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O verdadeiro jogo de soma zero

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Por conta das eleições, o assunto passou meio despercebido e pouca gente se deu conta de que Pindorama acordou, no último domingo, um pouco mais desigual.

O sorteio do concurso 1.647 da Mega-Sena, realizado neste sábado (25), teve um único bilhete ganhador, que levará para casa R$ 61 milhões. A aposta vencedora foi feita em Tobias Barreto, município do estado de Sergipe, que tem cerca de 48 mil habitantes.

De acordo com a Caixa Econômica Federal (CEF), com o valor do prêmio, o ganhador poderá comprar 50 imóveis de R$ 1,2 milhão cada, ou ainda uma frota de 400 carros de luxo. Se quiser investir, aplicando o prêmio de R$ 60 milhões na poupança, poderá se aposentar com uma renda de R$ 358,5 mil por mês.

Provavelmente, o ganhador será, de agora em diante, o homem mais rico de Tobias Barreto.  Além disso, a desigualdade de renda e riqueza daquele pequeno município sergipano aumentará de forma exponencial, tão logo o sortudo resgate o prêmio a que tem direito.

Eis aí um daqueles paradoxos difíceis de explicar.  Como é que um governo, que tem como uma de suas principais metas a redução das desigualdades, continua patrocinando (de forma despudoradamente monopolista, diga-se de passagem), uma atividade cuja principal conseqüência é o enriquecimento de uns poucos a custa de muitos.

Será que exagero?  Não creio.  De todas as queixas contra o capitalismo, se há uma que soa verdadeira, do ponto de vista da lógica mais elementar, esta é o enriquecimento proveniente dos jogos de azar, especialmente as loterias. Se não, vejamos: uma só pessoa tornou-se, do dia para a noite, extremamente rica. Toda esta riqueza foi obtida em detrimento de milhões de perdedores – a grande maioria dos quais tem rendimentos abaixo da média, e muitos (talvez a maioria) são realmente pobres. Por outro lado, do novo milionário não foi exigido qualquer mérito para conseguir sua recompensa, além da mais pura sorte.

Em resumo, num único evento, promovendo um jogo de soma zero, o governo produziu mais desigualdade do que qualquer empreendimento privado jamais poderia produzir, em tempo tão curto, atuando no livre mercado.

Como bem nos lembra John Goodman, para aqueles que realmente se importam com a injustiça da desigualdade, as loterias têm um valor heurístico estupendo. Por exemplo, se você é daquele tipo de pessoa que acredita que os ricos não merecem suas riquezas, que essas riquezas são, invariavelmente, resultado de sorte e azar; ou naquela baboseira segundo a qual toda renda é gerada coletivamente, e não individualmente.  Ou seja, se você é daqueles inclinados a acreditar que a própria vida é uma grande loteria, então um prêmio milionário de loteria deveria representar a suprema injustiça.

Afinal de contas, esse sortudo não fez nada de especial. Na verdade, ele fez o que todo mundo fez: apenas comprou um bilhete. Seus ganhos imensos são, por definição, unicamente resultado da sorte e do acaso. Ao contrário do que ocorre com as trocas no mercado, tão vilipendiadas pelos socialistas, os ganhos do apostador sergipano só foram possíveis porque todos os demais jogadores, inclusive muitos de nós, perderam suas apostas.

Em resumo, os milionários da loteria enriquecem precisamente porque todos os outros se tornam um pouco mais pobres.  Malgrado tudo isso, eu nunca vi nenhum esquerdista reclamar das loterias, especialmente das loterias estatais.  Vai entender essa gente…

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

Um comentário em “O verdadeiro jogo de soma zero

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    28/10/2014 em 2:35 pm
    Permalink

    Eu nunca tinha parado para pensar nisso, amigo. Muito obrigada.

Fechado para comentários.

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