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Como se tornar um “revolucionário” em oito lições

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Por André Luis Arruda Plácido*

Com um bom seminarista aprende em seus árduos estudos a ser alguém que tenta, de todas as maneiras, ajudar ao próximo a vencer os dissabores desta vida de ilusões materiais, estive pensando em como ajudar você, leitor, a se tornar um verdadeiro “revolucionário das causas proletárias” – até mesmo porque sendo hoje a clonagem coisa do passado, tal assunto é de extrema importância e indiscutível atualidade e relevância -, a fim de cultivar os grandes valores marxistas-leninistas em nossa sociedade degradada pelo mesquinho hedonismo capitalista cruel. A América Latina, palco das revoluções, golpes militares e ditaduras, ainda preserva sua vocação para o populismo, paternalismo, nacionalismo xenófobo, estatismo, esquerdismo revolucionário e tantos outros atrasos mentais. Mas isso é pura besteira. O mundo moderno que se dane! Vamos ao que realmente interessa.

1º – Vá até a loja de fantasias mais próxima e alugue uma farda camuflada, coturnos de militar, uma boina vermelha, e…bem, é melhor comprar a fantasia porque revolucionário que se preze, é revolucionário o dia todo!

OBS. O pijaminha do revolucionário deve obedecer todas as características anteriores

2º – Agora que você já tem sua roupinha de revolucionário, deve, mais que rapidamente, comprar um pôster do líder Che Guevara, do libertário e democrata Stalin, do grande economista político e filosófico alemão Karl Marx e do visionário-pacifista Mao Tsé Tung para ficarem pendurados no seu quarto, em uma espécie de altar, como se fossem santos milagreiros de bom-caráter.

OBS. Tudo que eles disseram/fizeram não deve, em hipótese alguma, ser questionado por se tratar da única e messiânica verdade para o povo que deve ser tolhido em suas vontades e pensamentos pela onipotente estrutura estatal.

3º – Agora você já tem a roupinha e os pôsteres. Falta a barba. Uma boa barba à la Fidel ou Osama Bin Laden é indispensável ao bom revolucionário. Se a barba te incomoda, pelo menos um cavanhaque à la Lênin é obrigatório.

4º – Este item é tão importante como os outros. Todo revolucionário tem seu hino e o nosso é o hino da União Soviética que começa assim: “União indestrutível das livres Repúblicas, Mãe Rússia se uniu para sempre ficar”…humm…Bem, a letra está meio defasada mas a gente pode usar um outro hino mais atual que é o “A Internacional” que diz assim em um de seus “poliânicos” refrães: “Messias, Deus, chefes supremos, nada esperemos de nenhum! Sejamos nós quem conquistemos A Terra-Mãe livre e comum!” Ahá, esse sim!! Revolucionário macho faz tudo com sua própria força e inteligência! Até mesmo porque Jesus e Deus, que podem fazer por nós? Eles nem mesmo existem! Essa historinha não é para revolucionário intelectualizado! É coisa de mulher que passa a vida dentro da igreja rezando e lendo a Bíblia. Pobre gente de um livro só! Não esqueça que o grande Marx disse: “A religião é o ópio do povo *”.

OBS. Se alguém disser que, na realidade, essa frase* Marx plagiou de Heine, que outra famosa frase: “O proletariado não tem nada a perder, exceto os grilhões” foi plagiada de Marat, que: “Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos” foi roubada de Shapper, que a expressão: “Ditadura do proletariado” foi roubada de Blanqui, que “O Manifesto comunista” é considerado pelos anarquistas como um plágio de o “Manifesto da democracia” escrito quatro anos antes por Victor Considérant e, que também roubou de Louis Blanc: “De cada um segundo suas capacidades, a cada um segundo suas necessidades” e até mesmo que, Henriette, sua mãe, antes de cortar relações com o filho que nunca trabalhara, disse: “você deveria juntar algum capital em vez de apenas escrever sobre ele”, desconverse, reclame de uma dor intensa no joanete ou finja um desmaio. Na pior das hipóteses saia gritando “O Brasil é Penta!”, “Acabou!”, “O Brasil é Penta!” que as pessoas vão entrar no clima e você vai se sair bem dessa.

5º – Assim como os maçons têm os seus segredos e sinais para identificação entre seus integrantes, temos também nosso dialeto revolucionário que conta com algumas palavras e frases crucias para o nosso movimento como: companheiro (camarada é coisa do passado), revolução, “luta de classes”, Marx, Lenin, Stalin, Mao, Pol Pot, Che Guevara, Fidel Castro, Trótski, evidentemente, efetivamente, Não ao imperialismo!, pequeno burguês, luta, burguesia, frente popular, Abaixo o neoliberalismo!, Morte ao capitalismo!, políticas sociais, Estatização já!, Diga não ao demônio ianque!, levante do proletariado, Viva Zapata!, Que é isso, companheiro?!, Eu não sou cachorro não! Skate or die! etc.

6º – Sempre que alguém quiser discutir ideologias você faz aquela cara de militante libertário e diz que, segundo Marx, “a hegemonia da superestrutura em forma de desestabilização social a serviço do imperialismo, passa por um momento em que a burguesia não estabelece um combate sistemático ao profundo empobrecimento da classe trabalhadora em nível de capital volátil e, assim, dissemina o empobrecimento e a mentira encoberta sob as garras imperialistas do capitalismo predador”.
Se a pessoa não entender nada, você vai passar por intelectual de esquerda. Sorte! Agora, se a pessoa rebater com informações e questionar seu posicionamento citando a obra-prima de Eugen Von Böhm-Bawerk, “A Teoria da Exploração do socialismo-comunismo” pela qual a idéia central de economia marxista cai por terra, ou até mesmo citar Ludwig Von Mises, faça cara de mau, grite: “Viva la Revolución!”, diga que a pessoa não passa de um “filhote da ditadura” e saia rapidinho sem olhar para trás. Assim você não passa por intelectualóide vermelho e ainda fica com fama de revolucionário convicto.

7º – Sempre vai haver um pulha colonizado pelo imperialismo americano metido a engraçadinho a fim de falar mal de Cuba. Vai dizer que em Cuba não há democracia, que em Cuba não há outros partidos políticos além do partido de Fidel, vai falar que em Cuba falta água encanada, que em Cuba existem apagões diários, vai dizer que em Cuba não há sindicatos, vai querer desmentir Lula quando disse que Cuba é uma democracia, vai dizer que em Cuba o talão de racionamento está calculado para 1.800 calorias por pessoa e que muitos produtos mencionados no talão não existem, enquanto outros aparecem e desaparecem conforme as colheitas, vai dizer também que ha quatro anos o talão de racionamento era de 1.600 calorias resultando em uma epidemia de doenças mentais e de crianças nascidas defeituosas, que Fidel lançou a culpa disso sobre uma suposta guerra biológica empreendida pela CIA mas que a Organização Mundial da Saúde descobriu que era um problema de avitaminose causada pelo racionamento de vitaminas e proteínas e que a OMS então enviou pastilhas multivitamínicas para socorrer a população cubana e obrigou o governo a subir a ração para 1.800 calorias.

Vai dizer que em Cuba está proibido o acesso dos cidadãos à internet, que dá cadeia ler matérias proibidas pelo regime, ouvir rádios e ver estações de TV estrangeiras, que é crime discordar de Fidel, que os Comitês de Defesa da Revolução, que funcionam em cada quarteirão, mantêm um registro das atividades de todos os moradores e quem conste como suspeito de não apoiar o regime será punido, vai dizer que no convênio Cuba-EUA, firmado por causa da multiplicação de balseiros fugitivos, os EUA recebem anualmente 26 mil cubanos – apenas em imigração legal -, enquanto na lista da Seção de Interessados, em Havana constam mais de 800 mil aspirantes a ir embora para os EUA, embora todos os fichados como emigrantes virtuais sofram as piores represálias e sejam condenados a trabalhos forçados e seus filhos sejam obrigados a freqüentar escolas especiais de “reeducação revolucionária”, vai dizer que Varadero e suas belíssimas praias são proibidas ao povo cubano mas não aos revolucionários da ditadura castrista e aos turistas e seus satânicos dólares e até vai dizer que Fidel culpa o Imperialismo Ianque e seu desumano bloqueio por seus fracassos enquanto seu chanceler Perez Roque afirma que a ilha tem relações comerciais com 115 países e recebe créditos preferenciais do Banco da União Européia….humm…então, você deve, mas do que depressa, fazer aquele olhar de quem vislumbra um futuro de vitórias proletárias, beije a foto de Stalin na sua camiseta vermelha, faça cara de anti-colonialista e afirme com convicção de líder guerrilheiro: “o que importa é que o ideal revolucionário está vivo!!”
Bem, o ideal pode até estar na UTI, mas ainda sobrevive e isso é o que importa!

8º – Este item é para o momento mais perigoso da militância revolucionária. Se trata do momento em que as pessoas que estiverem a sua volta forem bem informadas e o atacarem afirmando, sem qualquer traço de dúvida, que o mundo moderno e desenvolvido não aceita mais essa nossa conversa – que nem mesmo o boi dorme mais com ela- e, ainda por cima, achincalha nossos ideais latino-americanos de gestão proletária.

Então faça cara de bonzinho, sorria, não toque na palavra socialismo, defina-se com centro–esquerda, esquerda light ou, melhor ainda, você agora é um social-democrata! Vai soar menos radical e anacrônico. Nem pense em dizer a verdade ao ser perguntado sobre a dívida externa – lembre-se de Karl Radek e do gênio comunista da propaganda, Willi Münzenberg -, diga que está atrasado para a missa ou ouviu sua mãe te chamando e saia de mansinho. Ao chegar em casa guarde a fantasia do 1º item e, sem titubear, troque as fotos do altar por uma do Leonel Jospin – ou do Brizola mesmo, fazer o quê?!-, e ande bem vestido –sem usar gravata vermelha, um fraco de todo revolucionário -, de barba bem aparada e nunca, mas nunca mesmo, use as palavras do tipo: levante, MST, proletariado, maracutaia, revolta, revolução e tantas outras do nosso dialeto revolucionário.

Sendo assim, você será um verdadeiro porta-voz dos ideais revolucionários sem espantar as futuras vítim…quer dizer, as pessoas pelas quais teremos o dever e o prazer de servir. Se, em último caso, algum chato persistir em comparar os países europeus ricos e avançados com os atrasados que fizeram parte da ex-soviética cortina de ferro, comparar a Alemanha capitalista rica com a unificada e ex-comunista miserável, comparar a comunista e arcaica Coréia do Norte com a próspera e moderna Coréia do Sul, comparar a fechada China comunista com a produtiva e “rebelde” Taiwan e, novamente esculachar a menina dos olhos da revolução, Cuba, não dê ouvidos! A frase de Roberto Campos, dizendo que: “No Brasil se é socialista como pessoa física e capitalista como pessoa jurídica”, é apenas mais um engodo. Você é superior a toda essa infernal mentira americana! A luta continua companheiro! Isso é uma ordem!

VIVA LA REVOLUCIÓN!

(*) André Luis Arruda Plácido é graduado em Relações Públicas pela Universidade Estadual de Londrina (PR) – PR. Fez especialização em Comunicação e Liderança pelo Haggai Institute, em Cingapura.

Publicado originalmente no site “Usina de Letras

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

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