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Complexidade política no Brasil: estratégias para compreendê-la

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A política no Brasil é conhecida por sua complexidade e imprevisibilidade em todo o mundo. Com uma vasta diversidade cultural e geográfica, o Brasil enfrenta desafios políticos profundos que moldam a vida cotidiana de seus cidadãos e o ambiente de negócios. Nesse contexto, a famosa frase de Tom Jobim, “o Brasil não é um país para amadores”, transcende a mera retórica e revela uma análise precisa da realidade brasileira.

Separamos algumas características que evidenciam essa complexidade, que você confere abaixo.

1. Como o autoritarismo histórico influencia na complexidade política brasileira

Essa complexidade da política no Brasil é marcada por um autoritarismo histórico que deixou marcas profundas. Os golpes de Estado sucessivos prejudicaram o amadurecimento da democracia e Estado de Direito no país, podendo ser comparado a nações como Haiti, Venezuela e Bolívia em termos de estabilidade democrática.

Historicamente os processos eleitorais eram marcados pelo ceticismo de que a parte derrotada aceitaria o resultado. Foi comum ao longo da história contatos entre adversários que buscavam acordos e a aceitação em caso de derrota futura. Um dos exemplos clássicos foi a carta de Getúlio Vargas de julho de 1929 ao então presidente Washington Luís, que defendia que seu sucessor fosse o paulista Júlio Prestes. No documento, Vargas, então presidente do estado do Rio Grande do Sul, afirma-se disposto a tirar sua candidatura caso o presidente da República escolhesse outro nome para sucedê-lo.

O acordo não prosperou, e foi lançada a Aliança Liberal, que reuniu ampla maioria de elites políticas de Minas, do Rio Grande e da Paraíba em apoio à candidatura de Getúlio Vargas na presidência e tendo como vice João Pessoa. Em dezembro, novamente, por meio de Paim Filho, Vargas negociou um acordo com Washington Luís pelo qual ambos os lados se comprometeriam a aceitar eventual derrota. Getúlio também se comprometia a não fazer campanha além de seu próprio estado, e Prestes teria de se comprometer a garantir a posse dos deputados eleitos pelo partido de Getúlio e restaurar boas relações entre o governo federal e o Rio Grande. Como se sabe, Prestes foi vencedor do pleito e o acordo não foi cumprido por Vargas.

As raízes do autoritarismo brasileiro ainda deixam marcas na política contemporânea no país.

2. Predominância do Estado e fragmentação partidária

A predominância do Estado sobre a sociedade cria um ambiente em que as decisões políticas influenciam diretamente a vida das pessoas e os negócios, ampliando a complexidade política brasileira.

Recente pesquisa da Atlas Intel apontou que a maioria dos brasileiros espera e deseja que o Estado intervenha em áreas essenciais — só que de uma forma mais eficiente e sem o mesmo peso atual da máquina pública. Nos princípios que regem a economia, apesar de ainda ser minoritário, a tendência mostrada é a favor de ganhos entre os brasileiros que defendem maior liberdade econômica.

Além disso, a alta fragmentação partidária dificulta a construção de maiorias consistentes e a implementação de políticas eficazes.

3. Desafios na Era da Informação

No passado, a falta de fontes de informação causava confusão e incerteza, especialmente durante os diferentes planos econômicos do país.

Eles estiveram presentes, de forma decisiva, nos diversos planos econômicos que o país teve entre 1967 e 1993, com seis moedas diferentes: o cruzeiro novo (1967), cruzeiro (1970), cruzado (1986), cruzado novo (1989), cruzeiro (1990) e cruzeiro real (1993), com os famigerados planos Cruzado (1986), Bresser (1987), Verão (1989), Collor (1990). Cada momento que precedia um anúncio era cercado de ruídos do que poderia acontecer, e receios de corridas aos bancos por parte da população e desconfianças, e houve ainda pessoas que se beneficiavam de vazamentos e acabavam enriquecendo às custas dos demais brasileiros.

No entanto, o cenário atual é marcado por um excesso de informações provenientes de diversas fontes, o que torna desafiador para o público encontrar dados relevantes e confiáveis. O equívoco da crença de que “informação nunca é demais” se torna evidente, especialmente no contexto político. Como bem observou Marcello Bax, especialista em Gestão Informacional, o excesso de informações pode levar à perda de controle e à inabilidade em utilizar esses dados de maneira efetiva. A disseminação de conhecimento de qualidade duvidosa pode influenciar decisões catastróficas, levando à ruína de empresas e segmentos econômicos, e eleitores apaixonados por uma fuga da realidade.

4. Viés Ideológico na Academia e Imprensa aumentam a complexidade política brasileira

É reconhecido haver viés ideológico à esquerda na academia e na imprensa brasileira. Em parte, isso ocorre por um ressentimento que as contaminou em virtude da repressão na “Ditadura à Brasileira”, para utilizar as palavras do historiador Marco Antonio Villa.

Esse viés prejudicou a qualidade do debate público, que precisa ser alicerçado em dados e evidências, e não em ideologia, bem como criando assimetrias de informação que dificultam a tomada de decisão de agentes do mercado que atuam no Brasil ao ampliar a complexidade política.

5. Desafios nas redes sociais

Nas redes sociais, “influenciadores” muitas vezes carecem de expertise técnica, focando em likes e compartilhamentos em vez do rigor analítico. Isso prejudica a compreensão adequada dos acontecimentos políticos, e a falta de responsabilidade em suas previsões pode causar danos.

A ascensão do ambiente digital também conferiu maior dinamicidade aos políticos, que agora possuem canais diretos de comunicação com seus eleitorados. No entanto, a necessidade de tomar posicionamentos quase instantâneos sobre uma variedade de assuntos, muitos dos quais vão além das esferas políticas tradicionais, compromete a qualidade do debate público, ampliando a assimetria de informação no Brasil e a complexidade política.

A agilidade pode resultar em superficialidade, prejudicando a profundidade e a substância das discussões. Mais do que isso, narrativas são criadas para influenciar ou justificar determinados acontecimentos ou sinalizar visões de mundo específicas a seus seguidores que compõem o grupo ideológico que aquela figura política representa, distribuídas por algoritmos somente para seus nichos ideológicos, o que, por sua vez, tende a reforçar o clima de polarização e radicalização política do país. Isso sem entrar no desafio das Fake News.

O impacto político nas finanças e negócios e considerações finais

Embora o centro financeiro do Brasil esteja concentrado em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, o que também reflete a desigualdade econômica e financeira do país, é inegável que as decisões políticas tomadas em Brasília exercem um impacto significativo sobre o fluxo de capital e o ambiente de negócios, mesmo quando meros ruídos.

A sinalização política proveniente da capital do país direciona os rumos do mercado e da economia em geral. Isso ressalta a interconexão entre a política e os aspectos econômicos do Brasil, tornando ainda mais evidente que a complexidade política não é algo que se possa ignorar, mesmo por parte dos empresários mais experientes. O risco político influencia no risco país, que por sua vez influencia na tomada de decisões de investimentos.

O Brasil não é um país para amadores, e, para os profissionais que querem compreendê-lo, não se deveria confiar em amadores.

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Luan Sperandio

Luan Sperandio

Analista político, colunista de Folha Business. Foi eleito Top Global Leader do Students for Liberty em 2017 e é associado do Instituto Líderes do Amanhã. É ainda Diretor de Operações da Rede Liberdade, Conselheiro da Ranking dos Políticos e Conselheiro Consultivo do Instituto Liberal.

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