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Os “especialistas” e o efeito Dunning-Kruger

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Estamos profundamente mergulhados na era do rápido, do instantâneo e do ilusionismo do imediato. Nesse contexto, a primazia é quase sempre de “especialistas de araque” em quase tudo – e de ungidos de uma “elite intelectual e moral”.

A imensa maioria das pessoas crê que entende de tudo, quando na verdade eles sabem de quase nada. Nosso cérebro é uma máquina extremamente complexa, que busca minimizar energia e esforços e maximizar resultados. Alojamos na mente determinados padrões de comportamento e histórias, e estímulos externos e necessidades internas nos fazem associar informações, dando-nos a sensação de que sabemos de quase tudo.

Nesse “novo mundo da extrapolação dos ID’s”, muitas das decisões sobre política, economia e negócios, por exemplo, são tomadas com base no piloto automático dos instintos, desprovidas de grandes reflexões e análises, notadamente com o foco curto-prazista.

Decide-se tal qual se deseja, renunciando-se à lógica e aos valores virtuosos. O que conta mesmo é o impulso instintivo que mascara o real, impedindo o funcionamento do ego que opera na racionalidade. Em suma, um mundo dos prazeres imediatos.

Evidente que a ascensão das redes sociais trouxe como efeito colateral os holofotes e as vozes de legiões de idiotas em uma série de temáticas. Esses são os que nunca leram sequer a orelha de um livro importante sobre, por exemplo, política, economia e/ou negócios, e que estão por aí a opinar e a aconselhar sobre o “correto” a ser executado. Ignorantes se transformaram em notáveis especialistas – de araque.

Esses dias me encontrava em uma reunião, numa discussão sobre estratégia empresarial, quando surgiu a recomendação de um executivo, do alto de seus 35 anos, crendo ser um especialista no tema, apontando como solução a única coisa que, pelo comprovado conhecimento, não poderia ser realizada. Felizmente, o sujeito só opinou…

Tal fato aparenta estar naturalizado hoje. Quanto menos um indivíduo sabe sobre algum tema, mais ele acredita que o conhece. Não critico o rapaz, há uma lógica por detrás disso. Quanto menos se estuda e se conhece sobre algo, mas fácil se torna cair na armadilha de que se conhece tudo sobre o assunto. Quanto mais estudamos e temos experiência na questão, mais se conhece a complexidade das temáticas envolvidas. Há estudos que comprovam esse conhecido efeito, denominado de Dunning-Kruger.

Nas mais diversas situações prosaicas, como também em nível de nossas autoridades, há transparentes e grosseiras manifestações desses tipos especialistas de araque e de ungidos. Eles acham que entendem de tudo sem saberem de nada. Nunca estudaram profundamente uma temática e/ou vivenciaram a realidade objetiva em uma respectiva área. São como artistas que proclamam a solução terrena para os problemas econômicos e sociais.

São, tal qual o grande Thomas Sowell classifica, ungidos, uma especial de “elite intelectual” – e moral – que promove uma particular visão de mundo forjada em ambientes impermeáveis à realidade fática. São “especialistas” superdotados intelectual e moralmente, que se acham superiores a nós, meros mortais, ignorantes. Eles possuem um chamado divino e, assim, devem decidir pelo povaréu. Mesmo os membros especialistas, de fato, na população, não sabem de sua especialidade, uma vez que o que vale é a ilusão ideológica dos ungidos.

É isso. A cognição racional e o conhecimento comprovado estão fora de moda. Surfe-se a onda ideológica do prazer e do inverossímil. Até mesmo porque a realidade, por meio dos fatos e das evidências, já atestou o desastre dos sonhos impossíveis.

Os genuínos especialistas, atualmente, são taxados de incautos e, para utilizar um termo da moda, de negacionistas. Aqueles dotados de real conhecimento, e que realizam uma análise racional de custo-benefício, e dos respectivos “trade-offs” em temas políticos, econômicos e em negócios, são aqueles que não entendem de nada… Conhecimento, lógica e criatividade foram inquestionavelmente superadas pelo puro desejo e pelo nobre bom-mocismo.

Nelson Rodrigues já dizia que “os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos”. Estão por toda parte, e a parte midiática os auxilia enormemente na impregnação da cultura do imediatismo e do desastre.

A era é, mais do que nunca, da supremacia dos instintos sobre a racionalidade. Quando a racionalidade desaparece, na política, na economia e nos negócios, o povaréu tem que acreditar nos especialistas de araque e nos velhos e novos ungidos. Os verdadeiros especialistas que se danem! Eles não sabem de nada, são negacionistas, e por aí afora. É desse jeito que, nesse “novo mundo”, destituído de conhecimento e de razão, repleto de prazer, reiteradas decisões irrefletidas vão acumulando consequências negativas no presente e hipotecando, sempre, o futuro das novas gerações.

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Alex Pipkin

Alex Pipkin

Doutor em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS. Mestre em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS Pós-graduado em Comércio Internacional pela FGV/RJ; em Marketing pela ESPM/SP; e em Gestão Empresarial pela PUC/RS. Bacharel em Comércio Exterior e Adm. de Empresas pela Unisinos/RS. Professor em nível de Graduação e Pós-Graduação em diversas universidades. Foi Gerente de Supply Chain da Dana para América do Sul. Foi Diretor de Supply Chain do Grupo Vipal. Conselheiro do Concex, Conselho de Comércio Exterior da FIERGS. Foi Vice-Presidente da FEDERASUL/RS. É sócio da AP Consultores Associados e atua como consultor de empresas. Autor de livros e artigos na área de gestão e negócios.

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