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A invasão dos “ratos”

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rato-em-casaA quinta-feira do longo depoimento de João Vaccari Neto, tesoureiro do PT – AINDA tesoureiro do PT – à CPI da Petrobras, por conta das denúncias de participação no esquema sistemático de corrupção que se abateu sobre a estatal, foi uma coleção de momentos pitorescos, a serem lembrados por aqueles que escreverem no futuro sobre os anos surreais que estamos vivendo. A começar pelos instantes em que, protegido pela possibilidade de não responder ou se esquivar da verdade, o senhor Vaccari foi acuado por parlamentares intrépidos. Foi o caso, uma vez mais, de Onyx Lorenzoni (DEM), que defendeu a acareação entre todos os envolvido na quadrilha, desdizendo-se uns aos outros em seus depoimentos prestados isoladamente, e disse que não tinha perguntado nada nem precisava de respostas de quem tinha ido ali apenas “para mentir”. Ou a tucana Mariana Carvalho, de Rondônia, que sugeriu usar um detector de mentiras e dispensou uma resposta que Vaccari pretendia dar, diante da insistente fuga do tesoureiro de todos os questionamentos anteriores. Impagável mesmo, porém, foi a invasão “zoológica” do recinto.

O servidor Márcio Martins de Oliveira liberou alguns roedores no ambiente, provocando tumulto e trocas de acusações pela autoria do hilário protesto. Um tanto inconveniente também, concordamos. A imprensa e os parlamentares começaram a se referir aos animais, depois recolhidos, como “ratos”. Uma ofensa ao seu “pedigree”; na verdade, eram dois hamsters e três esquilos da Mongólia. Os animais provavelmente estavam mais limpos que a imundície perpetrada na Petrobras – ao contrário dos verdadeiros ratos de esgoto, que talvez pudessem pelo menos competir em sujeira (já largando em desvantagem, é claro). Uma matéria do O Globo Online nos lembrou de que ratos, para valer mesmo, apareceram na propaganda do PT em 2002, quando este ainda não havia infestado, com sua praga, as entranhas mais profundas e obscuras do país. Representando os adversários do PSDB e um grito “contra a corrupção”, a propaganda da campanha vitoriosa de Lula mostrava os bichinhos roendo a bandeira nacional. O locutor finalizava dizendo: “ou a gente acaba com eles, ou eles acabam com o Brasil. Xô, corrupção. Uma campanha do PT e do povo brasileiro”.

Que ironia! O rato, como símbolo ofensivo, é normalmente associado a personalidades covardes e sub-reptícias, que tramam seus sórdidos esquemas nas sombras fétidas em que normalmente vivem. Qualquer rato metafórico que tenha agido na história política brasileira, e decerto que houve muitos, não se compara ao que a ninhada petista provocou, junto aos cúmplices traquinas das legendas da “base aliada” – aliança, diga-se de passagem, “permanentemente provisória”, diante das ambições totalitárias do PT. Com todas as críticas que os tucanos merecessem, certamente o temido Plano Real fez tudo, menos acabar com o Brasil. Se colaborou em algo para que esse risco caísse sobre nossas cabeças, foi em vir acompanhado da criação das condições para que os verdadeiros ratos, os mais danosos e destrutivos, abocanhassem o poder.

Entre ratos e homens, se estes homens forem os integrantes da quadrilha que suga verbas e esperanças do povo brasileiro, mais se poderá dizer em favor da dignidade dos primeiros. Contra esses ratos “humanos”, erguem-se pessoas de fibra e consciência – como o procurador da Fazenda Nacional, Matheus Carneiro, que lançou denúncia de crime de responsabilidade contra o ministro do STF Dias Toffoli. Como os milhões nas ruas em 15 de março. Gente de verdade, gente que não age no escuro, no fedor, na penumbra da sociedade. Gente de atitude.

Triste realidade, porém, é que hoje os ratos “humanos” no Brasil não precisam mais se ocultar. Na treva incessante da degeneração empreendida nos doze anos de lulopetismo, eles se atrevem a andar na luz do dia e mostrar sem pudores sua falta de amor à pureza cristalina da verdade e da transparência. A estrela vermelha não está sozinha. Anote os nomes: Rose de Freitas (PMDB), Fernando Ribeiro (PMDB), Otto Alencar (PSD), Omar Aziz (PSD), Zezé Perella (PDT) e Ivo Cassol (PP). Esses seis senadores retiraram suas assinaturas do requerimento do senador Ronaldo Caiado (DEM) pela abertura da importantíssima CPI do BNDES, o que travou seu prosseguimento. Ou estes outros seis: Romário – sim, um golaço contra -, Lídice da Mata, Roberto Rocha, João Capiberibe e Fernando Bezerra Coelho, os cinco do PSB (oposição!), e novamente Ivo Cassol (PP), que retiraram suas assinaturas do requerimento pela abertura da CPI dos Fundos de Pensão. Por que impedir que as imundícies sejam vasculhadas e apuradas? Quem se incomoda com isso, senão os ratos?

Aqueles que levantaram bandeiras de moralização e combate à corrupção no já distante 2002 estariam mais corretos se dissessem que propagandeavam, com a imagem dos ratos roendo a bandeira brasileira, sua própria plataforma de governo. Além de solapar as bases econômicas mais sadias, apresentaram uma face endêmica e repleta de metástases do câncer que se diziam prontos a combater. Foi com eles que se construiu o maior escândalo de corrupção republicana do mundo. Uma corrupção que não se estruturou apenas para engordar um rato ou dois, mas um exército inteiro deles, prontos a se retroalimentarem – mas que agora, contrapostos os depoimentos uns dos outros, tentam se negar e mordiscar mutuamente, em busca da saída. Queremos alimentar a crença na justiça e em que, em nome de um futuro melhor para o país, terão, na pressão popular e nos inquéritos que precisam ir adiante, a imensa ratoeira que vai impedi-los de escapar; ratoeira que sem dúvida será mais adequadamente aplicada contra eles que sobre os pobres coitados dos hamsters e esquilos da Mongólia.

 

 

 

 

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

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