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Tiros em Orlando: uma visão sobre o Controle de Armas

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Nota do IL: Como alguns podem perceber, nos últimos tempos temos aberto um bom espaço para que nossos leitores e seguidores possam publicar seus textos, mesmo que muitas vezes sejam divergentes entre si. Nosso portal é um espaço aberto para que as várias matizes dos defensores da Liberdade possam expressar seus pontos de vista livremente. E é respeitando esta postura que publicamos o texto abaixo. 

Christiani Menusier Giancristofaro*

A segunda emenda à Constituição americana, como qualquer outro princípio de direito, não é absoluta. É só lembrar que até mesmo o direito à vida é relativizado. Historicamente, a segunda emenda foi juridicamente interpretada a partir de diferentes pontos de vista. Urge que ela seja revista e atualizada uma vez mais.

Extremamente angustiante é assistir a maioria da população, incluindo diversos atores políticos, nomeadamente a mídia, raramente tocar na razão última que permitiu mais esse banho de sangue: o fácil acesso que as pessoas têm a armas de fogo, incluindo as de repetição. Essa é, claramente, a causa imediata desse massacre, quanto a de outros inúmeros que ocorreram no passado nesse país que eu, pessoalmente, tenho também como meu.

No último sábado, acordamos com a horrível notícia do que houve em Orlando. Primeiramente, foi aventada a hipótese de atentado terrorista. Ainda hoje, esse motivo é um dos mais falados. Contudo, isso me parece muito superficial. Quanto mais informações temos a respeito do assassino, percebemos que sua motivação deve ter sido outra. Com o que se sabe atualmente, o mais provável é que esse criminoso era um sujeito com seriíssimos problemas psicológicos/psiquiátricos e que tinha tendências homossexuais, com as quais não conseguia se harmonizar, não se aceitando enquanto tal. A ideologia terrorista islâmica exerceu um papel cosmético nessa tragédia. Não sabemos ainda, talvez nunca saibamos, qual o exato peso e de que forma essa ideologia foi pelo criminoso utilizada. Pode ser que ele, por ter nascido de família muçulmana, não conseguisse aceitar sua própria homossexualidade. Pode ser que ele tenha realmente concordado com o terrorismo como forma aceitável e desejável de se lutar por ideais. Pode ser que ele tenha tão somente querido deixar a entender que seu motivo primeiro foi realmente o terrorismo, quando na verdade o que ele estava fazendo era tentando despistar sua verdadeira motivação: o ódio que sentia de sua homossexualidade e a inveja que tinha de todos aqueles que viviam bem e felizes com suas próprias. A necessidade que ele teve de ligar para 911 durante o massacre para dizer de sua fidelidade ao ISIS pode ser indicativo disso. Ou não.

Claro está que as possibilidades são inúmeras. O que sabemos de suas motivações e o que saberemos a respeito delas é incerto. Foge ao controle. No entanto, a causa mais imediata é também a mais passível de ser controlada. Evidentemente, refiro-me ao acesso da população às armas de fogo. Não se trata de abolir a segunda emenda; isso seria suicídio político para quem o propusesse e, além disso, é juridicamente desnecessário, haja vista o aparato do direito possibilitar sua atualização por meio de interpretação jurídica histórica, por exemplo. É imprescindível que haja um efetivo e rígido controle na venda e no uso de armas de fogo, principalmente as chamadas “de repetição”. Apesar de acima ter dito que essa é a causa mais passível de ser controlada, obviamente, isso não quer dizer que tal controle é fácil. A população precisa, coletivamente, perceber a necessidade urgente de dificultar o acesso de pessoas a armas. Dificultar; não proibir. Utilizando-se da razão e não de ideologias, fica difícil alguém defender o acesso fácil a armas, como o que acontece aqui nos EUA. Compram-se armas em supermercados! Que valor cultural é passado de uma geração para outra, quando as crianças crescem em uma sociedade na qual no mesmo estabelecimento que seus pais compram comida, roupas, brinquedos, eles também podem comprar armas de fogo? O supermercado, conceitualmente, é o lugar onde temos acesso àquilo de que necessitamos e/ou desejamos para viver. Nele, os artigos estão dispostos de forma a encorajar ao máximo seu consumo. Bem, o uso de armas não deveria ser encorajado em lugar algum. Armas, no máximo, são instrumentos que precisam ser utilizados em situações extremas e restritas. Esse é o valor que a espécie humana deveria passar para seus rebentos. Se o que realmente desejamos enquanto seres racionais é criarmos e reproduzirmos valores que nos permitam viver civilizadamente, coabitando da forma mais harmoniosa possível, essa postura perante o acesso a armas de fogo é a mais capaz de nos manter no caminho desse ideal. Não tenho nenhuma visão romântica do mundo; não sou do tipo que “abraça árvores”. Pelo contrário, admito que tenho até mesmo um certo desprazer com pessoas assim. Mas também me desagrada muitíssimo os truculentos do outro lado. Estes, como aqueles, são mais levados por ideologias do que guiados pela razão.

Nesse ano de eleições presidenciais nos EUA, temos uma excelente oportunidade para mostrarmos de que lado estamos nessa questão. Eu não que, infelizmente, não votarei por ainda não ser cidadã americana (faltam só 4 anos, woohoo!). Os candidatos já se posicionaram: como o esperado, Trump acha que barrar a entrada de muçulmanos é a grande solução, enquanto Clinton sublinha a necessidade de dificultar o acesso das pessoas a armas de fogo. Well, well, nem preciso dizer em quem votaria. Apesar de não concordar com ela em várias questões, principalmente, em relação ao tamanho do Estado, e também a políticas sociais sobre inclusão e igualdade (me faz lembrar muito a ideologia que impera no Brasil, onde todo mundo “é tadinho”), Hillary Clinton, por sua liderança, por seu conhecimento de política internacional e por outros atributos, é a melhor candidata. Já Donald Trump não passa de um apresentador de reality show. Sim, ele também é um empresário de muito sucesso financeiro; contudo, o lado que ele próprio deixou mais em evidência foi e é o de alguém que faz qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, para atingir seu objetivo. Até mesmo brincar de fantoche perante os telespectadores, oops, perante os eleitores. Se seu público quer um bully, ele é um. Se o que querem é alguém que mostre suas garras e fome de luta perante os Putin do mundo, Trump vende essa imagem. Alguém xenófobo, que vai acabar com todos os problemas internos construindo um muro físico e diplomático para nos separar do mundo, temos Trump, Trump, Trump. Esse indivíduo tem o dom de reforçar o que de pior há nas pessoas.

Por fim, cabe lembrar que (quase) todos queremos basicamente o mesmo: viver em um ambiente que nos proporcione a melhor vida possível. Como “a melhor vida possível” possui provavelmente o mesmo número de definições do que a quantidade de pessoas vivas no mundo, devemos tentar sempre pautar-nos na razão humana e tê-la como a linha que nos une, fazendo possível a constatação/formulação de paradigmas universais. O controle rígido ao acesso das pessoas a armas de fogo é um valor que deve ser considerado como parte do grupo de medidas de proteção a todos seres humanos, universalmente.

* Christiani Menusier Giancristofaro formada em direito pela Universidade Paulista, atualmente se dedica as leis de imigração no Hunter Taubman Fischer Lawyers.

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