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O culto à personalidade do morto

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Há quase 30 anos, um filme passou meio despercebido pelos cinemas brasileiros, e é injustamente desprezado até por cinéfilos. Trata-se de uma comédia muito inteligente e, quem conseguir assisti-lo atualmente pelo streaming, com certeza vai se divertir muito. Trata-se de Um Morto Muito Louco (Weekend at Bernie´s, 1989), dirigido por Ted Kotcheff, cujo roteiro nos permite acompanhar a aventura insólita de dois jovens. Interpretados com brilhantismo por Andrew McCarthy e Jonathan Silverman, eles são convidados para passar um fim de semana na suntuosa mansão de Bernie Lomax, seu chefe, na pele do ator Terry Kiser.

Bem, em resumo, Bernie é morto pela máfia quando eles estavam na casa e, ingênuos e assustados, com medo de levar a culpa, decidem simplesmente que seu anfitrião não morreu. Durante toda a história, eles mantêm o cadáver sob seu controle, como se o corpo ainda tivesse vida. Manipulam-no como uma marionete. É surreal e hilariante, pois ninguém percebe a construção burlesca e até cumprimentam Bernie que, sob a ação das hábeis mãos dos adolescentes, até responde com acenos da cabeça e das mãos.

Essa divertida comédia me veio à cabeça ontem, logo após a confirmação da condenação de Luiz Inácio Lula da Silva, em tribunal de segunda instância, por unanimidade dos votos dos magistrados. Isso torna sua prisão inevitável e garante sua iminente inelegibilidade. Sendo essa apenas a primeira das demais condenações que, indubitavelmente, surgirão na esteira das quase uma dezena de ações acusatórias que pesam sobre seus septuagenários ombros.

Ou seja, temos aí um morto, politicamente falando. Só que seu capital eleitoral – conquistado parte acidentalmente e parte por estratégia populista bem implementada -, que teimosamente fica ali na casa dos 30 por cento, faz dele um títere nos discursos dos petistas que insistem: o morto ainda está vivo. Fosse eu um chargista, desenharia Gleisi Hoffmann de um lado e Guilherme Boulos de outro tentando carregar o corpo e manter a farsa de um cadáver que anda, senta e ainda cumprimenta as pessoas.

Por falta de ideias que efetivamente se sustentem na prática, a esquerda brasileira transformou seus 13 anos de poder num atestado de fracasso. O conjunto de evidências probatórias não deixa a qualquer julgador outra escolha senão, por convicção indestrutível,  condenar Lula. Só não vê isso quem se envenena gravemente com a seiva da ideologia, como o caso do ex liberal Reinaldo Azevedo, gritante fantoche do juiz Gilmar Mendes. Quando aos militantes esquerdistas, só lhes resta o culto à personalidade. Eles só têm Lula. E Lula está morto. O fascismo, em qualquer que seja sua tonalidade ideológica, só sobrevive por algum tempo. E à base de dar ao seu líder o caráter messiânico e divinatório. A América Latina foi ensinada a esperar esse salvador. O eterno sebastianismo da cultura política patrimonialista de nosso continente.

Desde que Nikita Khrushchov, em 1956, denunciou os crimes de Stalin em seu chamado Discurso Secreto – mas cujo título oficial era Sobre o Culto à Personalidade – percebemos com mais clareza como esse vício totalitário vem se repetindo ao longo da história. Adolf Hitler, Benito Mussolini, Mao Tsé-Tung, Fidel Castro, Nicolae  Ceauşescu, Rafael Trujillo, Kim Il-sung e Kim Jong-il são apenas alguns exemplos, resvalando no “pai dos pobres” e amante do fascismo Getúlio Vargas.

Ainda hoje temos guardadas na retina as imagens do povo arrancando os quadros e estátuas de culto a Saddan Hussein. Numa outra obra cinematográfica que me vem à mente, Adeus, Lenin! (Good bye, Lenin!) um filme alemão de 2003 dirigido por Wolfgang Becker, um filho tem que esconder da mãe, na banda oriental do país, que o muro caiu, o socialismo acabou, e tenta distrai-la quando se vislumbra pela janela uma estátua de Lenin sendo carregada para se juntar aos entulhos do muro derrubado.

Por isso, nós liberais devemos estar atentos para relativizar a disputa pela presidência da República. Muito mais importantes serão as bancadas verdadeiramente liberais que conseguirmos alçar aos parlamentos em todos os níveis. A repetição dos discursos, a aprovação de matérias de interesse de uma sociedade mais livre, os debates entre liberais e conservadores mantendo a esquerda e suas ideias mesopotâmicas relegadas à inexpressividade que merecem.

O fato de ainda não termos um candidato à presidência é um ótimo sinal. Jamais cairemos na esparrela na qual estão metidos os fãs do concurso bolsonarista. Estão a um passo do culto à personalidade e, se a candidatura fracassar, só lhes restará copiar do PT com a farsa do “morto muito louco”.

Sobre o autor: Claudir Franciatto é jornalista e escritor.

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