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Se falar é fácil, ouvir também deveria ser

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Dizem por aí que “falar é fácil”. Ótimo, que assim seja. Contudo, nem sempre funcionou assim.

Em uma época não tão distante, durante o absolutismo europeu, um filósofo iluminista francês conhecido pelo pseudônimo Voltaire teve seu pensamento sobre o direito de livre expressão assim resumido: “Não concordo com uma única palavra do que dizes, mas defenderei até a morte o direito de dizê-la”. Resultado: foi perseguido, preso, exilado e teve alguns de seus escritos queimados em praça pública.

Mais recentemente (especificamente no ano de 1973), um outro cidadão, Chico Buarque, resolveu se expressar, dentre outras músicas, por meio de um “Cálice”. Resultado: foi perseguido, exilou-se e teve alguns de seus escritos “queimados”.

Atualmente, com notória facilidade, podemos escutar músicas como “só surubinha de leve” ou “nega do cabelo duro” ou, quiçá, marchinhas de carnaval como “cabeleira do Zezé” ou “Maria Sapatão”. Imorais, de baixa estirpe ou preconceituosas – façam suas escolhas -, mas não ilegais! Isso porque, felizmente, está nas nossas mãos, olhos e ouvidos a escolha de (não) escutar e (não) acreditar nessas mensagens. Ou, ainda melhor, mostrarmos porque tais mensagens podem ou não serem patéticas através de um simples boicote voluntário de tais manifestações pela mera abstenção pessoal da atenção.

A liberdade de expressão deve ser entendida não apenas como a liberdade para se expressar, mas também em se permitir serem ouvidas as vozes dissidentes.

Se falar é fácil, talvez tenhamos que aprender a ouvir fácil. Escutar, por sua vez, é uma ação que depende da vontade do interlocutor em prestar atenção.

Devemos aprender a conviver com formas de expressões que, muitas vezes, podem nos desagradar, magoar, chatear e nos deixar enfurecidos. Talvez, melhor do que nutrir um intenso desejo de calar vozes desagradáveis de discordância seja mostrar que essas vozes estão erradas, que são falsas e que não merecem nossa atenção. A arma mais poderosa contra discursos de ódio não é a repressão, mas mais liberdade de expressão.

Para tanto, podemos fornecer uma educação melhor, um argumento melhor, fontes de informação melhores, dados científicos e estatísticos que embasem o discurso.

A liberdade caminha junto com a responsabilidade. Se exacerbamos os limites dos nossos direitos e, eventualmente, ferimos os direitos de outrem, então que haja a devida responsabilização. E, para isso, é mais apropriado que utilizemos os vários mecanismos cíveis disponíveis para a reparação e para a interrupção do dano.

Papai Noel, coelhinho da páscoa, salvador da pátria, pai dos pobres, mito… Eu tenho o direito de me enganar sobre a verdade – e que eu seja considerado um tolo por isso. Se alguma pessoa sustenta veementemente que não houve holocausto durante o nazismo na Segunda Guerra mundial, que a Terra é plana, que a ditadura seria a melhor saída para os infortúnios de uma sociedade, convença-a de que aquelas ideias estão equivocadas. Prendê-la ou retirar o seu direito de se expressar, antes mesmo de respeitado o devido processo legal, é censura! E isso a história já demonstrou como termina.

Afinal, para que o pau que bateu em Chico décadas atrás não bata mais em Francisco agora, a melhor saída é aprendermos a escutar mais.

Vander Santos Giuberti – Associado III do Instituto Líderes do Amanhã.

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