Os liberais deveriam apoiar ou fazer oposição a Trump?
Passados alguns meses do impeachment de Dilma, parece que o brasileiro estava sentindo falta de um novo Fla x Flu. E ele está acontecendo novamente, depois da eleição de Donald Trump nos Estados Unidos. As torcidas organizadas andam tão fanáticas que dispensam qualquer pensamento crítico. Na TV, nos blogs e nas redes sociais, o que vale é o nós contra eles. Para uns, o novo presidente só tem defeitos. Para outros, apenas virtudes. Em resumo, o jogo atualmente jogado é o seguinte: idolatria x demonização.
Nas torcidas de fanáticos, de um lado e de outro, o que não faltam são falácias. A mais comum delas é aquela denominada “cherry picking”, que consiste em fazer escolhas seletivas entre evidências e dados concorrentes, de modo a enfatizar os resultados que suportam uma determinada posição, ignorando ou descartando quaisquer achados que não apoiam o seu lado.
Jeffrey Tucker escreve um ótimo artigo a respeito desse novo Fla x Flu, no site da FEE. Tucker começa nos lembrando que a tentativa de colocar nossos cérebros na prateleira, com o objetivo de obter vantagem política, tem uma longa tradição filosófica. Ele começa citando, evidentemente, os marxistas, “que classificam as pessoas como opressores ou oprimidos, baseados na identidade de classe – e … aplicam essas designações ao ponto de absurdo, incluindo uma enorme variedade de características, como raça, sexo, religião, capacidade física e identidade de gênero. Para eles, a vida não existe, senão em permanente conflito.”
Outro expoente dessa corrente filosófica, segundo Tucker, é Carl Schimitt, o principal filósofo do Nacional-socialismo. “Para Schmitt, a política é o chamado mais elevado da pessoa humana, e isso sempre significa separar as pessoas de entre amigos e inimigos. [Não por acaso] ele desprezava o liberalismo clássico e a ciência econômica, precisamente pela razão de que tanto um quanto outra tentam desfazer o dualismo amigo / inimigo, substituindo-o pelo comércio, pela cooperação e formas de competição em que todo mundo ganha.” Em resumo, se não há ganhadores e perdedores, não interessa.
Para os liberais o problema é particularmente grave na medida em que a agenda política até então divulgada por Donald Trump tem pontos absolutamente discrepantes do ponto-de-vista liberal. De um lado, o novo presidente defende políticas protecionistas, tanto no comércio quanto na imigração, aumento nas despesas de infra-estrutura e incentivo a empresas locais como forma de incrementar a economia. Nada muito diferente da famigerada “Nova Matriz Econômica” de Dilma Rousseff ou da velha política de substituição de importações , tão cara aos economistas da Unicamp e congêneres neo-keynesianos.
Ao mesmo tempo, Trump tem algumas propostas muito interessantes sobre desregulamentação, reduções de impostos, redução da burocracia, educação e saúde, entre elas o fim do “Obamacare”. Propostas essas caras a qualquer amante da liberdade. Na melhor das hipóteses, portanto, a agenda de Trump é muito confusa quando analisada pelo olhar liberal.
Assim, Tucker encerra o oportuno artigo com uma sugestão valiosa:
“Não devemos ficar obcecados com a questão de saber se devemos apoiar Trump ou condená-lo, nos tornarmos seus fãs ou fazer-lhe oposição, defendê-lo contra os inimigos ou nos tornarmos, nós mesmos, seus inimigos.”
“Há outra abordagem possível. Não é fácil em um ambiente político extremamente partidário, mas é o correto. Permanecer independente, pensar claramente, observar cuidadosamente, aderir a princípios, falar sem medo, elogiar as coisas boas e criticar as coisas ruins, dizer a verdade, como nós a enxergamos, e estar sempre vigilante na defesa dos direitos e das liberdades. Ser firme e honesto nestes tempos é o auge da virtude política.”
Fica a sugestão.