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O que a política ensina sobre a Sociedade do Espetáculo

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Em audiência pública no Senado Federal com o presidente do Banco Central sobre por que os juros são tão altos no Brasil, o senador Cid Gomes (PDT-CE) materializou o conceito de sociedade do espetáculo. O parlamentar utilizou um quadro e giz para criticar a taxa básica, a Selic, como se estivesse dando uma aula para Roberto Campos Neto. Ao fim de sua fala, entregou um boné para o economista com a logomarca do banco Santander Brasil, onde Campos Neto trabalhou, insinuando que ele trabalha para bancos e não para os brasileiros, e pediu que deixe a presidência da autoridade monetária. Muito show, pouco conteúdo e desinformações em sua fala, cujos recortes receberam milhões de visualizações. Faz todo sentido político.

Vivemos em uma era em que a imagem e o entretenimento são valorizados acima do debate sério e substancial. A sociedade do espetáculo, conceito desenvolvido por Guy Debord, ganha cada vez mais relevância na política contemporânea. Políticos buscam se destacar por meio de performances teatrais, focando na espetacularização e na viralização das redes sociais.

É comum, em sessões no Congresso, como em audiências públicas, sabatinas ou na convocação de autoridades como Ministros de Estado, os parlamentares fazerem perguntas sobre temas já respondidos anteriormente, com o objetivo unicamente de conseguir um recorte que será descontextualizado para divulgação nas redes sociais.

Essa abordagem, embora possa cativar eleitores, traz consigo uma série de problemas que merecem reflexão.

Isso porque, na sociedade do espetáculo, a política se torna um verdadeiro espetáculo midiático, em que a aparência e o entretenimento ganham destaque e preponderam. Os políticos, cientes dessa dinâmica, recorrem a performances dramáticas, discursos emotivos e confrontos acalorados para chamar a atenção do público e da mídia. O debate substancial é frequentemente deixado de lado, em prol da busca por momentos impactantes que gerem manchetes e compartilhamentos nas redes sociais.

Isso foi endossado com a ascensão das redes sociais e a instantaneidade da comunicação digital, por isso muitos políticos buscam criar conteúdos que se tornem virais. A viralização se tornou um objetivo em si mesmo, já que a simplificação excessiva de questões complexas e a criação de slogans ou frases de efeito são utilizadas para alcançar um público mais amplo. O foco na imagem e na superficialidade do discurso prevalecem sobre a substância das políticas públicas.

Na sociedade do espetáculo, a imagem desempenha um papel central na política. Os políticos que adotam estratégias teatrais se preocupam mais com sua própria imagem e como são percebidos pelos eleitores do que com a qualidade das políticas que estão sendo discutidas. Assim, a construção de uma persona midiática atraente se torna prioritária em detrimento do trabalho legislativo sério e da busca por soluções efetivas para os problemas enfrentados pela sociedade.

Contudo, essa utilização de estratégias teatrais na política contribui para a alienação e a superficialidade do debate público. Ao buscar momentos dramáticos e polêmicos, os políticos desviam a atenção dos problemas reais e complexos que requerem abordagens aprofundadas. A simplificação excessiva e a busca por slogans de efeito resultam em uma compreensão superficial e distorcida das questões políticas, comprometendo o diálogo construtivo e a tomada de decisões informadas.

Embora nem todos os políticos adotem essa abordagem, é inegável que a influência da sociedade do espetáculo na política contemporânea é evidente, e tende a reforçar a própria polarização e radicalização de discursos. As performances teatrais buscam conectar-se com os eleitores por meio de polêmicas e frases de efeito, mas negligenciam o debate substantivo sobre políticas públicas. É fundamental reconhecer os danos causados por essa prática, como a alienação, a superficialidade e a falta de soluções efetivas para os problemas enfrentados pela sociedade. Para um debate político mais saudável e um Estado de Direito mais sólido, é necessário resgatar o foco na substância e no diálogo informado, deixando de lado as performances vazias em busca de verdadeiras soluções para os desafios que enfrentamos. O Brasil tem problemas reais que precisam ser enfrentados, e não há tempo a perder.

*Luan Sperandio – Associado III do Instituto Líderes do Amanhã.

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Luan Sperandio

Luan Sperandio

Analista político, colunista de Folha Business. Foi eleito Top Global Leader do Students for Liberty em 2017 e é associado do Instituto Líderes do Amanhã. É ainda Diretor de Operações da Rede Liberdade, Conselheiro da Ranking dos Políticos e Conselheiro Consultivo do Instituto Liberal.

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