Liberais deveriam adotar diferentes estratégias para mudar a política do país

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Vários leitores perguntam qual a melhor estratégia para que o liberalismo possa finalmente nos dar o ar de sua graça, influenciar para valer os rumos de nossa política. Não acho que exista uma só resposta. Ao contrário: acredito que estamos levando uma goleada tão grande que se faz necessário ter inúmeras estratégias de reação, de vitória.

Criar um partido novo, por exemplo. Foi feito, e o Novo, de fato, conseguiu emplacar quatro vereadores em sua primeira eleição. É um caminho, sem dúvida. O partido deve ter cuidado, claro, com os falsos liberais que eventualmente se aproximam dele, aqueles “liberais” que flertam também com aberrações como a Rede, de Marina Silva. Mas com certeza o Novo tem um viés bem mais liberal do que a média, e deve ser incentivado. Começa a colher alguns frutos.

Mas seria besteira, em minha opinião, limitar a estratégia a um só partido novo e ainda pequeno, sem muita força. Acho, portanto, que a “tomada” de outros partidos já estabelecidos é fundamental nessa guerra ideológica. O PSDB pode ser um antro de esquerdistas mais civilizados, pode abrigar até uns socialistas fabianos, mas tem também vários políticos com viés mais liberal. O DEM mais ainda. Seria besteira abandoná-los aos caciques fisiológicos e/ou esquerdistas.

No caso do PSL, alguns libertários fizeram esse movimento, com o Livres, e tiveram resultados razoáveis nas urnas. Foi um começo. E no caso do PSC, mais conservador, houve também uma união e vários liberais legítimos conseguiram influenciar o programa de governo, como no caso de Flavio Bolsonaro. É outra estratégia que me parece acertada, até porque há muita convergência entre liberalismo e conservadorismo, principalmente num ambiente dominado pela hegemonia de esquerda e um relativismo moral excessivo que deveria incomodar também os liberais.

Outra estratégia que sempre gostei foi aquela usada pelo Movimento Brasil Livre (MBL), que é criar um movimento com cores liberais e, depois, usá-lo para infiltrar vários liberais em diferentes partidos. Uma reportagem sobre as vitórias do MBL hoje no GLOBO dá a entender que o grupo teria mentido ou caído em contradição por se dizer apartidário, e ter apoiado 12 partidos.

Ora, não há nada errado nisso. Seria partidário se apoiasse um partido, não é mesmo? Ao apoiar candidatos de até 12 partidos, isso quer dizer claramente que o partido não é o mais relevante, e sim os princípios e ideias que cada um desses candidatos defende. Eis uma boa ideia também, ainda mais em nosso contexto de enorme fragmentação partidária e com partidos que não possuem muita solidez programática.

Teremos assim uma “bancada liberal” nas Câmaras municipais e eventualmente no Congresso, com vereadores e deputados unidos pela causa comum, independentemente do partido, como já ocorre com a “bancada da bala” ou “bancada do boi”, nomes pejorativos dados pela esquerda, naturalmente.

Por fim, e talvez o mais importante, nada disso é viável sem uma boa base de ideias liberais, ou seja, o papel dos vários institutos que surgiram para divulgar o liberalismo é simplesmente indispensável. São eles que vão dar sustentação a esses políticos, que vão preparar o terreno no campo das ideias para que suas propostas sejam aceitas pela sociedade, que fornecerão argumentos e embasamento para os debates. Como Luan Sperandio colocou em ótimo texto pelo Instituto Liberal, é crucial investir nas ideias liberais:

Isso é essencial para que indivíduos tenham tempo para aprimoramento acadêmico, estudos fundados nas ideias da liberdade, na realização de pesquisas e publicação de artigos, espaço na produção de obras, abertura de editoras, e demais ações de toda sorte. Se não houver financiamento para tornar o movimento sustentável, corre-se o risco de todo o trabalho dos últimos anos perecer. E isso é responsabilidade individual de cada liberal.

Quando o empresário Antony Fisher perguntou a Hayek se deveria abrir um partido, foi convencido pelo gigante liberal a abrir, ao contrário, um think tank, que iria preparar o terreno para que candidatos com viés liberal surgissem no horizonte. Nascia então o Institute of Economic Affairs, em 1955. Duas décadas depois o terreno estava fértil para que Margaret Thatcher liderasse um programa de reformas radicais em prol do liberalismo.

 

Em resumo, não acho que os liberais devessem adotar uma só estratégia. A esquerda sempre adotou várias, e conquistou sua hegemonia, que vem levando o Brasil cada vez mais para um modelo socializante e estatista. Se desejamos reverter esse quadro, então temos que reagir nas diferentes esferas, na política e na cultura, e de diferentes formas, sem partidarismo mesmo, pois defendemos ideias, não partidos específicos.

Se um Michel Temer apresentar propostas mais alinhadas ao liberalismo, deve ser apoiado. Se João Dória é tucano, mas tem uma pauta liberal, merece apoio. O importante é sempre caminhar na direção de mais liberdade. Com qual partido é o de menos…

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Rodrigo Constantino

Rodrigo Constantino

Presidente do Conselho do Instituto Liberal e membro-fundador do Instituto Millenium (IMIL). Rodrigo Constantino atua no setor financeiro desde 1997. Formado em Economia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ), com MBA de Finanças pelo IBMEC. Constantino foi colunista da Veja e é colunista de importantes meios de comunicação brasileiros como os jornais “Valor Econômico” e “O Globo”. Conquistou o Prêmio Libertas no XXII Fórum da Liberdade, realizado em 2009. Tem vários livros publicados, entre eles: "Privatize Já!" e "Esquerda Caviar".

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