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Para FHC, o problema é a direita – pois que seja!

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Quer na esquerda, quer nas fileiras anticomunistas, de alguma maneira o pensamento positivista, relevante na fundação de nossa República, permaneceu exercendo sua nefasta e paradigmática influência ao longo do tempo, até hoje. É o que se depreende da mais recente declaração esdrúxula do sociólogo uspiano e ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso.

O Positivismo, inspirado na filosofia do francês Augusto Comte, cultivava a fé na Ciência, na verdade absoluta confinada à dimensão do Positivo, empírico, experimentado; em substituir a Metafísica, a especulação filosófica “etérea” – a seu ver, vazia e supersticiosa – pela inabalável certeza do concreto. Essa, ao menos, era a retórica; antes que à Ciência, porém, esse tipo de pensamento conduz à adoração ao Cientificismo, o que é bem diferente. Leva a associar o que não é associável, aplicar a temas e problemas diferentes o que só serve a alguns.

Do ponto de vista político, o Positivismo se realizaria no autoritarismo e no desprezo à pluralidade de discussões no ambiente parlamentar, com base na convicção em que o conhecimento das leis que regem a sociedade possibilitaria uma espécie de tirania científica. Já se conhece o “melhor”, o “verdadeiro”, o “científico”; ele deve prevalecer sobre qualquer diversidade de opinião, sobre toda a pluralidade do humano. Contra as verdades absolutas pontificadas pelos positivistas, afinal, só poderão estar os canalhas e os “caipiras” ignorantes.

Isso talvez cheire a naftalina – mas é basicamente a premissa por trás do discurso de FHC ao Estadão.  Ele nos está dizendo que a “Verdade, o Bem e o Belo” já são sabidos. Não cabe discussão. Quem o sabe? A esquerda. O “Falso, o Mal e o Feio”? Esses cabem aos “caipiras trogloditas” do “outro lado”, isto é, a direita.

Senão vejamos suas palavras: “Se não organizarmos rapidamente um polo democrático (contra a direita política, que mostra suas garras), que não insiste em ‘utopias regressivas’ (como faz boa parte das esquerdas), que entenda que o mundo contemporâneo tem base técnico-científica em crescimento exponencial e exige, portanto, educação de qualidade, que seja popular, e não populista, que fale de forma simples e direta dos assuntos da vida cotidiana das pessoas, corremos o risco de ver no poder quem dele não sabe fazer uso ou usa para proveito próprio. E nos arriscamos a perder as oportunidades que a História nos está abrindo para ter rumo definido”.

Dispensamos o restante do artigo, em boa medida voltado a criticar Donald Trump. O que nos importa está aí, nesse parágrafo. Que quer dizer FHC? Que o dito “polo democrático” deve ser construído para desfraldar os princípios e metas cuja substância estaria, hoje, acima de qualquer contestação, acima de qualquer questionamento – representando, portanto, o bom e o certo, o admissível. A partir de tal raciocínio, pode haver muitas “certezas científicas” acolhidas por setores amplos da esquerda contemporânea – certezas, portanto, que não cabe desafiar em um ambiente “democrático” (sic) -, tais como a ideologia de gênero, a necessidade de cotas para reparar dívidas históricas e outras imposições alienantes.

Qual força política é aquela que desafia essas “certezas absolutas”? Força dantesca, que “mostra suas garras”? Força incompatível com a “democracia”? É a “direita” – essa aberração truculenta e obtusa, que deveria ser eliminada, posto que atrasada e tacanha. Nossa democracia precisa apenas de um “polo democrático”, disposto a não contestar essas “certezas do mundo tecno-científico” – todo ele composto de correntes, é óbvio, de esquerda.

Se FHC entende que a direita – isto é, uma divergência real e não apenas uma disputa provinciana de comadres – é o grande perigo para o Brasil neste momento, asseveramos: pois que seja! Ele está certo! A direita é realmente um perigo.

É um perigo para ele. Não só para ele, mas para todos os santarrões de ocasião, do gênero que se preenche de pavor diante da “ameaça Bolsonaro” ou da “intolerância obscurantista do MBL”, mas não têm a mesma verve quando se trata de projetos tirânicos evidentes e em pleno curso, como o do lulopetismo na última quadra histórica. Aqueles que, por exemplo, acreditam que devemos nos cercar de cautelas ao cogitar prender um ex-presidente criminoso porque ele seria um grande “símbolo popular”…

Essa retórica nociva de FHC perpassa o discurso de grupos como o recém-alardeado movimento “Acredito”, formado por jovens brasileiros com farto financiamento cujo linguajar é, também, o dos “democratas limpinhos e moderninhos”, amantes das afirmações incontestáveis e pautas sociais “cientificamente” estabelecidas – tais como a necessidade de neutralizar os gêneros das palavras para deixar o idioma menos “machista”, como se vê feito em algumas seções do site do movimento.

Com pose de moderação e atualidade, isso tudo não passa de adaptação de um discurso que é mais velho que a sua bisavó. O resultado é a tirania – mais difícil de controlar, quanto mais entronizada nos meios difusores da cultura e do imaginário. É anular a oposição legítima e, portanto, avançar contra as liberdades, ainda que, em um primeiro momento, sub-repticiamente.

Todos nos devemos preocupar com esses lobos em pele de cordeiro e levá-los tão ou mais a sério que os pelegos e baderneiros pré-históricos de uma esquerda mais percebida como tal pelo senso comum. Que o façamos a tempo de não permitir que deem o bote.

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

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