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A eleição de Lula em 2002: Ufa, que sorte!

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Sim, devemos lamentar profundamente a existência de um partido como o PT, mais ainda por ser ele quem dita os des-rumos desse país há mais de 12 anos. Mas poderia ser pior. Muito pior.

Somava-se à grave crise econômica da década de 1980 um verdadeiro frenesi comunista nas universidades e nos sindicatos devido a reconquista da liberdade política. Uma dúzia de partidos recém-legalizados disputava a preferência dos acadêmicos, dos intelectuais, dos estudantes e das massas operárias ostentando as mesmas bandeiras que estavam sendo rasgadas mundo à fora, com o desmoronamento da União Soviética. Porém, o PT achou caminho, apoio e estratégia diferentes.

Apesar do caráter de suas reivindicações, Lula rejeitava o carimbo comunista, o que lhe possibilitou conquistar o apoio de boa parte da igreja católica, que o ajudou a moldar o personagem de que ele era apenas um homem do povo lutando pelos interesses do povo, forjando uma semelhança com Lech Wałęsa, líder sindical polonês que havia ganho o Prêmio Nobel da Paz em 1982. Dessa forma Lula conseguiu espaço quase diário na mídia, onde manifestava suas intenções marxistas sem que ninguém as reconhecesse como tais.

Foi isso que o levou ao segundo turno das eleições de 1989; e se Collor não tivesse sido tão canalha ao apresentar a filha bastarda de Lula em seu programa eleitoral, com certeza a história brasileira desde então teria sido muito, muito mais dramática.

Obrigado, Collor!

O cenário político e econômico daquela época era perfeito para Lula realizar os sonhos de toda a intelligentsia socialista que o apoiava. A inflação era de 80% ao mês. Apenas ¼ da população ganhava mais de dois salários mínimos. Crises de abastecimento e a falta de dinheiro até para pagar servidores públicos eram manchetes comuns nos jornais. O desespero do brasileiro o fazia suscetível a crer em qualquer nova promessa de milagre.

É importante ter em mente que o Lula daqueles tempos não é o Lula que o Brasil conhece dos anos 2000 para cá. Eram raras as entrevistas e declarações em que ele não se concentrava em atacar e ofender pessoas, numa agressividade que hoje só enxergamos nos militantes comunistas mais radicais. Naqueles tempos, ele e seu partido eram diretamente influenciados pelos acadêmicos e intelectuais socialistas; e todos eles defendiam fervorosamente o mais alto grau de intervencionismo estatal. A arrogância e a cretinice de Lula hoje são apenas resquícios do que ele já foi um dia.

Mesmo assim, Lula só não venceu em 1994 e em 1998 porque Fernando Henrique Cardoso conseguiu estabilizar a economia e organizar o Estado, o que não apenas melhorou muito a vida do brasileiro comum, com também conscientizou a sociedade de que o país poderia se desenvolver sem revoluções. Percebendo isso, o Partido dos Trabalhadores teve que mudar de estratégia: Amenizou o discurso evitando radicalismos e deu um “banho de loja” em Lula.

Sua repaginação foi suficiente para conquistar eleitores em 2002, mas não o mercado, que se viu aterrorizado pela possibilidade de ele, ao assumir a presidência, fazer tudo o que prometia fazer até poucos anos antes. Para frear a fuga de capitais, Lula e o PT se viram obrigados a publicar a famosa Carta aos Brasileiros, que nada mais era que seu compromisso de não desfazer o trabalho de FHC. Colou. Cá estamos…

Ajuda-nos a imaginar o que teria acontecido ao Brasil se Lula tivesse sido eleito em 1989 ou em 1994 relendo as publicações dos autores socialistas da época, que tinham o PT como a grande esperança de que o socialismo seria implantado no Brasil tal como Marx o desenhou.

Um ótimo exemplo da pressão que o PT sofria vem da produção de Florestan Fernandes, orgulhoso marxista que, até nos dias de hoje, principalmente entre os universitários, é tido como uma das grandes referências do socialismo brasileiro. Para ele, o desmoronamento do comunismo soviético foi causado por um infortúnio histórico – passaram do czarismo direto para o comunismo sem ter experimentado o capitalismo – enquanto a revolução cubana era um sucesso em si mesmo, apesar da sabotagem estadunidense.

No Brasil, Florestan Fernandes via a nova Constituição Brasileira, apesar de seu alto grau assistencialista, como uma carta burguesa escrita por burgueses para se atender aos interesses burgueses, mas reconhecia que ela “alargou o espaço político dos partidos de esquerda, fortalecendo-os no seio das classes trabalhadoras”.

Em seu livro Pensamento e Ação, publicado pela primeira vez em 1989, Florestan Fernandes reúne textos nos quais descreve as diretrizes do PT entrelaças à suas próprias, enquanto candidato do partido ao parlamento constituinte.

“A propriedade privada perdeu o seu caráter de ‘princípio sagrado e inviolável da ordem pública’. (…) Cumpre regular claramente as limitações que devem balizar o seu uso social e delimitar sua expropriação, estatização, federalização e socialização com fins coletivos”, escreve, expondo também as ações que o PT deveria tomar em relação aos serviços públicos: “…estatização correspondente do sistema escolar, do sistema de saúde, do sistema bancário, do sistema de transporte, do sistema de moradia popular etc”.

Noutro livro, O PT em Movimento, de 1991, escrito especialmente para o 1° Congresso do Partido dos Trabalhadores, ele manifesta sua preocupação, em tom de cobrança, com a manutenção do compromisso revolucionário do partido. “O PT manterá a natureza de uma necessidade histórica dos trabalhadores e dos movimentos sociais radicais se preferir a ‘ocupação dos espaços’ à ótica marxista?”, pergunta.

Florestan representava o PT e o PT representava Florestan.

O ambiente dentro do PT, naqueles tempos, era de impor uma revolução como aquelas que levaram tantos países à desgraça; e essa revolução só não foi colocada em prática quando chegou ao poder porque o partido enxergou que poderia aproveitar o excelente cenário político e econômico dos primeiros anos do governo Lula para infiltrar-se de tal maneira na sociedade, na cultura, na imprensa e na economia que realmente não seria necessária revolução alguma.

Se Lula tivesse sido eleito em 1989, com toda certeza estaríamos a quase 20 anos vivendo o que a Venezuela vive hoje ou teríamos passado por mais um golpe militar.

Numa analogia simples, o Brasil atual compara-se ao cidadão que, depois de ser assaltado, agradece a Deus por não ter sofrido nenhuma violência − “Ufa, que sorte!”.

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João Cesar de Melo

João Cesar de Melo

É militante liberal/conservador com consciência libertária.

Um comentário em “A eleição de Lula em 2002: Ufa, que sorte!

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    11/09/2015 em 9:42 am
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    Excelente analise do período. Parabéns!

Fechado para comentários.

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