Profetas do Passado

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Colaboradores

19.10.06

 

Profetas do Passado

Rodrigo Constantino*

Preciso contratar um petista como administrador de portfolio! Qualquer um serve. Afinal, os petistas devem ser excelentes gestores de recursos. Não estou me calcando apenas na estupenda performance de Lulinha, o filho do presidente Lula que ficou milionário da noite para o dia, através da compra, pela Telemar, de sua empresa de jogos, a Gamecorp. Também não estou focando somente na brilhante performance do patrimônio do próprio Lula durante seu mandato, levando o “pai dos pobres” a ficar praticamente milionário. Tampouco penso no churrasqueiro que levanta milhões para a compra de dossiês. Não é nada disso! Tenho em mente o rebanho todo de petistas, que repete, em uníssono, que a Companhia Vale do Rio Doce foi vendida a preço de banana, praticamente entregue de graça pelo governo. Eles é que me despertam tanto interesse pela contratação de algum petista, qualquer um, para gestão de recursos. Explico.

O único “argumento” que a turma retrógrada, que ainda acha que o Estado deve ser empresário, utiliza, é que a CVRD vale uns R$ 100 bilhões hoje, enquanto foi vendida por US$ 3,34 bilhões em 1997. Como diria Jack, o estripador, vamos por partes: em primeiro lugar, o governo vendeu 42% do capital votante por este valor para a CSN, o que avaliava a empresa toda em mais de R$ 12 bilhões, com um ágio de quase US$ 600 milhões em relação ao preço mínimo; em segundo lugar, tratava-se de um leilão, que incluía a participação de várias empresas estrangeiras, como Anglo American, Nippon Steel, Kawasaki, Kobe, Mitsubishi, Alcoa etc. Ou seja, qualquer empresa poderia ter participado, e pago mais para levar um ativo que, segundo os petistas “especialistas”, estava de graça. Por que não fizeram? Alguma conspiração mundial?

Fora isso, a Vale tinha ações negociadas na Bolsa de Valores, com milhares de investidores do mundo todo comprando e vendendo diariamente, determinando o valor de mercado da empresa. Durante o primeiro semestre de 1997, esse valor oscilou em torno de R$ 10 bilhões. Em outras palavras, qualquer um, até mesmo um petista, poderia ter comprado ações da Vale por um preço abaixo daquele pago pela CSN. Fica a questão: se tal valor estava “de graça”, por que diabos os petistas não estão todos milionários hoje? Será que petistas, logo eles, não gostam de dinheiro? Um investimento nesta época nas ações da Vale teriam multiplicado o capital por cerca de 20 vezes! Qualquer petista que levantasse algo como R$ 50 mil poderia estar hoje milionário! Com o benefício da retrospectiva, fica bem fácil acertar. Mas se, de fato, na ocasião, os petistas sabiam do futuro da Vale, e que ela valeria mais de R$ 100 bilhões em 2006, precisam explicar por que não estão todos ricos, mesmo sem “mensalão”, cargos de confiança bem remunerados para camaradas ou “solidariedade” de empresas como a Telemar.

Os petistas ignoram que o lucro da Vale estatal oscilava em torno dos R$ 500 milhões por ano. Hoje, esse lucro passa dos R$ 10 bilhões! Só de imposto de renda, a Vale pagou mais de R$ 2 bilhões em 2005. Será que essa diferença de performance não explica também a diferença no valor de mercado da empresa hoje e nos tempos de estatal? Entre os motivos desse exponencial aumento do lucro está o cenário global, com a China comprando minério de ferro adoidado, puxando o preço em mais de 70% para cima em um único ano! Será que os “clarividentes” petistas já sabiam disso também, lá em 1997? Além disso, a performance deve-se muito à gestão privada, infinitamente mais eficiente que a estatal. Os ganhos de produtividade são evidentes, o foco no retorno sobre capital investido é total, a remuneração de acordo com a meritocracia é um forte incentivo, enfim, a transformação da empresa de estatal para privada é boa parte da explicação desse enorme aumento em seu valor de mercado. Os petistas fingem não ver nada disso, e repetem apenas que o “patrimônio nacional” (sic) foi entregue para capitalistas exploradores.

Em resumo, o presidente Lula trouxe ao “debate” o tema da privatização, como se vender estatais paquidérmicas, verdadeiros cabides de emprego para colegas, fosse atestado de pacto com o diabo. Claro, Lula pretende fazer terrorismo de Alckmin frente aos nacionalistas xenófobos, que realmente acreditam que o petróleo é deles (se ele é nosso, eu quero minha parte!). Quer conquistar a esquerda jurássica, que apoiava Heloísa Helena. E seus seguidores fiéis, autômatos, partem logo para a repetição de chavões sem reflexão alguma. Nesse contexto é que escutamos estultices como as que condenam privatizações que tanto fizeram para melhorar o País. São quase 100 milhões de celulares hoje! Antes, uma linha fixa analógica custava uma fortuna e demorava meses para ser instalada. Imagina ter ainda Usiminas, CSN, Embraer, Telebrás, Embratel, Vale, Banespa, Banerj, as ferrovias, tudo estatal, usadas como veículos políticos pelo PT, que aparelhou o Estado de forma assustadora! Muitos cargos para distribuir entre camaradas, muito dinheiro para usar com “mensalão” e compra de dossiês. O sonho dos petistas, dos parasitas. O pesadelo dos consumidores e pagadores de impostos.

Mas de volta ao começo, quero contratar um petista como gestor de portfolio! Todos os dias, milhares de investidores, totalmente focados nisso, digladiam-se para obter boas oportunidades de investimentos. Não existe almoço grátis. Os riscos são reais, qualquer aposta pode fracassar, o futuro é incerto. Mas isso é a realidade dos mortais comuns. Não dos petistas! Esses sim, sabem o futuro! Lá em 1997, quando a Vale foi privatizada através de um leilão aberto com a presença de várias multinacionais, os petistas já tinham convicção de que o preço era irrisório, uma verdadeira pechincha. Resta entender por que os profetas do passado não estão ricos. Ao menos não pelas vias legais…

* Economista, articulista, autor do livro
“Estrela Cadente: as contradições e trapalhadas do PT”.

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Bernardo Santoro

Bernardo Santoro

Mestre em Teoria e Filosofia do Direito (UERJ), Mestrando em Economia (Universidad Francisco Marroquín) e Pós-Graduado em Economia (UERJ). Professor de Economia Política das Faculdades de Direito da UERJ e da UFRJ. Advogado e Diretor-Executivo do Instituto Liberal.

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