Lacerda queria dizer que o ritual eleitoral, como uma mera formalidade, não garante que uma eleição seja uma expressão genuína de democracia; um regime autoritário, sob o jugo de uma oligarquia ou de um tirano, ou de ambos, pode perfeitamente estabelecer um simulacro cuja aceitação é a ratificação da covardia e da inércia na sociedade por ele dominada. (…)

A grande questão nas relações de cooperação era que se compreendesse que as nações totalitárias, particularmente a dos soviéticos, se aproveitavam da ajuda econômica oferecida pelas nações democráticas como os Estados Unidos, uma vez que essa aliança não alimenta sua dimensão moral, ideal e espiritual. Os democratas não deveriam deixar no vácuo essa esfera, pronta a se preencher com o imaginário degenerado instilado pelo comunismo. Não deveriam os americanos simplesmente ajudar a encher os bolsos de caudilhos e falseadores da democracia, sob o pretexto de fornecer respiro financeiro aos países, acreditando que isso os retiraria da órbita atrativa do inimigo da civilização. (…)

‘Na América Latina, no Brasil, no Rio, precisamos apenas ganhar tempo e usá-lo devidamente, esse tempo que está ficando alarmantemente curto, de modo a fazer a revolução democrática, pela educação, a revolução tecnológica, pela educação, a revolução espiritual, pela educação. Se acreditamos, como os comunistas firmemente creem, no poder explosivo das ideias, tratemos de afirmá-las. Se as nossas ideias são as melhores, temos de fazer delas a nossa força. Não as guardemos para nós, tratemos de colocá-las a serviço da juventude. Façamos investimentos no poder das ideias.’

*Publicado originalmente no livro: Lacerda: A Virtude da Polêmica, LVM Editora, p. 123-128.