e revelaram, quase em dobro com relação aos conservadores, sua probabilidade de “nunca” irem à igreja.
  • Quanto às questões sociais, os libertários do tea party estão menos preocupados do que os conservadores quanto à orientação moral do país, casamento gay, imigração, criação de empregos no exterior e aborto.

Economia

  • Compartilham da mesma visão. Os dois grupos têm extrema preocupação com corte de gastos do governo federal, redução do tamanho do governo e com a recém aprovada reforma do sistema público de seguro-saúde.

Contexto histórico

  • Nas eleições passadas, 70 por cento dos libertários votavam quase sempre em candidatos Republicanos. No governo Bush, os Republicanos ampliaram os direitos sociais e gastaram dinheiro do contribuinte mais rápido do que os Democratas. Resultado: as pesquisas de 2004 e 2006 mostraram os libertários mudando seus votos para os Democratas. Isto pode ter custado aos Republicanos o controle do Congresso.

Hoje

  • Libertários e conservadores do tea party estão unidos em sua irritação com Washington – 79 por cento dos libertários e 74 por cento dos conservadores.

Tudo indica que os libertários estão de novo à frente do movimento.

O texto original está em Tea Party’s Other Half

 

* EDITORA DO INSTITUTO LIBERAL

** David Kirby é analista político do Cato Institute; Emily Ekins é doutoranda em Ciência Política pela Universidade da Califórnia, em Los Angeles.

 

Ref. imagem: Wikipedia e site Tea Party Patriots


[1]Liberal“, no sentido hoje usado nos EUA, equivale ao dos sociais-democratas que admitem a intervenção do governo em assuntos econômicos, mas advogam a liberdade de expressão e de costumes. Cf. libertarian .

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