O que o Brasil deve aprender com o Paraguai?
No dia 27 de junho, a seleção Brasileira de futebol foi eliminada pelo Paraguai na Copa América realizada no Chile em decisão por pênaltis. Uma derrota marcante no futebol, por toda a tradição do Brasil no esporte, porém, o Paraguai não está só nos superando no futebol, mas também na sua condução política e econômica.
O Paraguai até o ano de 2012 era governado pelo ex-bispo ligado à teologia da libertação Fernando Lugo, do Partido Frente Guasú. Seu slogan de campanha era que o Paraguai deveria se posicionar da mesma forma que Lula e Hugo Chávez em suas eleições em Brasil e Venezuela, “jogando” seu discurso para a centro-esquerda. E como marketing do governo adotou a palavra guaraní Tekojoja, que significa “Modo de vida igual”. Lugo mantinha ligações perigosas com toda a esquerda latino-americana e mantinha alianças com o Exército do Povo Paraguaio (EPP), grupo guerrilheiro que atua na fronteira com Brasil e Argentina.
A situação para Lugo começou a ficar ruim após a descoberta do escândalo de paternidade no qual o presidente se envolveu na época em que era sacerdote da Igreja Católica. Quatro mulheres revelaram que tiveram filhos de Fernando Lugo em sua época de bispo. Lugo não resistiu a fazer os testes de DNA e foi comprovado em junho de 2012 que Lugo era o pai das quatro crianças. A ponto de o presidente paraguaio falar que “todos serão bem-vindos”, referindo-se aos filhos.
O episódio acabou manchando o governo Lugo, com a população paraguaia, que se questionou quanto a por que o presidente escondia seu passado. E poucos dias depois, militantes do Frente Guasú, membros do Exército do Povo Paraguaio e militantes sem-terra invadiram a fazenda de Blas Riquelme, senador oposicionista a Lugo. E as ações tomadas pela presidência foram de omissão, o que acabou culminando nas mortes de seis militares, que, somadas ao uso político das Forças Armadas Paraguaias, a revolta da população com índices de inflação altíssimos, baixo crescimento econômico, as alianças pouco ortodoxas via Foro de São Paulo, a censura estatal feita a jornalistas oposicionistas, a ação de militantes pró-Lugo de fecharem a Ponte da Amizade e a assinatura de termos do MERCOSUL sem passagem de votação pelo congresso nacional e pelo senado, desgastaram a presidência.
E no dia 22 de junho por 39 votos a quatro, Fernando Lugo era cassado da presidência da República do Paraguai pelo senado. E militantes favoráveis a Lugo causaram incidentes na Praça de Armas, onde fica o senado paraguaio. E como resultado da queda de Lugo, o Paraguai era expulso do MERCOSUL, com a alegação de que o impeachment de Fernando Lugo era um ataque à democracia e às garantias democráticas. E quem veio a substituir o Paraguai no grupo foi a Venezuela, o país que justamente mais atacou o governo paraguaio depois do impeachment, suspendendo o fornecimento de petróleo ao país, retirando embaixador e adidos militares de terras guaranis.
Com a queda de Fernando Lugo, assumiu seu vice, Federico Franco, do Partido Liberal Radical Autêntico, um partido criado em 1978 com o intuito de criar-se uma instituição que pudesse reunir os liberais do Paraguai (lembrando que, no Paraguai, liberal tem o mesmo sentido da palavra nos Estados Unidos) e que participou da chapa de Fernando Lugo em 2008. Franco buscou governar seu período com o lema de “governo de coalizão nacional”, reunindo diversas lideranças para driblar a crise política até as eleições de 2013.
Chegaram às eleições de 2013: O PRLA lançaria à presidência Efraín Alegre, e enfrentaria o candidato do Partido Colorado, Horácio Cartes. Cartes vinha do empresariado paraguaio, sendo dono do banco Amambay, de 25 empresas que atuam na agricultura, combustíveis e pecuária e também dono do Club Libertad, um dos clubes de futebol mais populares do Paraguai. Cartes só passou a se interessar por política em 2008, ingressando no Partido Colorado e criando a facção “Honra Colorado”, que tinha como lema “o povo do Paraguai está inquieto pelo curso político do país sob o governo esquerdista-liberal filo-chavista”.
Porém, Cartes mesmo com a fama de empresário competente, tinha que driblar uma marca negativa do Partido Colorado: era a legenda à qual era filiado o ditador Antônio Stroessner, que governou o país de 1954 a 1989, somados a quase 60 anos de governos do Partido. Com isso, os Colorados ganharam a pecha de clientelistas e corruptos, e o empresário tinha que usar a sua credibilidade frente ao país para poder driblar o passado escuro do seu partido.
E as eleições de 2013 acontecem: Horácio Cartes com 45,83% derrota Efraín Alegre, que teve 36,23% dos votos. Os pontos convincentes da campanha de Cartes foram as promessas de levantar capital privado para melhorar a infraestrutura do país, de modernização das empresas de atividades públicas e de atrair investimentos internacionais para criar empregos.
Cartes toma posse logo após as eleições, e com a saída do MERCOSUL o Paraguai tinha que procurar atrair investimentos estrangeiros para a geração de empregos e diminuir a pobreza extrema. Para isso, Cartes diminuiu a carga tributária paraguaia para pessoa física e isentou empresas de impostos, sejam elas empresas nacionais ou estrangeiras. E Cartes ainda flexibilizou as leis trabalhistas paraguaias, permitindo uma negociação melhor entre patrões e empregados. Os encargos trabalhistas paraguaios são cerca de 35% menores que as do Brasil, segundo dados da Fundação Getúlio Vargas.
Com a vinda de capital estrangeiro para o país e não estando mais preso pelo aparelhado MERCOSUL, o Paraguai cresceu em 2013 incríveis 14,1%, obtendo o terceiro melhor crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) do planeta naquele ano. E no ano passado, os guaranis tiveram um bom crescimento, de 5,8%, e diminuiu a pobreza extrema em 8% desde 2013. O Paraguai ainda esbarra na falta de infraestrutura, como a falta de aeroportos, rodovias, ferrovias e linhas de transmissão de energia elétrica, além do país não ter saída para o mar. Mas já é muito para o início de uma guinada verdadeira ao capitalismo no país. Paraguai e capitalismo deixaram de ser simples “amigos de chapéus”. Passaram a ser grandes amigos, com mostras de que só o capitalismo e seus mecanismos podem mudar um cenário desfavorável.
E boa parte dessas empresas que se instalam no Paraguai pela política econômica favorável infelizmente são brasileiras. Graças à política econômica malfadada, capitaneada pela presidente Dilma Rousseff e pelo ex-ministro da fazenda Guido Mantega, que via a política da “Nova Matriz Econômica” espantou tanto o capital nacional, quanto o capital estrangeiro. Nelson Hubner, vice-presidente da Federação de Indústrias do Estado do Paraná, em entrevista ao jornal “Gazeta do Povo”, afirmou que no Paraguai se tem preço para competir em nível mundial e no MERCOSUL, sentindo-se como um industrial gerando riquezas.
O Brasil precisa urgentemente aprender com o exemplo paraguaio: retirar um chefe de estado irresponsável, adotar uma política econômica que incentive a vinda de capital estrangeiro e trazer de volta também esse capital nacional que atravessou a Ponte da Amizade, flexibilizar as leis trabalhistas, reduzir a carga tributária e deixar que o mercado e seus mecanismos tratem de acabar com a pobreza extrema. Pois só com capitalismo e liberdade poderemos sonhar com um Brasil forte, com um Estado menos inchado e com mais liberdade de escolha para o cidadão.