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O globalismo e o que ele esconde (segunda parte)

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Clique aqui para ler a primeira parte do texto.

A estratégia por trás do discurso:

A palavra de ordem nesse novo mundo pós URSS era uma união global em favor do homem, uma constituição basal que impedisse que novas “tiranias” surgissem. Entretanto, o que poucos se deram conta é que a Guerra Fria estava milhares e milhares de quilômetros da mera casca do enfrentamento militar. Comunismo vs Liberalismo-Conservador continuavam a guerrear no campo das ideias após as tropas retornarem para os QG’s (quarteis generais); se podemos afirmar que o Ocidente liberal e democrático venceu no campo militar e econômico, não podemos dizer que o mesmo ocorreu no campo acadêmico, midiático e cultural. Através de homens como Antonio Gramsci e Herbert Marcuse, podemos enxergar que a estratégia de enculturação socialista através dos meios pedagógicos fora extremamente eficiente; a dita direita política se viu cercada, a partir dos anos 90, por uma classe intelectual extremamente militante e de anseios revolucionários cada vais mais pujantes. Era necessário colocar abaixo qualquer tipo de mentalidade conservadora nos centros de formação de opinião: universidades, mídias, Igrejas, e agremiações políticas; e, consequentemente, erguer preponderante a mentalidade coletivista, diminuindo o campo de ação política dos indivíduos sem prévias adequações aos grupos de esquerda.

A tomada de espaço deveria ser universal e coletiva, o indivíduo não deveria ter voz ante a constituição imposta pelas organizações mundiais; não deveria ter uma moral discrepante da moral oficial imposta pelos grandes gurus mundiais. O indivíduo deve se adequar aos dogmas que lhes são “propostos”, com a penalidade de não ser aceito no debate, se ouvido passará então a ser taxado de inúmeras “seilaoquefobias” e, por fim, escrachado ao anonimato dos “preconceituosos”; tudo isso por não se adequar. Um texto que explica bem tal drama foi escrito por mim, para o Instituto Liberal de Minas Gerais, e tem o título: Você é massa de manobra?

Tal descrição feita acima é quase que uma repetição do que disse o próprio Marx em seu manifesto: “Quando são revolucionários, eles o são em vista da iminente transição para o proletariado; não defendem, pois, seus interesses presentes, e sim os futuros; abandonam seu ponto de vista para assumir o do proletariado” (MARX; ENGELS. 2012, p. 19. Grifos meus).

Assim como o Estado deve gerir a política e a economia num país, dizem os comunistas, é necessário um órgão que reúna em si uma capacidade de irrigar a sua influência política, econômica e filosófica aos principais países do mundo; ou seja: um órgão que consiga influenciar a realidade política, social e filosófica da mentalidade dos povos para que a revolução contra a mentalidade tradicional aconteça de maneira unânime e desapercebida. Sendo assim, o globalismo surge na história como um substituto dos Estados nacionais do século XX, agindo não somente a partir de uma coerção militar e econômica — como no século passado —, mas como engenheiro social e criador de morais alternativas para a implementação de uma nova cultura determinada.

Não sou conspiratório e nem pretendo ser algum tipo de roteirista de ficção. Entretanto, também não sou tolo ao ponto de achar que não há influências políticas e nem homens fortemente empenhados em modelar a mentalidade política mundial em favor de suas convicções ideológicas. Um livro que destrincha isso de maneira pormenorizada, largamente documentado, é o Maquiavel pedagogo, do saudoso Pascal Bernardin.

As instituições globalistas agem de maneira a contrapor filosofias e morais que se colocam contrárias as suas aspirações ideológicas; da mesma maneira que buscam anular o indivíduo e a família em suas ações mais básicas. Como o direito de educar nossos filhos em nossa moral familiar tradicional e sob nossas crenças. Tais tipos de sanções são regularmente impostos pela ONU, cartilhas educacionais e direcionamentos são postas pela UNESCO como verdadeiros dogmas para as escolas do mundo inteiro.

“No que concerne às relações entre pais e filhos, encontramo-nos diante do seguinte problema: para conduzir as crianças de modo a aperfeiçoar as relações entre grupos, necessário seria começar pela modificação de seus pais” (DAVIS. 1964, p. 45. Grifos meus)

No documento da UNESCO, La modification des attitudes, citado acima e que Pascal Bernardin explora na sua obra Maquiavel pedagogo, encontra-se também essa afirmação:

“Os estudos orientados para a comunidade, os quais levam em conta esse fato [a tendência à conformidade aos costumes estabelecidos], visam à ‘reconversão’, em certo sentido, de comunidades inteiras, nas quais é necessária a modificação das normas e práticas estabelecidas, a fim de aperfeiçoar as atitudes intergrupos e de colocar todos os grupos em pé de igualdade. Para tanto, faz-se necessário apelar ao auxílio de políticos, de líderes comunitários, de emissoras de rádio, da imprensa local e de outros ‘formadores de opinião’, a fim de provocar as mudanças na comunidade inteira” (DAVIS. 1964, p. 55. Grifos meus)

Muito além de qualquer teoria da conspiração, são documentos.

O globalismo é, então, uma realidade política que visa uma inversão de paradigmas, uma quebra moral na estrutura social no qual a realidade está posta. Você pode se perguntar, mesmo com as citações e explanações acima: “mas isso não é demasiadamente conspiratório”? Para esse questionamento não há resposta clara possível senão a investigação pessoal e científica. Ainda hoje há quem negue que os campos de concentração nazistas realmente tenham existido; que o homem tenha ido a lua e que a grama é verde — como diria G. K. Chesterton. Para quem não está aberto às verdades que divirjam das suas convicções, nenhuma prova é o suficiente. As evidências são simplesmente volumosas para quem está disposto a estudar com seriedade o tema, as literaturas sobre essa matéria são extensas, e sequer é preciso recorrer aos críticos do globalismo para se chegar às conclusões que aqui afirmo. Os documentos aos quais me refiro são os próprios escritos desses órgãos globalistas citados acima e não de terceiros. Não é preciso nenhum conhecimento extraordinário para ler nas entrelinhas as guinadas ideológicas desses órgãos; não é preciso muito para entender a manta que sustenta os discursos econômicos do G-20, as influências pedagógicas da UNESCO ou as tendências da ONU.

Além de que, aqui, não é interessante fazer um estudo pormenorizado e nem encher o texto de citações extensas; isso requereria um texto bem mais longo e uma introdução bem mais adequada do que uma visão panorâmica, que é a intenção a que esse artigo se propõe.

Conclusão:

Tal movimento global nasce de um impulso secundário aos anseios revolucionários do século XX, todavia, agora, regada com fortunas de bilionários e com uma missão cultural muito mais profunda e pérfida que antes. Pior que a uma política ditatorial, somente uma moral ditatorial. A política tem mecanismos que se autodestroem quando usada de maneira tirânica, tendo em vista a própria queda da URSS quando suas verdades foram expostas; a moral tirânica, por sua vez, forma homens servis e mentalidades tacanhas impossibilitadas de reagirem aos danos afligidos.

Ludwig von Mises, em A mentalidade anticapitalista, mostra que a força centrifuga é quase que um instinto socialista e da mesma maneira o globalismo se estrutura em um vórtice que finda num comitê central de teoria e ação política. Tal comitê — as organizações políticas mundiais — é quem dita aquilo que é certo e errado, o que é economicamente viável a um país ou não, aquilo que deve ou não ser ensinado às nossas crianças, aquilo que deve ou não ser acreditado por nossos intelectuais, etc. Exatamente o que Roger Kimball denunciou em Experimentos contra a realidade e Radicais na universidade, isto é, as influências externas como terrorismo intelectual.

O globalismo é a tendência atenuante de desacreditar que os países podem ser soberanos per se e tomarem suas decisões baseados em suas próprias crenças morais; da mesma maneira que o Estado intuí que o indivíduo não sabe como gastar seu próprio dinheiro ou escolher sua própria religião.

O centralismo do globalismo deveria ser um aspecto de alerta para os liberais, todavia, ainda há aqueles que se dobram frente aos ditames dessa casta, como se o ato de se opor a ela fosse uma característica dos conservadores. Entretanto, mal percebem que ao seguirem cartilhas e repetirem discursos desses grandes centros estão abdicando o controle de suas liberdades individuais; tornam-se conformistas. Parece-me que alguns desses não se dão conta de que a quebra do paradigma social e o rompimento moral tradicional em troca de um progresso engessado em retóricas dogmáticas, estruturadas num relativismo parvo, é justamente uma via direta para o socialismo contemporâneo que fincou suas raízes na cultura e não na economia. Não à toa que o grito do “amor livre” de Willian Reich e da “revolução sexual” de Judith Butler, por exemplo, constantemente andam de mãos dadas com a famigerada alocução do “bem-estar social” e dos discursos que regem as políticas neo-socialistas.

Podemos definir globalismo, por fim, como filho do Estado preponderante e tirânico tão criticado por liberais e conservadores no século XX; todavia, agora reapresentado numa roupagem diferente ele aparece como um governo que extrapola os limites demarcados de uma nação,  manifesta-se como um deus mundial que decide por mim se meu filho usará o banheiro masculino ou feminino. Se trata da mesma onipotência governamental arrogada em tantas ditaduras do século passado, porém, agora, ele fala em nome dos “direitos humanos”, ou melhor, da “engenharia do novo humano”.

“Nenhuma pessoa inteligente deixaria de perceber que o que socialistas, comunistas e planejadores almejavam era a mais radical abolição da liberdade dos indivíduos e a instalação da onipotência do governo” (MISES. S/A, p. 69. Grifos meus)

Referências:

ARON, Raymond. O ópio dos intelectuais, Três estrelas: São Paulo, 2016.

  1. E. DAVIS. La modification des attitudes, Rapport et documentes de sciences sociales, nº 19, Paris, Unesco, 1964, In. BERNADIN, Pascal. Maquiavel pedagogo: ou o mistério da reforma psicológica, Ecclesiae: Campinas/SP; Vide Editorial: São Paulo, 2013.

MARX, Karl; ENGELS, Friederich. Manifesto do partido comunista. Penguin: São Paulo, 2012.

MISES, Ludwig von. A mentalidade anticapitalista, 2ª Ed. Instituto Liberal: São Paulo; Mises Brasil: São Paulo, S/A.

TISMANEANU, Vladimir. Do comunismo: o destino de uma religião política, Vide editorial: Campinas SP, 2015.

Sobre o autor: Pedro Henrique Alves é Filósofo formado pela Faculdade Dehoniana; escritor na coluna de política do Instituto Liberal de Minas Gerais; editor e escritor do Blog Do Contra; além de estudioso de filosofia política com ênfase em políticas totalitárias.

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