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O consumismo e o “argumento da felicidade”

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consumismopor LUCIANO ROLIM*

“O homem só é feliz pelo supérfluo. No comunismo, só se tem o essencial. Que coisa abominável e ridícula!” – Nelson Rodrigues

Uma grande crítica ao capitalismo e ao livre-mercado é o argumento da felicidade. Consiste na ideia de que o acesso a uma maior quantidade de bens não significa progresso e tampouco aumento de qualidade de vida. No nosso sistema atual, as pessoas são influenciadas pela mídia e pela sociedade a criarem necessidades consumistas e a comprarem coisas supérfluas de que não precisam. Dizem os críticos que a satisfação com o consumo é efêmera e nunca estamos realmente satisfeitos. A supremacia do consumidor é falsa, porque não são os consumidores que determinam o que será produzido, mas as empresas que determinam o que o consumidor irá querer consumir. As pessoas acabam se tornando escravas do dinheiro, e poderíamos perfeitamente viver uma vida melhor se não fosse pelo consumismo alienado.

O liberalismo é um sistema eficiente para que as pessoas sejam felizes? Destaquemos alguns pontos:

1 – Cada cidadão é formado e influenciado por inúmeros fatores, e possui inúmeros desejos e preferências, que diferem dos desejos e preferências dos outros. Como alguém vai ser feliz é algo completamente subjetivo. Cada pessoa tem a sua própria escala de valores sobre o que traz felicidade para ela. Pode ser dormir várias horas por dia, ficar famoso, ter filhos, ver o time de futebol ganhar, encontrar o amor da vida, assistir a um bom filme ou viajar. Existem infinitas coisas que podem deixar alguém satisfeito ou não.

2 – A informação se encontra dispersa na sociedade, e é lógico afirmar que todo indivíduo sabe quais são seus desejos e preferências melhor do que qualquer outro. Por que alguém teria mais informação e saberia melhor do que eu o que é que eu quero e como eu fico satisfeito e feliz?

3 – Se cada um é feliz de um jeito diferente, e cada um sabe para si mesmo melhor do que para os outros que jeito é esse, podemos concluir então que a melhor maneira de as pessoas serem felizes é simplesmente deixando-as serem livres. Se cada um é livre para fazer o que quiser para ser feliz, existe uma maior tendência de que as pessoas sejam felizes do que se elas fossem obrigadas a fazer coisas que não quisessem.

Portanto, partindo-se do princípio de que a liberdade é o caminho para a felicidade, o liberalismo somente não será um sistema propício para que as pessoas sejam felizes se elas não forem realmente livres nele. E, para muitos críticos do capitalismo, é exatamente isso o que acontece. As pessoas seriam escravas do trabalho, das propagandas e do dinheiro. Não seríamos livres no liberalismo, porque o homem é, ainda que indiretamente, forçado a comprar coisas supérfluas inúteis.

Esse raciocínio surge por causa da confusão que se faz com a palavra liberdade. O indivíduo livre é aquele que tem a possibilidade de fazer o que quiser sem violar a vida, a liberdade e propriedade de outro. Isso não significa, obviamente, que as decisões que ele tomará – assistir à programas de televisão, ler um livro ou escolher um determinado curso na faculdade – não terão sido influenciadas, se não determinadas, por incontáveis causas que escapam ao controle do indivíduo, sejam elas biológicas, culturais, sociais, familiares, midiáticas, etc. Uma propaganda pode me “forçar” a comprar voluntariamente um aspirador de pó, assim como meus pais podem me “forçar” a cursar medicina na faculdade, ou a sociedade como um todo me “forçar” a querer jogar futebol. Se meus direitos não são violados, e a troca é voluntária, então não há nada de legalmente errado com esses atos “forçados”. O errado seria alguém coercitivamente violar a liberdade e a propriedade dos outros e tentar impedir o consumo de coisas “inúteis”.

Os tipos de bens

Existem dois tipos de bens, os necessários e os abstratos. Os necessários são aqueles sem os quais a vida humana simplesmente não existiria: comida e bebida, e em locais mais frios, roupas. Os abstratos, também chamados de supérfluos, são coisas de que os seres humanos não precisam para viver. Entre eles podemos citar produtos como carros, livros ou relógios. O consumo dos bens abstratos é proveniente da necessidade de satisfazer desejos pessoais que de certa maneira nós mesmos inventamos. Esses bens podem trazer mais lazer, mas esse lazer não é algo estritamente necessário para a vida.

Porém é interessante destacar como mesmo os bens necessários nem sempre são vistos como tais. Nem todo mundo compra comida pensando “não posso passar fome”. Uma boa parte acaba comprando-a pensando no gosto dos alimentos. E o que são as receitas, os pratos, os doces e as experiências culinárias, se não coisas completamente desnecessárias para a vida humana? Nesse caso, o que era um bem necessário se torna uma espécie de bem abstrato. Da mesma forma, se beber fosse uma ação encarada apenas como necessária, e não supérflua, as pessoas possivelmente só tomariam água. Nada de vinhos, sucos, chás, cervejas, refrigerantes e qualquer outra bebida mais complexa.

As pessoas têm bens abstratos porque é isso que dá graça, felicidade ou até sentido para a vida. Para a maioria delas seria um tanto quanto entediante, se não detestável, se ficássemos apenas morando em casas simples com roupas simples, comendo, bebendo e trabalhando o necessário para sustentar isso, sem fazer nada além disso.

O consumo e os bens supérfluos

A maior parte das coisas que deixam alguém feliz são dissociadas do sistema social-econômico vigente. Ter vários amigos de confiança, por exemplo, é algo que deixa a maioria das pessoas contente. Mas não é o capitalismo ou o comunismo que vai determinar se uma pessoa vai conseguir ter várias amizades, mas sim o próprio indivíduo. O mesmo pode-se dizer de relações familiares e amorosas.

Porém outra parte das coisas que nos deixam felizes é o consumo de bens e serviços. Quando temos um maior poder aquisitivo, podemos usufruir uma saúde melhor, uma educação qualificada, um carro mais potente, uma viagem para um lugar interessante ou uma casa mais confortável. As possibilidades do que podemos fazer com o nosso dinheiro são praticamente infinitas. E para consumirmos mais, precisamos ter mais riqueza.

Algumas pessoas dizem que o dinheiro não traz felicidade. Isso é algo muito variável. Imaginemos um milionário depressivo, isolado e desiludido com a vida. Ele tem dinheiro, mas não é feliz. Entretanto, sua tristeza não é decorrente de escassez de bens materiais, mas sim de fatores pessoais, e não econômicos. Todavia, uma pessoa pobre, que mora num subúrbio, gasta a maior parte do seu dia trabalhando e ganha pouco dinheiro, tem vários motivos para dizer que a sua atual situação econômica é insatisfatória; mas se ela conseguisse um emprego com um salário maior, que permitisse colocar mais comida na mesa, comprar roupas novas para os filhos, fazer algumas reformas na casa e talvez até adquirir um carro próprio para ir ao trabalho, certamente essa pessoa ficaria muito mais feliz – não por que agora tem melhores relações pessoais com os amigos e a família ou porque seu time ganhou, mas pelo simples fato de que ela passou a ter um maior poder aquisitivo. O dinheiro traz mais qualidade de vida e conforto na medida em que ele se relaciona com consumo, saúde, segurança, educação, trabalho e bem estar pessoal.

Alguns críticos do consumismo apontam que apenas satisfazer as nossas necessidades materiais não é o suficiente. Dizem eles que para ser feliz é necessário atender as necessidades espirituais de nossa alma e de nossa consciência e termos valores mais “elevados”. Eu não nego que para ser feliz é necessário mais do que bens materiais. Porém acho impossível que uma regulamentação externa, seja do governo ou da sociedade, possa ajudar nisso. É o próprio indivíduo que tem que fazer sua própria busca pela “paz e tranquilidade interna”.

Como avaliar se um produto é útil ou não para a nossa vida? Se no livre-mercado todas as trocas são voluntárias, e uma pessoa só faz uma troca se acha que vai obter algum benefício com ela, então todos os produtos comprados, aos olhos de quem os adquire, são úteis. Mas se isso for verdade, então simplesmente não existem bens de consumo inúteis ou supérfluos, pois todo mundo que os compra acha que vai se sentir melhor com eles do que se não os comprasse.

Muitos dizem que os carros são um exemplo de “necessidade criada pelas propagandas”, afinal de contas, são máquinas poluidoras, caras e individualistas, com “nenhuma praticidade de um ponto de vista coletivo”, como um conhecido já me disse uma vez. Mas se você quiser descobrir qual a verdadeira utilidade dos automóveis, pergunte a qualquer um dos donos dos mais de 40 milhões de carros do Brasil “Por que você tem um carro?”. As respostas vão variar, mas provavelmente será algo como: “O veículo facilita os meus deslocamentos, torna-os mais rápidos e confortáveis, dando-me uma mobilidade inestimável e muitíssimo maior do que qualquer transporte coletivo seria capaz de me oferecer.” Ou, em outras palavras, os carros trazem tempo e lazer. Portanto eles não são bens de consumo inúteis, mas sim símbolos do progresso. O mesmo pode ser dito de qualquer outro meio de transporte individual, como bicicletas ou motocicletas.

A comunicação sempre foi uma dificuldade na história da humanidade. Na tentativa de transmitir uma mensagem a alguém já foram usadas fogueiras, cartas, mensageiros, pombos, telégrafos, faxes, bandeiras, sons e, é claro, a própria fala. Nesse caso o que seriam então o telefone e o rádio senão necessidades nem um pouco supérfluas, mas sim coisas que facilitam enormemente a nossa vida?

Pensemos nas seguintes invenções – ar-condicionado, ventilador, geladeira e freezer. Seriam essas coisas inúteis, quinquilharias de consumo na nossa vida? Certamente que não. Afinal de contas, essas invenções tornam a nossa vida um tanto quanto mais confortável no calor. O ar-condicionado serve para baixar a temperatura ambiente, o que dá um conforto inestimável e acarreta até em aumento de produtividade. O mesmo pode-se dizer do ventilador, que com suas pás permite que uma grande massa consumidora desfrute de algo que durante milênios era exclusivo de reis e ricos – um abanador. Só que não precisamos contratar ninguém para ficar nos abanando agora, mas sim apenas apertar um botão.

Enquanto isso, o freezer e a geladeira representam a vitória sobre aquilo que foi um fardo para a população humana durante quase toda a sua história – a tentativa de conservação dos alimentos e impedimento da deterioração dos mesmos. A busca por um método eficaz foi tão grande que levou o homem a se lançar ao mar em busca de especiarias. Atualmente, graças a esses dois eletrodomésticos, ganhamos tempo (não precisamos comprar comida todo dia), dinheiro (que era perdido com alimentos estragados) e lazer (acesso a comidas de regiões longínquas e menos incômodo na nossa vida). Ou seja, com certeza não são coisas supérfluas, muito pelo contrário. E tratando-se de eletrodomésticos, é válido lembrar que fogão, micro-ondas, forno elétrico, lava roupa e lava louça são produtos que poupam um tempo enorme.

Graças às fábricas, ferramentas, máquinas e equipamentos, a produtividade humana é enorme. Por causa delas o trabalho rende mais, e assim produzimos numa determinada quantia de tempo muitíssimo mais do que seria produzido sem o uso de tais instrumentos de trabalho. Mesmo trabalhando menos, ou seja, poupando tempo, ganhamos mais dinheiro.

Mas o que as pessoas fazem com mais dinheiro e tempo livres? Elas, é claro, se dedicam ao lazer. E graças à produção em massa e à sociedade consumista, elas têm praticamente infinitas opções de lazer. Livros, filmes, jogos eletrônicos, viagens, hobbies, quebra-cabeças, programas de TV, instrumentos musicais, redes sociais… A escolha é do consumidor. São os consumidores que querem roupas melhores, carros com GPS, redes sem fio, casas maiores e com ar-condicionado em todos os cômodos, pendrives com maior capacidade de armazenamento, comunicação rápida com qualquer um em qualquer lugar do mundo, aulas pela internet e a possibilidade de desfrutar de todos os produtos que aumentam o nosso bem-estar. São os consumidores que querem inovação, conforto, velocidade, eficiência, aprimoramento, diversão, praticidade, e, é claro, a liberdade de escolha de comprarem o que acharem necessário.

O fato de que cada indivíduo tem sua própria escala de valores implica que precisamos respeitar as vontades consumistas dos outros. Muitas pessoas dão um grande valor para a estética da decoração. Isso implica gastos com cortinas, tapetes, quadros, aquários, cristaleiras, vasos, plantas, objetos decorativos, etc. Como adepto da decoração minimalista, eu considero que esses são gastos supérfluos, porém supérfluos apenas para mim. Não posso julgar negativamente ou coibir a felicidade que as outras pessoas têm com a decoração.

Seria a televisão um bem de consumo supérfluo? Se “supérfluo” é qualquer coisa que não seja estritamente necessária para a vida, então televisão o é, assim como qualquer outro produto que não seja comida, água, roupa e moradia. Mas se é por isso, os livros também são desnecessários, uma necessidade meramente inventada pelas propagandas e pelas livrarias. Todavia, eu não conheço um único intelectual de esquerda, crítico do consumismo no sistema capitalista, que ache que os livros sejam supérfluos. O motivo? Talvez uma das justificativas seja que livros trazem cultura. Mas quem procura também acha cultura na televisão, no rádio ou na internet.

O fato é que é praticamente impossível tentar atribuir arbitrariamente quais invenções e produtos são úteis ou não, a não ser utilizando a ótica do mercado. Se muitas pessoas compram alguma coisa, é porque ela é útil, ao menos na concepção delas. E violar esse direito de consumo é, basicamente, uma violação da liberdade individual.

Além da questão dos “bens supérfluos”, outra crítica ao consumismo é que, devido à constante inovação tecnológica, nós nunca estamos realmente satisfeitos. Dizem os críticos que não existe satisfação permanente com a compra de produtos eletrônicos, pois novas invenções surgem no mercado toda hora e mal adquirimos alguma coisa, em pouco tempo ela já fica tecnologicamente defasada. Possuímos uma eterna necessidade de adquirirmos carros novos, celulares novos ou notebooks novos, mesmo que os produtos que a gente já tenha ainda estejam funcionando e em bom estado.

De fato, por causa dessa evolução tecnológica um cidadão de classe média nunca terá os melhores carros, os melhores celulares ou as melhores televisões. Porém um carro popular dos dias de hoje tem direção hidráulica, vidro elétrico, ar-condicionado e outros confortos que eram apenas de modelos de luxo no passado. Da mesma forma, TVs de plasma e LED com alta definição são infinitamente melhores do que um dia já foram TVs em preto e branco com preços caríssimos.

Ou seja, se uma pessoa não tem poder aquisitivo suficiente para adquirir melhor produto disponível no mercado, ao menos ela tem a certeza de que o que podemos comprar já foi um produto de uso restrito um dia, e que os bens mais caros do momento ainda ficarão baratos e a um preço acessível. E também é graças a essa inovação tecnológica que os pobres podem desfrutar de coisas que já foram luxos no passado, e assim acabam tendo um aumento do poder aquisitivo.

Hoje em dia um smartphone, além de caber no bolso e ter um processador mais potente do que a nave que levou o homem à Lua, concentra as funções equivalentes a um telefone, computador, relógio, cronômetro, rádio, calculadora, televisão, gravador, tocador de música, bloco de notas, jogo, lanterna e câmera juntos, além de um sem número de outras utilidades. No passado, alguém teria que gastar uma fortuna para ter todos esses bens. Atualmente, uma pessoa pouco abastada compra um celular e já tem tudo isso. Será que é realmente possível imaginar que o aprimoramento tecnológico não trouxe nenhuma felicidade extra no mundo?

Em 1968, Robert F. Kennedy estava tentando ser indicado pelo partido Democrata para concorrer à presidência dos EUA. Durante um discurso em uma Universidade do Kansas, ele expressou sua opinião de que os estadunidenses estavam valorizando as coisas erradas, isto é, os bens materiais:

“(…) o PIB não garante a saúde de nossas crianças, a qualidade de sua educação ou a alegria de suas brincadeiras. Não inclui a beleza de nossa poesia ou a solidez dos nossos casamentos, a inteligência de nossos debates públicos ou a integridade das autoridades de nosso governo. Ele não mensura nosso talento ou nossa coragem, nossa sabedoria ou nosso aprendizado, nossa compaixão ou nossa devoção a nosso país. Ele tem a ver com tudo, em suma, exceto com aquilo que faz com que a vida valha a pena.” [1]

Kennedy não estava totalmente errado quando disse isso. Em princípio ter mais ou menos dinheiro não muda em nada a coragem ou a compaixão de alguém. Só porque uma nação tem um PIB maior não significa que seus cidadãos serão mais patriotas ou terão casamentos mais estáveis. Mas é com mais dinheiro que alguém pode pagar por um tratamento de saúde melhor e por uma educação mais qualificada para seus filhos. É com mais recursos financeiros que o governo poderá construir hospitais e escolas e contratar médicos e professores. E com uma educação melhor, as pessoas poderão ler e escrever mais poesias. É só com o aumento da produtividade no trabalho que as pessoas, ao ganharem mais dinheiro, poderão trabalhar menos horas para se sustentar, e com o tempo livre desenvolverem a inteligência, a sabedoria e outros atributos.

Bens de consumo e riqueza não trazem felicidade?  Então o que é ideal, termos fogões e lâmpadas ou adotarmos um estilo de vida, ainda seguido pelas massas mais miseráveis do mundo, que consiste em cozinhar os nossos alimentos e iluminar as nossas casas fazendo fogo com galhos e estrume? Quem será que está mais satisfeito com a vida: um chinês que rala o dia inteiro puxando um arado para ganhar uma mísera tigela de arroz ou um estadunidense dirigindo um trator com ar-condicionado por umas poucas horas diárias? Quem dorme mais confortavelmente: um pobre sobre um colchão carcomido e cheio de pulgas ou um cidadão de classe média numa cama confortável? É preferível morar no centro ou na periferia de uma cidade? É melhor ter um chinelo e um tênis esburacado ou a quantidade de tênis, sapatos, chinelos, sandálias e quaisquer outros calçados que acharmos necessária? Quem tem mais tempo para se dedicar ao lazer e ao bem-estar: a mulher que gasta horas do seu dia lavando as roupas no tanque manualmente, ou aquela que só as joga numa máquina de lavar e aperta um botão? O que é ideal: pessoas mancas com ou sem uma prótese para substituir a perna? O triunfo do poder e da inteligência humana é, graças à internet, dispor em qualquer lugar de quase todo conhecimento acumulado da humanidade e poder se comunicar com qualquer um em qualquer lugar do mundo ou continuar vivendo na ignorância e isolamento?

As pessoas que criticam tanto a sociedade consumista, na maior parte das vezes, tendem a fazer uma dissociação forçada, como se elas não fizessem parte dessa mesma sociedade. Você não gosta do capitalismo, da civilização ocidental, dos produtos descartáveis e do consumismo porque a natureza acaba sendo poluída e as pessoas ficam alienadas? Então desligue o ar-condicionado no verão, para poupar as usinas termoelétricas. Da mesma forma não tome banho com água quente no inverno. Não coma peixe e produtos do agronegócio, mas sim apenas alimentos orgânicos, para evitar a pesca predatória e os agrotóxicos. Não tenha nenhum cachorro, gato, pássaro ou qualquer outro animal doméstico, pois uma área cultivável enorme, que poderia ser utilizada para alimentar pessoas, acaba sendo utilizada para alimentar animais. Ignore os carros, os ônibus e as bicicletas, e, na medida do possível, vá e volte do trabalho a pé. Televisões, computadores e celulares? Tudo isso é desnecessário. Esqueça esses bens e doe para algum consumista bitolado que goste deles, que os queira só pelo “status”. Não compre livros, pois além de serem supérfluos para a nossa sobrevivência, eles exigem a derrubada de árvores. E o mesmo pode-se dizer do papel higiênico e dos móveis de madeira. Presunto e carne? Esqueça.

Eu não falo essas palavras de maneira irônica. Existem muitas pessoas que seguem uma vida minimalista, que pregam que a felicidade é alcançada pelo desapego de bens materiais e até mesmo pelo sacrifício, como se fosse necessário passar por uma espécie de privação pessoal para se sentir bem. Cada um tem sua escolha de vida. Mas jamais obrigue alguém pela força ou pela lei a consumir menos porque isso é “errado” ou “inútil”.

É inegável que algumas pessoas, devido à ânsia consumista, necessidade de adquirir “status” ou vontade de comprar um produto mais caro porque é “de marca”, acabam se endividando ao gastar mais do que ganham. Porém, mesmo se considerarmos que elas não são economicamente livres e que suas compras não são voluntárias (como se as empresas e as propagandas as obrigassem a consumir, o que não é verdade), ainda assim seria o caso de, por causa do prejuízo duma minoria, obrigar toda uma maioria a limitar o seu consumo e consequentemente a sua felicidade e seu bem-estar?

Quem compra alguma coisa compra porque quer, porque necessita ou pelo menos pensa que necessita. Porque essa coisa possivelmente vai poupar tempo, render mais dinheiro ou trazer mais bem-estar. E por mais que a propaganda, o anúncio, a marca, o cartaz, o outdoor e a própria existência do produto tenham influenciado na vontade de comprar, ninguém consumiria nada se não achasse que isso fosse necessário. As pessoas possuem um desejo infinito por mais lazer, entretenimento, felicidade e bem-estar pessoal, e não há nada de errado nisso. Tentar impor arbitrariamente se algo é necessário ou não para alguém e para a humanidade, além de ser uma forma de coerção e tirania, é desprezar a subjetividade e originalidade com que cada pessoa vê o mundo ao seu redor.

Referências:

[1] – Robert F. Kennedy, “Remarks at tha University of Kansas”, 18 de março de 1968, disponível em http://www.jfklibrary.org/Research/Research-Aids/Ready-Reference/RFK-Speeches/Remarks-of-Robert-F-Kennedy-at-the-University-of-Kansas-March-18-1968.aspx

*Luciano Rolim é escritor e estudante de ensino médio. 

 

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Um comentário em “O consumismo e o “argumento da felicidade”

  • Avatar
    05/06/2015 em 6:56 pm
    Permalink

    Os comunistas previram a implosão do capitalismo. Após setenta anos de dominação
    cruel e sanguinária na metade do mundo, comunista, aconteceu o contrário, em
    1989, sem um único tiro do “capitalismo explorador.” É na pátria do
    “capitalismo explorador”, nos EUA, que milhares tentam entrar, de qualquer
    modo, todo dia, ano após ano, mesmo ilegalmente e com risco da própria vida,
    para submeterem-se à “exploração dos oprimidos” lá: ter oportunidade de subir
    na vida e usufruir dos bens e serviços que o capitalismo produz. Em 1917, na
    Rússia e no resto do mundo, ainda se podia tolerar existir esperança de
    felicidade na terra em uma sociedade planejada – não havia imprensa, internet,
    aviões a jato nem celulares com câmera; mas hoje, com todas essas facilidades,
    com a sociedade informada instantaneamente de tudo o que ocorre no mundo, só há
    explicação genética para a existência dos comunistas: são seres desprovidos de
    bom senso, sentido da realidade, capacidade empreendedora e providos de muita,
    mas muita inveja mesmo; com as fortunas fabulosas que movimentam, os comunistas
    poderiam facilmente demonstrar ao mundo sua perfeição: bastaria adquirir uma
    imensa área rural, assentar dez mil famílias, dar-lhes sementes, tratores, toda
    a infraestrutura necessária e aguardar um ou dois anos. Sabe o que daria essa
    experiência? Nada. Absolutamente nada: uma parte venderia os lotes, outra os
    abandonaria, porque todos não lutaram por eles, outra plantaria maconha, porque
    dá mais dinheiro por hectare, outra os desmataria e venderia a madeira e todos
    voltariam para o asfalto, sem rumo, com suas enxadas e foices novas, com
    etiquetas, vagando e cantando marchas de ódio, invadindo e destruindo sem ter a
    mínima razão, dançando sem norte ao som das flautas dos seus líderes das
    trevas, pregando o caos e sufocando as plantinhas da livre iniciativa, do
    direito de ir e vir, de plantar, criar e colher, subir na vida e prosperar,
    opção de esperança à felicidade ou pelo menos ao bem estar que somente a
    economia de livre mercado proporciona.

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