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Gregorio Duvivier e a desconexão entre meios e fins em defesa dos pobres

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BERNARDO SANTORO*

eitchaleleDeu o que falar, dentro do mundo liberal, o artigo do Gregorio Duvivier na Folha de São Paulo em que ele, de maneira irônica, tenta desqualificar o discurso liberal com os dois seguintes argumentos: (i) que liberais são insensíveis com quem não teria dinheiro para pagar por produtos e serviços essenciais como saúde e educação, além de produtos e serviços não essenciais como barrinhas de cereal; e (ii) que empresários também falham na condução de seus negócios (citando o exemplo de Eike Batista), não sendo uma grande vantagem a troca de um sistema estatal por um de mercado.

Reforçando o primeiro argumento, no facebook o autor declarou ser a favor de um estado presente, não só na saúde e na educação, mas na cultura e no mercado, que acredita na necessidade do Estado fomentar, proteger, intervir e que sonha com mais projetos culturais incentivados pelo governo, mais escolas, mais teatros e hospitais públicos, e de melhor qualidade, mesmo que isso signifique mais impostos.

Vou partir do pressuposto que o autor é bem intencionado e que quer mesmo ver os pobres com melhores escolas, hospitais e teatros. Nesse caso, os meios propostos pelo autor (o Estado) para se chegar aos fins nobres pretendidos (serviços de qualidade para os pobres) são os piores possíveis. A lógica interna do sistema estatal possui incentivos contrários aos fins de produtividade e qualidade. Na lógica da verba pública, quanto pior o serviço, maior a demanda popular por mais dinheiro para aquele serviço. Há, portanto, um incentivo para a piora do serviço (o aumento da verba). Essa lógica é inquebrável.

Para não dizer que estou sendo radical, o próprio Gregorio é exemplo vivo dessa lógica. Ele admite no texto da Folha que os serviços públicos são ruins e no facebook afirma que, para que eles melhorem, deve se posto mais dinheiro no sistema,  mesmo que isso signifique mais impostos (palavras dele). Como o dinheiro continua aumentando e o sistema continua piorando, esse esquema se torna um círculo vicioso no qual Gregorio está sendo uma vítima intelectual. O problema é que, enquanto ele é uma vítima intelectual, pobres estão sendo vítimas reais.

A solução mais razoável que o liberalismo propõe para o tema é o sistema de vales. A ideia é desmontar o sistema público de escolas e hospitais e entregar a cada pobre uma determinada quantia em dinheiro para que ele, o pobre, escolha onde seu filho vai estudar e que plano de saúde vai querer. A ideia liberal é que pobres também tenham acesso a escolas e hospitais privados de qualidade, ainda que subsidiados pelo governo em algum nível para os mais necessitados.

Gregorio acusa os liberais de classe média de não quererem ver seus filhos na mesma escola que o filho do motoboy. Essa acusação não faz o menor sentido. Se liberais de classe média não quisessem ver seus filhos com os filhos de motoboys, bastariam defender o atual modelo de escola pública onde os filhos de motoboys ficam bem longe. Ao contrário, liberais de classe média estão defendendo um modelo onde o filho de motoboy também consegue acesso a uma escola privada de qualidade, com os incentivos econômicos do lucro, em que uma escola, para conseguir dinheiro, precisa fornecer o melhor produto pelo menor preço possível.

Quanto ao segundo argumento, de que empresários também podem ser péssimos gestores, a preliminar óbvia é que Eike Batista e “o Presidente da Gol” (Nenê Constantino) são empresários com forte laço estatal e que foram fortemente subsidiados com dinheiro público (em especial do BNDES – para o primeiro – e do BNB – para o segundo), e esse modelo é atacado ferozmente por liberais. Subsídios públicos, como os vales referidos, deveriam se conter apenas a questões básicas como educação e saúde, e sempre de maneira parcimoniosa, buscando uma real emancipação do pobre.

Mas vamos conceder, para fins de honestidade intelectual, que empresários, mesmo os não financiados pelo governo, quebram. Pois bem, nesse caso eu digo que isso é muito bom. Quando um empresário quebra, isso se dá por sua incapacidade de servir a sociedade com eficiência, e ele deve dar lugar a pessoas que façam isso melhor. Essa destruição criativa aloca os investimentos sociais aonde as pessoas realmente necessitam e da melhor maneira possível. E o mercado ainda traz outra vantagem em relação ao estado: quando uma empresa quebra, os prejuízos acabam sendo mais restritos aos investidores, empregados e clientes diretos. Quando o estado quebra, a sociedade toda sai prejudicada. Os efeitos da quebra são muito maiores e afetam o país inteiro.

E ainda nesse segundo ponto, o autor cai em contradição. Requerer investimentos estatais no setor econômico em que ele atua, que é o teatro, não o diferencia em nada dos empresários que tentou criticar (Eike e Nenê). Fica a impressão que a crítica do autor a esses empresários não se dá porque eles recebem verbas governamentais, mas sim porque eles receberam MAIS verbas governamentais que as peças de teatro dele e de seus amigos mais chegados. Isso sim deslegitima uma crítica.

E se Gregorio não se difere muito de Eike e Nenê, faço a ele a mesma indagação feita no texto da Folha: que tal entregar o país ao Gregorio? Com ele, ninguém vai precisar pagar por barrinhas de cereal, mesmo que isso signifique mais impostos.

*DIRETOR DO INSTITUTO LIBERAL

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Bernardo Santoro

Bernardo Santoro

Mestre em Teoria e Filosofia do Direito (UERJ), Mestrando em Economia (Universidad Francisco Marroquín) e Pós-Graduado em Economia (UERJ). Professor de Economia Política das Faculdades de Direito da UERJ e da UFRJ. Advogado e Diretor-Executivo do Instituto Liberal.

2 comentários em “Gregorio Duvivier e a desconexão entre meios e fins em defesa dos pobres

  • Avatar
    02/12/2013 em 8:09 pm
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    Excelente réplica, de forma clara e incisiva quebrou todos os argumentos do senhor Duviver. Tomará que ele leia e escreva uma tréplica, já imaginou que pérola seria.

  • Avatar
    02/12/2013 em 5:46 pm
    Permalink

    Parece que o aumento do padrão de vida, a fama e a convivência com os artistas-pensadores-sérios-e-formadores-de-opiniões fez mais uma vítima, ou melhor, mais um artista-pensador-sério-e-formador-de-opiniões.

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