Palavras machucam: ainda que sejam ditas em um estádio de futebol?!

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Ricardo Bordin*

O “politicamente correto” avança feito a bolha assassina (meu lamento aos mais jovens que não viram o clássico do cinema trash) em nossa sociedade: a FIFA multou a CBF em vinte mil francos suíços como punição pelo comportamento “homofóbico” de nossa torcida no jogo com a Colômbia. Cada vez que o goleiro adversário cobrava o tiro-de-meta, era ouvido um uníssono “bicha” na arena da Amazônia. Totalmente justa a autuação, tendo em conta que todos os 36 mil torcedores pretendiam, a cada vez que repetiam a gracinha, ofender a todos os homossexuais no planeta e lembrar ao guarda-redes que, em decorrência de sua preferência sexual, ele merecia sofrer muitos gols – muito embora ninguém nem soubesse quem era o dito-cujo, mero detalhe. Que feio, Brasil. Opa, feio não, posso ser acusado de feiofobia.

Só mesmo alguém muito interessado em aparecer – e avesso à ideia de subir na mesa pelado com um abacaxi pendurado no pescoço – poderia proceder de maneira tão risível quanto os burocratas desta entidade desportiva cujos membros, nas páginas policiais de periódicos, não ficam devendo em nada para os réus da lava-jato. Ou então o problema é ignorância mesmo: essa provocação com os goleiros começou com os torcedores mexicanos, que há muito tempo gritam “puto” na reposição de bola em jogo, e, até onde se sabe, nenhum morador do entorno das canchas mexicanas já cortou os pulsos ou saltou pela janela.

Os próximos passos desta marcha rumo a esvaziar os estádios ou transformá-los em teatros ocupados pela audiência dos shows de Caetano Veloso? Fácil prever: nada de chamar jogadores pançudos (abundantes no Brasil – com o perdão do trocadilho) de gordos, pois vai que todas as pessoas com sobrepeso no mundo se ofendam; gritar impropérios para a genitora do árbitro? Claro, se quiser ser conduzido para o juizado especial por ultrajar um símbolo da libertação feminina (ou será que a prostituição é derivada do patriarcalismo? Feministas confusas nesta hora); assobiar para a bandeirinha da beira do campo? Sim, incentive bastante a cultura do estupro, fascista!

Aquela campanha de marketing de uma conhecida marca de tubos e conexões está muito próxima de deixar de ser engraçada e passar a ser vídeo institucional da CBF: “quando for ao estádio, fale palavrões fofinhos”. Aqui ó, FIFA, aqui ó!

 

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Sobre o autor: Atua como Auditor-Fiscal do Trabalho, e no exercício da profissão constatou que, ao contrário do que poderia imaginar o senso comum, os verdadeiros exploradores da população humilde NÃO são os empreendedores. Formado na Escola de Especialistas de Aeronáutica (EEAR) como Profissional do Tráfego Aéreo e Bacharel em Letras Português/Inglês pela UFPR. Também publica artigos em seu site: https://bordinburke.wordpress.com/ 

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