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Sobre a guerra e a paciência de Jó

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Não lembro se sempre fui assim, mas também não importa. Como vou falar de Israel e dos filisteus, acho interessante recorrer ao Antigo Testamento.

Como vocês sabem, sou ateu. Porém, como vocês também sabem, já li a Bíblia várias vezes, na infância e no início da adolescência, a pedido do meu avô Isaac, que queria que eu fosse mais judeu do que era.

Eu não me lembro do meu avô ser um religioso. Lembro de ele ter me presenteado com uma quipah, um tahlis e uma Bíblia preta, com as bordas das folhas avermelhadas. Acho que ainda a tenho guardada.

Uma das estórias que sempre me vêm à cabeça é de Jó exercitando sua paciência e sendo premiado por Deus com saúde e riqueza. Pessoas pacientes costumam realmente ter melhor retorno do que os afoitos, os apressadinhos e os intolerantes.

O massacre de Re´im, no sul de Israel, em 07 de outubro, me deixou desolado. Senti meu sangue ferver de raiva e minhas lágrimas brotarem sem parar pela tristeza inconsolável.

Não tinha outra coisa para fazer senão escrever, escrever adoidado. Escrever é como eu desafogo as emoções e recupero os momentos de serenidade. A alma serena ajuda na formação de bons pensamentos baseados na realidade dos fatos e na correta dedução lógica.

Escrevi, escrevi, escrevi. Coloquei os acontecimentos em perspectiva e me sinto preparado para escrever ainda mais sobre o assunto, cuidando para não perder a razão, a serenidade e a paciência.

É aí que entram a Bíblia e o Antigo Testamento. Meus amigos mais próximos me dizem que tenho uma paciência de Jó quando discuto com quem pensa diferente de mim ou não pensa de maneira alguma. Às vezes, esses dois fatos são sinônimos.

Pois ontem, do nada, recebi uma mensagem privada de uma moça simpática, inteligente, bem formada, filantropa, dizendo que eu estava errado. Ela escrevia com a mesma veemência com que eu costumo escrever quando tenho certeza do que digo.

Como eu não costumo perder tempo com quem não conheço, ou não sei das suas intenções, fui pesquisar para saber quem estava me cobrando coerência, um outro olhar sobre a mesma circunstância.

Suspeitei que a jovem que me escrevia no limite da civilidade, era neta de alguém que eu conheci no passado remoto, quase ou mais de 40 anos atrás. Perguntei se minhas suspeitas tinham procedência e ela me disse que sim.

Ela me deu seus argumentos, eu dei os meus, mas a conversa não convergiu para um entendimento comum. Foram mais de uma dezena de mensagens enviadas de cada lado.

“Israel é terrorista.”

“Não, terrorista é o Hamas.”

É claro que estou simplificando para não tomar o tempo de vocês com essa argumentação tola que denuncia evasão.

Fiquei pensando como a racionalidade é uma virtude difícil de se manter até para gente instruída, que exerce uma profissão científica, que demonstra ter bom coração. De onde vem o fanatismo que não permite alguém identificar as coisas como elas são? Será o “ethos” tribal? Anos e anos de doutrinação ou de dor pelas perdas que se tem que enfrentar dadas as condições contextuais?

Eu tenho certeza dos fatos históricos. Nunca fui religioso. Nunca fui xenófobo. Nunca fui racista, pelo contrário. Meus filhos sempre foram ensinados por mim e pelos meus pais a serem receptivos, cosmopolitas, sem serem, obviamente, desprovidos de autoestima e senso crítico para julgar o caráter dos outros.

Confesso que fiquei confuso. Mantive uma longa conversa, refutando com paciência e serenidade cada ponto, elevando um pouco o tom quando me sentia atacado, o que serviu para trazer paz à troca de mensagens.

Tarde da noite, encerramos a conversa. Apesar da paciência que a idade me deu, com ela veio o cansaço. Pensei que um dia, talvez, eu pudesse retomar o contato e voltar a conversar de forma sensata.

Hoje, pela manhã, percebi que não será possível. Pelo menos não por enquanto. Por sinal, ontem, eu disse para ela que os ânimos estão muito exaltados. Talvez, se deixássemos passar o tempo, poderíamos chegar mais facilmente a um entendimento.

Hoje, pela manhã, como eu disse, percebi que não será possível. Recebi uma nova mensagem sem nenhuma palavra escrita. Era um vídeo com declarações da Luciana Genro. Quem recorre a essa desequilibrada realmente ainda não está preparado para ver a realidade, para usar a razão objetivamente. Não sentirá no próprio corpo a aflição de meninas sendo selvagemente estupradas, de bebês e crianças sendo mortos na frente dos pais e vice-versa, de pessoas de 40 países diferentes sendo metralhados, porque estavam dançando num festival musical pela paz, no meio do nada.

Nem sentirá o horror vivido por seus próprios irmãos sendo explodidos por bombas jogadas a esmo pela Jihad.

Eu não acredito em Deus. Se acreditasse, pediria que Deus me desse mais paciência. De saúde e fortuna, não preciso, já as tenho do tamanho que fiz por merecer.

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Roberto Rachewsky

Roberto Rachewsky

Empresário e articulista.

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