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Marco Rubio e Aécio Neves: “palavra de político” ou dar nome aos bois?

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rubioaecioA semana que vai passando ficará marcada, quanto ao que interessa diretamente ao Brasil, pela visita aos Estados Unidos da presidente Dilma Rousseff, há já um bom tempo sem qualquer condição de estar à frente do cargo que ora ocupa, e que nada mais fez em seu passeio pelas bandas de Barack Obama do que reforçar essa constatação. Depois da tragicômica saudação à mandioca e a consagração da bola confeccionada por um indígena neozelandês como o emblema da “evolução humana” para homo sapiens e “mulheres sapiens” (sic), Dilma esteve no grande vizinho do norte acuada pela crise arrastada do Petrolão, agravada após a denúncia de Ricardo Pessoa quanto aos 7,5 milhões doados pela empresa UTC à campanha eleitoral do PT, obtidos através do entranhado esquema de corrupção nos contratos da estatal. Instada a comentar o fato, a presidente “agarantiu” – não é brincadeira, amigo leitor; ela disse “eu agaranto” – que, sob tortura no regime militar, não esteve entre os militantes que delataram seus companheiros, e que, em função dessa suposta “autoridade moral” de quem jamais cedeu à tentação de abrir o bico (o que há quem conteste), ela não respeita delatores.

Em enfática nota, Aécio Neves, do PSDB, criticou a postura de Dilma, que, como bem lembrou Reinaldo Azevedo, sancionou as regras atuais da delação premiada que agora critica e, como destacou o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, não tinha o direito de atacar politicamente um dispositivo legal de seu país em viagem internacional. Cumpriu, com isso, seu dever de opositor. No entanto, pelo menos no Brasil, parece que a social democracia, ideologia centro-esquerdista que dá nome ao partido do senador e ex-presidenciável, é sinônimo de “falta de fibra”. Aécio Neves fez questão de incluir um parágrafo alegando que, ao comparar os delatores de seu tempo com os delatores da Operação Lava Jato, Dilma “desrespeitou os próprios companheiros de resistência democrática”. Ora, francamente; o senador não pode alimentar, ainda que dentro de uma crítica, o imaginário mitológico construído pela esquerda lulopetista e pelo marketing do governo para engrandecer a figura da presidente. Dilma Rousseff e seus “companheiros” jamais lutaram contra o regime militar brasileiro pela democracia; eram terroristas marxistas, que pretendiam impor um regime verdadeiramente totalitário, sem qualquer comparação com a própria tutela que o país vivia naquele período. Em momento algum foram guerreiros da “resistência democrática” ou amigos do Brasil. Como todo comunista, eram confessadamente inimigos da pátria e dos valores liberais democráticos.

Confabulando sobre isso com amigos, alguns me apresentaram o argumento, até compreensível, de que a mitologia petista do heroísmo da resistência da turma de Dilma está muito sacramentada por anos de doutrinação inveterada e que Aécio, como todo político, adotou o tom adequado para atingir seu objetivo junto ao público. Não quis correr o risco de ver manchetes manipuladas, no dia seguinte, alardeando que ele seria “a favor da ditadura militar” ou qualquer outra bobagem do gênero. Aceito parcialmente o argumento, embora ele me leve a concluir que teria sido melhor não incluir esse parágrafo – sem ele, o texto daria o recado tranquilamente – do que assumir responsabilidade por publicar palavras mentirosas e, consequentemente, desabonadoras. A tal “palavra de político”, que teria de ser vista, a julgar por esse raciocínio, com condescendência, ao se tornar necessária para o embate típico desse meio – e não escrevo para discordar disso –, não justifica dizer inverdades. Tenho dúvidas, aliás, de que os eleitores antipetistas desejam ouvir um “representante” amaciando o ego da presidente, engrossando, de alguma sorte, a lenda que ela vende sobre seu próprio passado.

Também o senador Marco Rubio, da Flórida, um dos pré-candidatos do Partido Republicano à presidência dos Estados Unidos, se inseriu nesse debate ao comentar, em seu perfil nas redes sociais, a visita da nossa “mandatária” ao seu país. Rubio afirmou que o presidente de seu país, do Partido Democrata (de esquerda, com posições cada vez mais acentuadas nessa direção) deveria encorajar Dilma a usar a influência do Brasil, a “maior democracia da América do Sul”, para confrontar a repressão do regime bolivariano da Venezuela e da ditadura Castro em Cuba. Não faço qualquer comparação, que fique claro, entre os nossos tucanos e os conservadores e libertários americanos. Aécio Neves e Rubio são bastante diferentes. Contudo, se o comentário de Rubio reconhece que o governo do PT poderia fazer mais para mudar a nossa situação regional, ele ignora completamente que esse mesmo governo é central no funcionamento de todo o esquema de poder que vigora no subcontinente, através do acordo de partidos e movimentos de esquerda via Foro de São Paulo. Desconhece a orquestração iniciada por Lula e Fidel Castro em 1990, diretamente vinculada ao chavismo e ao bolivarianismo. Despreza o apoio financeiro e geopolítico do PT a todos esses regimes que o senador americano deseja que ele combata, como o desejaria qualquer cidadão de bem consciente do que acontece aqui. Reconhecemos e admiramos a preocupação sincera demonstrada pelo senador Marco Rubio quanto aos nossos graves problemas latinos, que não parecem ser internacionalmente encarados na dimensão que mereceriam, mas perguntaríamos: seria ele ignorante quanto à verdadeira dinâmica do projeto de poder que ajuda a sustentar os regimes autoritários que quer ver contidos, ou estaria sendo apenas “diplomático”, “politicamente correto”, usando, enfim, o “papo de político” , para se referir à governante estrangeira que então visitava seu país? Não sabemos. No entanto, pessoalmente, gostaríamos que sua declaração ecoasse a gravidade da situação.

Jesus disse, segundo a Bíblia, que nosso falar deveria ser “sim, sim, não, não”, e o que viesse além disso seria maligno. De Rubio, não podemos exigir tanto, embora fizesse muito bem ao nosso continente se um presidente americano, ciente da importância estratégica de nossa região, tão próxima a eles, fosse eleito adotando um tom incisivo contra a barbárie autoritária, posicionando-se como uma liderança ocidental genuína – tal como fizera Winston Churchill nos tempos sombrios da guerra.  De Aécio, podemos dizer mais; independente dos seus motivos para se portar como se portou, as ideias da liberdade, para serem sustentadas no âmbito político-partidário, exigem e exigirão sempre transparência, positividade e firmeza. Não podemos ter como alternativa apenas uma oposição tímida, pacata, contida e que não dá nome aos bois como eles merecem.

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

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