Por que a América Latina exporta gente?
Colaboradores
13.06.06
Por que a América Latina exporta gente?
___ Josino Moraes*
A América Latina exporta gente porque aqui não há oportunidades de trabalho. E as pessoas ficam loucas quando não têm o que fazer, como ganhar a vida. Os Estados Unidos podem erguer quantos muros forem possíveis em suas fronteiras, mas isso ainda não resolveria o problema. As autoridades americanas podem prender latinos ilegais, bem como multar seus empregadores ou tomar quantas outras medidas legais forem possíveis, mas isso ainda não resolveria o problema. Em último caso, eles podem até deportar as pessoas. Mas, como disse o presidente George W. Bush recentemente, esta não é uma questão policial. Os minutemen podem se multiplicar, mas sua eficiência ainda assim seria duvidosa. Para complicar o cenário, os americanos são um povo muito religioso e as Igrejas não se importam nada com noções como fronteiras e nações. Os Estados Unidos têm que entender o que os romanos descobriram: Sublata causa, tollitur effectus –
eliminada a causa, cessa o efeito. Caso contrário, Las Marchas serão um problema permanente.
A pergunta principal é por que a América Latina não cria oportunidades de trabalho. Gerar empregos depende do funcionamento de uma economia de livre mercado, além de outras premissas. A China, com um único partido político, possui uma economia muito mais democrática do que a América Latina. Então, primeiramente, nós devemos fazer uma diferenciação entre democracia política e democracia econômica. O fato é que se o que se procura é o bem-estar econômico de uma população, a democracia econômica é muito mais importante do que a democracia política.
A mais importante evidência de democracia econômica é o mercado de trabalho. Como dito por um jovem economista chinês, “A China é o país mais capitalista da face da terra em termos de mercado de trabalho”. Neste sentido, a China é uma economia muito mais liberal do que a França. Recentemente, algumas medidas, de fato nada de muito importante, para “libertar” o mercado de trabalho na França foram derrotadas. Na América Latina, esta situação é muito mais séria do que na França. A França sofre as conseqüências de seu passado de predomínio da social-democracia, da arraigada tradição sindicalista, etc. A América Latina sofre a influência das idéias do fascismo italiano de Benito Mussolini.
Além disso, na América Latina, nós temos os monopólios estatais, e para piorar nosso destino, os mais importantes monopólios estão no setor energético, o principal insumo da cadeia produtiva – Pemex, Petróleos de Venezuela (PDVSA), Petrobras etc. Elas são aquilo que se poderia denominar de “As Intocáveis”. Esta é uma das razões da atual crise petrolífera. Pode-se suspeitar piamente que há muito petróleo sob o solo latino-americano, pois estas estatais dão origem a imensos benefícios e privilégios para seus empregados, inclusive salários incrivelmente altos. E ademais, são fontes de incrível ineficiência, além de serem, também, fontes de corrupção, devido aos altos preços dos bens e serviços que elas oferecem. Elas dão origem a um dos mais importantes segmentos da Nomenklatura
local. O lema El Petroleo Es Nuestro, que Cárdenas lançou no início dos anos 30, é uma grande mentira. O petróleo serve aos enormes privilégios de seus empregados e aos seus milionários fundos de pensão.
O incrível é que devido ao lamentável estado mental das populações locais e com a ajuda da mídia, os políticos podem, tranqüilamente, fazer apologia desses monopólios – verdadeiros monstros econômicos – em pleno início do século XXI!
Se fosse possível resumir a tragédia da América Latina em apenas uma palavra, poder-se-ia dizer “privilégios”. Eles estão em todo lugar nessas sociedades. Eles impedem qualquer possibilidade de desenvolvimento econômico. A existência desses privilégios impõe uma carga tributária insuportável para o resto da sociedade. As conseqüências são, dentre outros fatores, a existência de gigantescas dívidas públicas, insustentáveis a longo prazo. E as enormes taxas de juros são a seqüela natural que obstrui o normal funcionamento de processos econômicos de livre mercado.
* Josino Moraes, 64, é engenheiro pela Universidade Mackenzie e economista pela Universidade de Estocolmo. É autor do livro A Indústria da Justiça do Trabalho – A Cultura da Extorsão.