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Cientificismo: um ataque à liberdade

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Nos últimos anos muito se falou de ciência em boa parte das mídias populares. Em muitas das vezes de uma maneira afirmativa e rasa, em um tom que praticamente obriga ao espectador a “aceitar a ciência”, quase em um ato de fé.

O cientificismo é uma visão de mundo que defende a ideia de que somente a ciência pode fornecer conhecimento verdadeiro e confiável sobre a realidade, sendo considerada a única forma de conhecimento válido e legítimo. Essa visão se baseia na crença de que a ciência é capaz de fornecer explicações completas e objetivas sobre todos os aspectos da realidade, inclusive em áreas como a filosofia, a ética e a política e, por muitas vezes, acaba por desconsiderar tais formas de conhecimento.

Essa visão restrita ao método científico tradicional tem origem no Positivismo Lógico do Círculo de Viena. Este foi um movimento filosófico que surgiu na década de 1920, que defendia a ideia de que apenas afirmações verificáveis empiricamente podiam ser consideradas verdadeiras. Os positivistas lógicos acreditavam que a ciência era a única fonte confiável de conhecimento, e que todos os conceitos metafísicos e abstratos deveriam ser eliminados da filosofia.

Neste sentido, durante a pandemia do COVID-19 o cientificismo atingiu um de seus ápices ao criticar a postura de médicos que buscavam ajudar seus pacientes. Profissionais da medicina observavam seus próprios pacientes de uma forma não formal (sem estatística), e receitavam medicamentos que, em suas visões, teriam potencial de sucesso, método este que não é científico, mas que, por outro lado, era uma das únicas opções em uma situação que beirava à catástrofe. Como exemplo, a Hidroxicloroquina estava proposta para o SARS-COV1 (vírus da gripe asiática), que possui elevada correlação genética com o SARS-COV2 (vírus da COVID-19), ou seja, havia literatura científica comprovada para um vírus muito semelhante, o que proporcionava à receita um potencial de dar certo. O outro exemplo é a Ivermectina, considerada um antiparasitário de ampla ação e que atua em um range muito elevado contra parasitas humanos (desde vermes à vírus), mas que muitas vezes foi ridicularizada por ter seu uso associado à vermifugação. Afirmar que a Ivermectina não funciona para vírus, é como falar que o Viagra não funciona para disfunção erétil por que foi feito para abaixar a pressão sanguínea.

Nem sempre o propósito inicial da iniciativa tem a ver com o jeito que ela age no mundo. A descoberta da penicilina se deu por um acidente, quando uma amostra mofou e matou as bactérias de uma pesquisa científica. Muito na ciência se deu por acidente.

Um grande ponto a ser debatido é a crescente importância, associada à ascensão da ciência moderna, do racionalismo construtivista, que pelos séculos seguintes virtualmente capturou o pensamento livre sobre a razão e seu papel nas questões humanas. Essa forma de pensamento pode ser considerada uma falsa teoria da ciência e da racionalidade, na qual se abusa da razão, e que, mais importante, leva inevitavelmente a uma interpretação errônea da natureza e do surgimento das instituições humanas. Nessa interpretação, os moralistas acabam, em nome da razão e de seus valores particulares, lisonjeando o relativamente mal-sucedido e incitando indivíduos a satisfazer seus desejos primitivos.

Na verdade, a visão defendida por muitos ao longo dos séculos, e considerada a mais correta, é que a ciência deve ser entendida como uma forma de mostrar e simplificar aquilo que a realidade aparente e empírica é. Suzan Hack, conhecida por suas contribuições à filosofia da ciência e autora do livro “Defending Science-Within Reason(2003), defende que a ciência é uma investigação do mundo aparente, é contígua e tem origem no senso comum. Em outras palavras, existe um mundo indiferente à nossa percepção, e ele é o que é, independentemente de nossa opinião sobre isso.

Desde Platão a crença é uma das partes do conhecimento. Para que você possa dizer “eu sei”, é é necessário que, primeiro, acredite e, também, justifique tal coisa de acordo com Platão. É preciso eliminar o preconceito existente que desmembra conhecimento científico e crença. A ciência é uma forma (uma das melhores) para investigar o mundo perceptível, mas não a única. Nem sempre são os métodos científicos que levam à verdade sobre o mundo empírico.

O grande problema do cientificismo é a bajulação da ciência, como se esta fosse um selo de confiabilidade que dá garantia a tudo que alguém possa falar, ainda que seja errado, somente pelo fato de ser “especialista” no assunto. A ciência se torna quase um adorno. Um exemplo claro foi o uso do modelo de previsão de mortes utilizado pelo “Empirial College” durante a pandemia, que errou consideravelmente suas previsões, mas que foi utilizado em boa parte do mundo para justificar os “Lock Downs” e os ataques à liberdade individual. Países como a Suécia, que sabendo da falta de assertividade do modelo, não optou pela prática e, se saíram melhor (no indicador excesso de mortes) que a média da Europa, e muito próxima a outros países da Escandinávia, como Dinamarca (que utilizou da prática). Além disso, é importante lembrar que não há correlação entre ”Lock Down” e mortes na pandemia.

É necessário nos precavermos do pensamento de que a prática do método científico amplia os poderes da mente humana. A ideia de que todo debate é uma questão de juízo de valor, e não de fatos, não só permitiu ataques à liberdade individual durante a pandemia, como também impede os “estudiosos” profissionais da ordem de mercado de enfatizar, com a força necessária, que é impossível ao socialismo fazer o que promete.

Apesar de a ciência ser uma forma importante de conhecimento, o cientificismo pode ser problemático, pois desconsidera outras formas de conhecimento que podem ser importantes para entender questões complexas, como o significado da vida, o bem-estar humano, entre outras. Além disso, a ciência nem sempre é capaz de fornecer respostas definitivas para todos os problemas e questões da humanidade.

A captura da ciência por grupos de pressão a fez ser alçada ao padrão de “divindade”. Muitos ainda não se instruíram para entender o que realmente é. Atualmente, um pequeno clero de agentes políticos a usa como argumento de autoridade para avançar diversas pautas. Será ela transformada em um instrumento totalitário?

*Leonard Batista – Associado III do Instituto Líderes do Amanhã.

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