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O marciano aristotélico

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RODRIGO CONSTANTINO *

Denis Rosenfield escreve um bem-humorado artigo hoje no Estadão, imaginando um marciano que chegou ao Brasil após uma aula de filosofia grega, mais especificamente aristotélica, sobre o princípio da não-contradição. Pobre marciano! Veio parar justo no país das contradições lógicas. Por exemplo:

Pois nosso amigo marciano ficou surpreso com o que estava acontecendo em nosso país, porque tudo o que via ele percebia como uma infração das regras mais elementares da lógica e, nesse sentido, de como entendia a política. Nas manifestações da última quinta-feira, anunciadas como “greve geral” ou como Dia Nacional de Lutas, ele não conseguia compreender o que poderia significar uma greve de movimentos sociais “organizados”, como CUT e MST, aparelhados pelo PT e financiados pelos governos petistas, contra o próprio governo petista. Trocando em miúdos, isso significava uma greve do PT contra o PT. O princípio de não contradição estaria sendo infringido!

Como podia ser que, no 13.º ano de um governo petista, o PT se sentisse tão incomodado com seu próprio governo? Cansado de si mesmo? Desorientado consigo? O que diriam, então, os cidadãos confrontados com tal confusão? Como pode alguém fazer auto-oposição?


Como eu já disse aqui, eis o enorme desafio do marqueteiro João Santana agora: criar a imagem de que Dilma e o PT representam a oposição ao próprio governo! A vida dos sindicatos que mamam nas tetas estatais também não é nada fácil, quando precisam protestar contra o patrão. Haja constrangimento. Voltemos ao marciano:

Perseguindo ainda a clareza e a distinção das ideias, terminou por se compadecer da presidente Dilma, pois ela se viu numa sinuca de bico. Do ponto de vista moral, teve uma atitude digna ao qualificar a herança de seu próprio antecessor como “bendita”, quando, na verdade, é “maldita”. Está agora recolhendo seus frutos, que crescem nas ruas em manifestações autônomas. Seu discurso está, nesse sentido, impregnado de contradições, apesar de no início de seu mandato ter mantido a coerência ao reconhecer o legado de Fernando Henrique Cardoso. Aliás, de sua própria iniciativa, fez uma “faxina ética”, mas depois recuou ao seguir novamente o seu antecessor.


Quem cobra coerência lógica no Brasil sofre, não resta dúvida. É como andar com um relógio suíço que marca a hora certa em uma praça pública cujo relógio central registra um horário totalmente distinto. Você se sente meio maluco, quando a maioria dos vizinhos parece não se importar tanto assim com a falta de sentido à sua volta. O marciano, naturalmente, resolveu ir embora e retornar para o mundo da lógica:

Numa manobra de grande inabilidade, o governo federal e o PT, em vez de procurar atender à indignação generalizada dos cidadãos brasileiros, partiram para uma tentativa de cooptar e burocratizar movimentos autônomos. Puseram em pauta a heteronomia. Sindicatos financiados com recursos públicos e movimentos sociais organizados também custeados pelo governo, como o MST, usurparam a bandeira da liberdade e da moralidade. O resultado foi um fiasco total: ruas comparativamente vazias, burocratização das marchas, uniformização dos discursos e indignação fingida.

A presidente, com humildade, deveria ter reconhecido desde o início os seus erros e os de seu antecessor, resgatando o princípio de não contradição e a clareza e a distinção de ideias. Poderia ter aberto um novo caminho. Nosso amigo marciano, por sua vez, confuso, preferiu voltar ao seu planeta. Pelo menos lá reinam a coerência e a racionalidade.

* PRESIDENTE DO INSTITUTO LIBERAL

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