fbpx

Breve panorama sobre a urbanização: Estados Unidos e Brasil

Print Friendly, PDF & Email

Desde que sou criança, toda vez que via uma representação de alguma civilização avançada tecnologicamente, existiam dois padrões em comum:

Primeiro, toda a cidade estava platinada em sua totalidade, desde a cor dos edifícios, carros, ruas e até mesmo as roupas.

O segundo: existiam arranha-céus imensos concentrados em pequenas áreas urbanas de alta densidade com uma periferia próxima, cercada de grandes áreas verdes ao redor.

O primeiro padrão, era culpa de uma moda estética que visionava o futuro como platinado, coisa que inclusive dominava clipes musicais no começo dos anos 2000, assim como coisas feitas de acrílico.

Pensando no lado científico, uma cidade platinada em dia de sol quente seria uma grande chapa quente que tornaria a vida humana dentro dela insustentável.

Por outro lado, a grande densidade demográfica e os arranha-céus eram a certeza de um futuro superpopuloso que conseguiria assegurar a vida de milhões de pessoas em áreas menores, melhorando seu aproveitamento, enquanto cercado de áreas verdes preservadas para assegurar o equilíbrio ecológico necessário ao planeta.

O curioso é que, na vida real, tal idealização é possível, porém, poucos seguem tal visão arquitetônica e acabam indo na contramão desta visão, priorizando grandiosas ocupações urbanas por vários quilômetros quadrados sem concentrar uma única área verde próxima.

Durante os anos 50 e 60, grande parte dos arquitetos urbanistas do mundo desenhavam planos urbanos visando cidades para carros.

Preocupações ecológicas sobre mudanças climáticas ainda não pairavam sobre as políticas públicas e o carro era visto como o futuro do urbanismo.

Como resultado, as cidades se expandiram para os mesmos. Nos EUA, proliferaram a cultura das “highways”, rodovias urbanas com até 6 pistas para o trânsito de carros a até 100 milhas por hora (160 km/h).

Planos diretores urbanos priorizavam casas grandes, com amplos quintais e garagens, limitando a altura de prédios residenciais, demolindo bairros inteiros para passar grandiosas rodovias ligando regiões distantes em alta velocidade.

Dois choques de petróleo seguidos e os primeiros estudos concluindo que a emissão de CO2 estava alterando o clima terrestre, e a situação mudou freneticamente. O carro, símbolo do futuro, era visto como um inimigo do clima.

Mas as cidades herdaram legados para carros que acabaram resultando em grandiosos problemas urbanos legado pelo crescimento populacional, como os acidentes de trânsito, engarrafamentos, falta de espaço para mais carros e outros relacionados a outras situações como o crescimento de bairros periféricos de extrema pobreza exilados do centro, onde a vida urbana e atividade econômica acontecia.

Algumas cidades, neste sentido, optaram pela impopular medida de dificultar a proliferação e o uso de carros, substituindo os mesmos por outras modalidades de transporte urbano, preferencialmente coletivo ou de baixa emissão de carbono.

Nova York, a grande metrópole americana, decidiu ampliar seu complexo sistema de metrôs, expandir a oferta de ônibus e reduzir o tamanho de vias, além de, pelo fato de, à época, contar com os maiores prédios do mundo, permitir que prédios residenciais de tamanho similar fossem construídos. Além de, desde o século XIX, contar com um grandioso parque bem coração da cidade.

Ainda proibiu em seu plano diretor a instalação de indústrias pesadas dentro do perímetro urbano, levando as mesmas a serem deslocadas para fora da cidade.

Porém, o grande centro de Nova York, a ilha de Manhattan, já diminuta e afogada de pessoas, não iria se tornar acessível para todos.

A cidade então autorizou que os grandes prédios fossem construídos em todos os seus distritos, aumentando assim a oferta de apartamentos.

Com isso, Nova York se tornou uma das cidades do mundo onde as pessoas menos usam o carro. Apenas 7% dos nova-iorquinos alegam precisar usar o carro todos os dias, devido à proximidade com a qual o seu plano diretor permitiu que comércio e residências pudessem conviver em conjunto e às vezes na mesma edificação, facilitando a vida urbana.

Porém, outras cidades seguem na contramão do exemplo nova-iorquino, sendo estas Detroit e Los Angeles.

A primeira cidade decidiu não abrir mão de suas indústrias e apostou severamente no espraiamento, expandindo e construindo uma cidade espraiada capaz de conglomerar até 8 milhões de habitantes.

Mas a cidade nunca sequer chegou a abrigar tanta gente, e com a queda da qualidade de vida com a integração da zona industrial diretamente na cidade, a emigração se tornou massiva, mesmo nas regiões centrais, enquanto proliferavam periferias afastadas e violentas não integradas à cidade pela falta de transporte público e um sistema de metrô estagnado em 1950.

O resultado foi a falência completa da cidade e o abandono completo de bairros e distritos inteiros, tornando uma cidade fantasma em diversas regiões.

Já Los Angeles dificilmente atingiria a falência de Detroit, afinal a cidade é a casa do entretenimento americano e sempre foi muito visada por isso. Porém, sua política de espraiamento tornou a cidade altamente segregada.

Los Angeles, após a construção de seus primeiros arranha-céus, aprovou um plano diretor que vetou para sempre a ascensão de novos, e pelo motivo mais elitista possível.

Os arranha-céus, instalados no centro de LA, fechavam a vista para o mar que privilegiavam as residências das montanhas, preferencialmente ocupadas pelos artistas milionários da indústria de entretenimento americano.

Como resultado, os prédios ficaram limitados a 5 andares na região central, e com o aumento populacional, escasseou os prédios centrais, necessitando assim, o espraiamento urbano para periferias.

As periferias de Los Angeles se tornaram tão imensas pelo espraiamento que simplesmente passou a invadir e conurbar com cidades vizinhas.

Compton, na Califórnia, famosa por ser onde nasceu os rappers da costa oeste americana em sua maioria, é um exemplo claro disto.

Um simples vilarejo rural nos anos 50, devido ao baixo custo e proximidade de Los Angeles pelas rodovias, simplesmente expandiu ao ponto de virar uma das 20 cidades mais populosas dos EUA. E em sua maioria, os habitantes de Compton são negros, que devido à baixa renda e segregação racial, foram “expulsos” para morar na cidade vizinha e não atrapalhar a vista dos famosos.

No Brasil, a mentalidade do espraiamento ainda domina muitas cidades, principalmente devido a lobbys organizados de associações de moradores de bairros de alta renda.

A cidade de São Paulo, por exemplo, seguiu expandindo e espraiando seu território a ponto de criar a primeira megalópole, uma faixa contínua de conurbação urbana entre vários municípios, que começa na região metropolitana a leste e termina somente na cidade de Campinas.

As desculpas para lobbys em geral ficam entre a desvalorização das propriedades até desculpas esfarrapadas como “acesso ao sol”.

Por outro lado, cidades como Curitiba, seguiram uma mentalidade diferente, e a cada ano se verticaliza mais, sendo um dos centros urbanos com imóveis mais baratos do Brasil, fora um grande acesso ao transporte coletivo, mesmo sem o metrô, onde apenas 30% dos moradores usam o carro diariamente.

Os únicos que são beneficiados dos espraiamento urbano são aqueles que, dispondo de alta renda, compram as melhores casas localizadas nas regiões centrais das grandes cidades, enquanto rifam grupos de baixa renda para a periferia, quase sempre abandonada e ignorada pelo poder público, onde proliferam os grandes índices de violência urbana.

*Artigo publicado originalmente na página Liberalismo Brazuca no Facebook.

Faça uma doação para o Instituto Liberal. Realize um PIX com o valor que desejar. Você poderá copiar a chave PIX ou escanear o QR Code abaixo:

Copie a chave PIX do IL:

28.014.876/0001-06

Escaneie o QR Code abaixo:

Instituto Liberal

Instituto Liberal

O Instituto Liberal trabalha para promover a pesquisa, a produção e a divulgação de ideias, teorias e conceitos sobre as vantagens de uma sociedade baseada: no Estado de direito, no plano jurídico; na democracia representativa, no plano político; na economia de mercado, no plano econômico; na descentralização do poder, no plano administrativo.

Pular para o conteúdo