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Lulla, o Economista

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COLABORADORES

11.04.08

 
 

Lulla, o Economista

 
 

RODRIGO CONSTANTINO*

 
 

“A cura da inflação, em suma, é parar de inflacionar;

é tão simples quanto isso.” ___ (Henry Hazlitt

 
 

O presidente Lulla deu uma de economista. Afirmou que o culpado pela pressão inflacionária no Brasil são os famintos estrangeiros, os pobres asiáticos que começaram a comer mais. Tal afirmação denota desconhecimento econômico, mas podemos perdoar o Presidente, pois muitos economistas formados repetem este tipo de falácia. Quem não se lembra que o chuchu já foi acusado pela inflação brasileira? Todos eles poderiam evitar esse constrangimento se tivessem lido os economistas da Escola Austríaca**. Na verdade, nem precisamos exigir tanto: bastava ter escutado Milton Friedman quando este declarou, de forma direta, que a inflação é um fenômeno monetário.

Não é realmente tão complicado entender o motivo. Vamos pensar no orçamento de um indivíduo. Ele conta, supomos, com uma renda de 100 unidades monetárias para seus gastos mensais. Digamos que ele gasta 20 dessas unidades com um produto. De repente, por conta de um choque de oferta, que torna o bem mais escasso, o preço desse produto dispara, dobrando. Isso gera inflação? Bem, em primeiro lugar é preciso definir inflação. E a definição aceita seria um aumento generalizado dos preços ou, em outras palavras, um nível maior geral nos preços. Mas com essa definição, podemos questionar: como o aumento de preço de um produto pode gerar aumento geral de preços?

Alguns podem arriscar que existe um efeito de indexação, ou que este produto é um insumo fundamental na economia e eleva o custo de muitos produtores, que terão que reajustar seus preços também. Mas tudo isso é falácia econômica. Essas pessoas ignoram que o indivíduo do exemplo, ao ter que gastar 40 unidades em vez de 20, para manter o mesmo patamar de consumo do produto em questão, terá que reduzir o consumo de outros bens. Afinal de contas, ele não produz unidades monetárias do nada. Ele tem que economizar em outros setores para manter o consumo do bem que custa mais caro, por conta do choque de oferta. Mas ora, quando a demanda pelos demais produtos é reduzida, isso pressiona seus preços para baixo. Logo, o que ocorre não pode ser um aumento geral de preços, mas sim uma mudança relativa nos preços dos diferentes produtos.

Isso é verdade para o exemplo do indivíduo, e também seria verdade para um país, que não passa do somatório de indivíduos. Partindo da análise micro, podemos evitar muitos enganos de quem foca apenas no macro, ignorando o funcionamento real da economia. Eu disse que seria verdade, pois no fundo há uma grande diferença: o governo. Sim, este ente, diferente dos indivíduos, pode produzir unidades monetárias do nada. Basta colocar a máquina para rodar, imprimindo moeda. Em suma, ele pode monetizar a economia, tentando compensar a queda necessária nos demais preços, por conta do choque de oferta do produto importante. Com mais unidades monetárias em circulação, cada indivíduo pode pagar mais caro pelos outros produtos. Mas notem: isso é apenas uma ilusão de riqueza. Não houve criação de riqueza nova, pois esta depende de ganhos de produtividade, não de mais unidades monetárias em circulação. Não é possível criar riqueza ex nihilo, e ocorre apenas uma sensação de maior riqueza. No entanto, com o tempo, tudo passará a custar mais unidades monetárias, sem aumento de produção, o que significa justamente dizer que há inflação. A unidade monetária vale menos, compra menos produtos. O preço da moeda funciona como o de qualquer commoditiy: se há mais oferta, tudo mais constante, ela deve valer menos.

O bom velhinho de Chicago acertou mais esta, só que foi ignorado por muitos, como quase sempre. Foi ignorado por Lulla também, como podemos ver. Mas isso não é novidade: Lulla ignora muitas coisas. E nessa mania de ignorância, resolveu culpar a fome dos chineses pela nossa inflação. Nada mais falso. Se mais gente come mais, puxando o preço dos alimentos para cima, temos basicamente apenas três opções: reduzir o consumo de outros bens, para manter o mesmo patamar de consumo desses alimentos; reduzir o consumo desses alimentos, gastando o mesmo valor monetário, mas obtendo menor quantidade deles; ou investir na produtividade, através de novas tecnologias e educação do capital humano, para extrair mais recursos do mesmo esforço. O problema é que esta última alternativa, sem dúvida a melhor, exige um ambiente bem menos hostil que o atual para o empreendedorismo agrícola. Em vez de máquinas modernas, temos o MST, com pás, enxadas e muita violência, tudo isso financiado pelo próprio governo Lulla. Assim não tem jeito mesmo!

 
 

** O excelente artigo de Henry Hazlitt, What You Should Know About Inflation, mostra o prisma austríaco sobre essa questão: http://www.mises.org/story/2914

 
 

* Economista, articulista, acaba de lançar ‘UMA LUZ NA ESCURIDÃO – as idéias de grandes pensadores da humanidade’

 
 

 
 

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Bernardo Santoro

Bernardo Santoro

Mestre em Teoria e Filosofia do Direito (UERJ), Mestrando em Economia (Universidad Francisco Marroquín) e Pós-Graduado em Economia (UERJ). Professor de Economia Política das Faculdades de Direito da UERJ e da UFRJ. Advogado e Diretor-Executivo do Instituto Liberal.

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