A educação como instrumento político
por JENIFER CASTILHO
Recentemente saiu uma matéria nos jornais com o título “Lula volta a criticar Dilma e quer educação como instrumento político”, mas eu gostaria de informar: a educação brasileira já é usada como instrumento político.
E baseada em que eu afirmo isso?
Pois bem, no meu primeiro dia de aula na faculdade de educação da UERJ, curso de pedagogia, o professor perguntou à turma para que servia a educação escolar. A turma, tímida com o primeiro dia de aula, ficou calada. Então, ele mesmo respondeu: “a educação escolar serve para formar cidadãos”. E, a partir daí, fiquei pensando que tipo de cidadão a escola brasileira queria formar, afinal de contas, a escola da época do nazismo também formava cidadãos… nazistas!
E quem melhor que o patrono da educação brasileira, Paulo Freire, para nos responder essa questão? E, por isso, fui atrás de respostas diretamente na fonte, nos livros de Paulo Freire, e o livro que venho comentar aqui é o chamado Pedagogia da Autonomia.
Essa obra tem aqueles argumentos que os simpatizantes do comunismo/socialismo adoram: o vitimismo, aquela ideia de que a culpa é sempre do outro, de um opressor que tem como objetivo de vida te oprimir e te alienar. Ele cita orgulhoso o discurso de um jovem operário: “não é o favelado que deve ter vergonha da condição de favelado, mas quem, vivendo bem e fácil, nada faz para mudar a realidade que causa a favela. Aprendi isso com a luta”. No momento em que li esse trecho, não pude me conter e pensei em que luta esse jovem estava mencionando, já que o discurso dele gira em torno de culpar quem vive bem. É o famoso discurso da inveja. De querer tirar de quem tem e não conquistar o que se quer. Outro exemplo desse vitimismo frequente em seu livro é quando ele fala que o “avanço tecnológico que ameaça milhares de mulheres e de homens de perder seu trabalha deveria corresponder a outro avança tecnológico que estivesse a serviço do atendimento das vítimas do progresso”. É claro, é horrível quando alguém é substituído por uma máquina, perdendo, assim, seu sustento, mas é igualmente ruim se essa mesma pessoa cruzar os braços, culpar os outros e não agir para voltar ao mercado de trabalho. Meu pai trabalhava na rede ferroviária na época em que Collor era o presidente; ele conta a história de que todo dia chegava uma lista de Brasília com os nomes das pessoas que deveriam ser demitidas e ele, um pai de família, ficou muito preocupado com o seu futuro, mas ao invés de culpar alguém e cruzar os braços, ele se especializou, estudou e conseguiu um emprego melhor. Um, não! Dois!
O professor Pierluigi, em seu livro ‘Aprendendo Inteligência’, dá exatamente o mesmo exemplo que Paulo Freire (de máquinas substituindo humanos), mas nos apresenta outra solução: “o mercado de trabalho não quer mais diplomas e títulos. Ele quer inteligência, cultura e criatividade. Você irá entrar num mercado de trabalho em que há cada vez mais gente e menos necessidade de mão de obra… então não estude mais, mas sim estude melhor. Estudando melhor você se tornará cada vez mais inteligente, mais criativo, mais culto… com isso, em vez de ser um ‘enviador’ de centenas de currículos, o mercado de trabalho é que vai correr atrás de você.” Percebeu a diferença entre o vitimismo e buscar a responsabilidade para si e lutar por um futuro melhor?
Mas se você toma a responsabilidade para si, segundo Paulo Freire, você está alienado e ajudando o sistema opressor. “Enquando (os oprimidos) se sentirem assim, pensarem assim e agirem assim, reforçam o poder do sistema. Se tornam coniventes da ordem desumanizants. Alfabetização, por exemplo, numa área de miséria só ganha sentido se realizada uma espécie de psicanálise histórico-político-social que vá resultando na extração da culpa indevida”, ou seja, devo tirar a responsabilidade toda de mim e colocar no outro, no sistema, em alguém. Nem mesmo a alfabetização se livra da doutrinação política. Deve-se alfabetizar falando de política para formar militantes para a revolução. Não é a toa que as universidades brasileiras estão cheias de analfabetos funcionais, de militantes e “oprimidos”.
Ele também é contraditório em algumas partes de seu texto, por exemplo, quando afirma que a educação em si é política, essa é a essência dela e, por isso, jamais se deve “lutar por essa coisa impossível, acinzentada e insossa que é a neutralidade”. Com isso, acredito que Paulo Freire não saiba o significado da palavra ‘utopia’ tanto usada em seu livro. Já que ele afirma que não se deve lutar a favor “dessa coisa impossível” que é a neutralidade, mas defende a luta por outra coisa impossível que é a utopia. Ou talvez, ele esteja usando o duplipensar descrito no livro 1984 de George Orwell, em que o indivíduo defende simultaneamente duas crenças contraditórias como corretas, igual àquele seu amigo do facebook que defende a democracia vestindo uma camisa do Che Guevara e elogiando o governo de Fidel Castro, Maduro e Hugo Chavez. O livro, da primeira página à última, fala sobre política e é claramente perceptível que ele quer usar a educação como uma arma para a revolução socialista: “a educação, especificidade humana, como um ato de intervenção no mundo, aspira a mudanças radicais na sociedade, no campo da economia, das relações humanas, da propriedade”. Ele não consegue (ou não quer?) separar a educação da política; o objetivo dele é transformar o aluno em massa, em peça no jogo revolucionário de luta de classes, como ele mesmo afirma: “a formação do professor deve ser encarada como ato político”. E tudo isso está escrito num livro que tem a palavra ‘Autonomia’ no nome.
Porém, a doutrinação e as técnicas de treino para a luta de classes não param por aí; ele afirma que os “oprimidos” devem se rebelar, que há dentro deles uma “justa ira”, pois foram traídos e enganados. Também é preciso fazer com que as posturas rebeldes se tornem posturas revolucionárias que os coloquem num processo de transformação. Agora você entende de onde a Maria do Rosário tira seus argumentos em defesa aos menores infratores? Para ela, é justificável o que eles fazem, pois estão se rebelando contra a opressão daquelas pessoas que trabalham e vivem bem. Para ela, foi natural o menor esfaquear e matar o médico morador do bairro da lagoa que estudou cinco anos de faculdade de medicina, mais alguns de residência médica, conseguiu seu emprego num hospital, ficava ”oprimindo” os pacientes salvando suas vidas e é culpado e opressor por viver bem.
Após essa doutrinação toda num livro que tem a palavra ‘autonomia’ no nome, Paulo Freire ainda dá um conselho errado aos pais. Ele afirma que uma pedagogia da autonomia deve estar centrada em e ter como objetivo estimular a tomada de decisões; ninguém é dono da autonomia dos outros. Até aí tudo bem. Mas, então, ele solta a seguinte pérola: “Por que não desafiar o filho, ainda criança, no sentido de participar da escolha da melhor hora para fazer seus deveres escolares?” Criança precisa de limites, de horários decididos pelos pais; se você deixá-la decidir, apenas mostrando quais seriam as conseqüências, ela vai escolher brincar, dormir tarde, ficar na internet e não fazer o trabalho de casa. O professor Pierluigi explica que quando o aluno assiste à aula, as informações obtidas nela vão para a memória de curto prazo e, para transferí-las para a memória de longo prazo, é preciso que ele estude a matéria dada no mesmo dia, antes de uma noite de sono, senão será tudo enviado da memória de curto prazo diretamente para a lixeira. Seu lema é: aula dada, aula estudada hoje!
Enfim, nunca conheci alguém alfabetizado pelo método de Paulo Freire, você conhece? Suas técnicas foram aplicadas no Brasil, Porto Rico, no Chile e não produziram nenhuma redução nas taxas de analfabetismo. Afinal de contas, o que esperar de alguém que afirma que “antes mesmo de ler Marx já fazia minhas as suas palavras”?
Pois bem, se ele faz das palavras de Marx as suas, eu termino esse texto fazendo das palavras de Olavo de Carvalho as minhas. “Não digo isso para criticar a nomeação póstuma desse personagem como “patrono da educação nacional”. Ao contrário: aprovo e aplaudo calorosamente a medida. Ninguém melhor que Paulo Freire pode representar o espírito da educação petista, que deu aos nossos estudantes os últimos lugares nos testes internacionais, tirou nossas universidades da lista das melhores do mundo e reduziu para um tiquinho de nada o número de citações de trabalhos acadêmicos brasileiros em revistas científicas internacionais. Quem poderia ser contra uma decisão tão coerente com as tradições pedagógicas do partido que nos governa? Sugiro até que a cerimônia de homenagem seja presidida pelo ex-ministro da Educação Fernando Haddad, aquele que escrevia “cabeçário” em vez de “cabeçalho”, e tenha como mestre de cerimônias o principal teórico do Partido dos Trabalhadores, dr. Emir Sader, que escreve Getúlio com LH. A não ser que prefiram chamar logo, para alguma dessas funções, a própria presidenta Dilma Roussef, aquela que não conseguia lembrar o título do seu livro preferido, ou o ex-presidente Lula, que não lê livros porque lhe dão dor de cabeça.”