Marcia Rozenthal *

Dia 13 de março de 2016. Chegou o dia. Coloquei meus apetrechos e fui para Copacabana. Encontrei a Avenida Atlântica vestida de verde, de amarelo, de azul, de poesia, de esperança. Nunca vi essa princesinha tão séria, tão digna, tão majestosa.

Sobre seu asfalto deslizava uma massa de gente, que não fluía como  água, mas que borbulhava como larva de vulcão. Eu ouvi Copacabana gritar, cantar e chorar. Eu vi Copacabana clamar por justiça. Eu ouvi Copacabana dizer que não representa esse Brasil. Copacabana já foi o palco e moldura de tantos carnavais, réveillons, shows. Já foi filmada, fotografada, cantada.

Desta vez, Copacabana não foi cenário, nem estrela. Com um ato de sublime modéstia, Copacabana escondeu sua beleza. Deixou a multidão ocupar todos os seus cantos e brilhar, para o mundo todo ver sua indignação. Copacabana deixou de ser corpo para unir-se à alma de todos os cariocas, presenças espontâneas e sinceras, nessa profunda comunhão.

Lamento pela frieza dos palácios de Brasília. Desprezo a nobreza, dissociada da realidade, e o mundo do faz-de-conta em que ela vive. Mas, se serve de consolo, ela jamais saberá o que foi o dia 13 de março em Copacabana.

* Marcia Rozenthal é neuropsiquiatra e professor da Escola de Medicina da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro