Apesar do tom cômico, Maher e os democratas sabem que, se as coisas seguirem como estão, os EUA voltarão para o controle republicano. De acordo com uma pesquisa da rede CBS, apenas um quarto dos americanos acreditam que seu país está indo na direção correta. Outra pesquisa mostrou que o índice de aprovação de Biden está em 33% – um recorde de desaprovação entre presidentes daquele país. Apenas 38% dos americanos acham que a economia está sendo bem gerida. Sobra até para a vice-presidente Kamala Harris, cujo índice de popularidade está em 18%.

Não é para menos. Biden disse em julho de 2021 que a inflação era meramente “transitória” (no sentido de que ela eventualmente desapareceria), mas não é isso que os dados têm mostrado: ela é a mais alta no país desde 1982. Uma “solução” apresentada pela administração democrata é que o governo precisa aplicar regras que impeçam os mercados de se tornarem monopolistas, conhecidas como leis “antitruste”. A lógica é mais ou menos assim: os monopólios são capazes de cobrar preços mais altos, portanto, ao parar os monopólios, haverá um impedimento à subida de preços. Se você não pensar muito, isso faz um sentido superficial, porém, na realidade, é improvável que isso funcione e vou explicar o porquê.

É verdade que setores que consistem em monopólios terão preços mais altos, mas, se uma empresa era um monopólio ontem e hoje, não há razão para que a empresa consiga aumentar os preços repentinamente. Se os monopolistas podiam aumentar os preços hoje e lucrar mais, por que não o fizeram ontem? Algo mais deve ter mudado. Culpar monopólios pela inflação vai na mesma linha que culpar empresários gananciosos pelo fenômeno. Ora, se os empresários também eram gananciosos há três anos, então, por que a inflação de hoje está mais alta que em 2019? Eles ficaram mais gananciosos de repente? Improvável.

Tal solução era uma besteira tão grande que gerou inclusive um fogo-amigo nas hostes democratas. Lawrence H. Summers, economista e ex-secretário do Tesouro do presidente Bill Clinton, comparou a ideia de usar leis antitruste para combater a inflação como “negação da ciência”. Além dele, Jason Furman, ex-economista de alto escalão do presidente Barack Obama, disse que a noção de que a “ganância corporativa” está impulsionando a inflação não se baseia em argumentos econômicos sólidos.

A verdade é que, se a inflação está alta, é culpa do governo, apesar de que ele dificilmente vai admitir sua culpa no cartório. Jerome Powell, presidente do Banco Central de Biden, disse que a instituição “inundou o sistema com dinheiro”, pois entre 35% e 40% dos dólares em circulação total foram impressos nos últimos 22 meses. Vale aqui lembrar o que Milton Friedman disse sobre a inflação: “é sempre e em toda parte um fenômeno monetário no sentido de que é e pode ser produzida apenas por um aumento mais rápido na quantidade de dinheiro do que na produção.”

Em 2020, durante as eleições presidenciais, Biden teceu algumas críticas a Milton Friedman. Primeiro ele ironizou o economista neoliberal perguntando: “quando [foi que] Milton Friedman morreu e se tornou rei?”. Logo depois ele dobrou a aposta, ao prometer que sob seu governo “Milton Friedman não estaria mais no comando”. Haja vista os índices de inflação no seu governo, seguramente Friedman não é uma influência na administração Biden.

*Artigo publicado originalmente na página Liberalismo Brazuca no Facebook.