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Deixem nossas crianças brincar

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Fiquei sabendo recentemente, ao tentar comprar um presente para meu neto, que há uma lei (nº 7048/15) no estado do RJ que proíbe “a fabricação, a venda, a comercialização, o transporte e a distribuição de brinquedo, réplicas ou simulacros de armas de fogo, que com elas possam se confundir”. Em rápida pesquisa no Google, verifiquei a existência de leis semelhantes em diversos outros estados da federação.  A nível federal, tramita na Câmara dos Deputados um Projeto de Lei (PL 7380/14) que inclui ainda vedação a “brinquedos que disparem bala, bola, espuma, luz, laser e assemelhados, que produzam sons ou que projetem quaisquer substâncias ou objeto que permitam a sua associação com arma de fogo”.

Na justificação (sic) do projeto federal, sua autora, a deputada Keiko Ota, aponta para a necessidade “de se introjetar na psique da população brasileira o desejo de não possuir e de não portar armas de fogo. Nesse sentido, o público alvo representado pelas crianças e jovens, com a mentalidade ainda em formação, representa o melhor público alvo das campanhas pelo desarmamento (sic). Por esse ângulo, a melhor campanha começa pelo não uso de armas de brinquedo, sendo louvável todo tipo de óbice que se puder colocar, como pretende o projeto de lei em pauta, à fabricação, à venda, à comercialização e à distribuição, a qualquer título, de armas de brinquedo que sejam réplicas ou simulacros de armas de fogo de qualquer natureza. ”

Traduzindo para o português, esse negócio de “introjetar na psique da população um desejo” qualquer é coisa de gente que, em pleno século XXI, ainda insiste em querer melhorar o mundo “criando um novo homem”.  Nada muito diferente do que os programas de reeducação de Mao Tsé-Tung, durante a Revolução Cultural chinesa, por exemplo, cujos resultados catastróficos a História mostrou.

Brincar de polícia e ladrão, com armas de brinquedo em punho, tem sido uma diversão para milhões de crianças, nos quatro cantos mundo, há séculos.  Para dar uma idéia do ridículo que são essas leis, eu pergunto: vão punir também os pais dos garotos que apontarem o dedo uns contra os outros, ou mesmo daqueles que venham a utilizar canetas, palitos de sorvete e outros objetos como imitação de armas?

Se deixassem de lado os psicologismos baratos e as ideologias caducas, nossos legisladores perceberiam que, quando meninos e meninas apontam suas armas ou esguicham água, espuma ou bolas uns nos outros, a brincadeira geralmente envolve o duelo do bem contra o mal. É uma atividade lúdica que os ajuda a diferenciar o mocinho do bandido, o justo do injusto, o certo do errado.  Será que isso é algo tão ruim, meu Deus?  Será que Suas Excelências não tiveram infância?  Será que já pesquisaram a proporção de indivíduos que, no passado, brincaram com “armas” e se tornaram adultos honestos e trabalhadores?

Ao contrário do que pretendem seus idealizadores, essas proibições (ou será que eu deveria dizer introjeções?) servirão apenas para transformar nossas crianças em adultos inseguros e medrosos, embora politicamente corretos.  Os pequenos aprendem também (senão principalmente) pelo exemplo, e o exemplo que estamos dando a eles é o da paranóia, da fobia, da covardia.  No afã de protegê-los, estamos transformando-os em adultos traumatizados e sem iniciativa.

Senhores legisladores, parem de querer regulamentar até as brincadeiras infantis mais tradicionais, deixem nossos pequenos brincar em paz, aproveitar a infância, dar asas à imaginação.  E, o mais importante: sob a tutela da família, não do Estado-babá.

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

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